Disfagia: saiba como tratar a dificuldade para engolir – 26/07/2025 – Equilíbrio e Saúde

É possível notar que muitos idosos possuem dificuldade para engolir, um distúrbio chamado de disfagia. Embora seja frequente nessa faixa etária, especialistas alertam que a condição não deve ser naturalizada como consequência inevitável do envelhecimento.

A disfagia é uma alteração que acontece no transporte de alimentos, líquidos ou saliva entre a boca e o estômago. A condição pode trazer risco para a pessoa, seja na nutrição, na hidratação, ao provocar engasgos ou na qualidade de vida em geral.

A função de engolir é complexa e exige coordenação entre mais de 30 músculos da boca, garganta e do esôfago, além do sistema nervoso central e periférico, explica Francelise Pivetta Roque, fonoaudióloga e especialista em gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). “A deglutição exige um movimento refinado, com força, coordenação e timing adequados”, diz.

O engolir acontece em três fases:

  • Boca: mastigação e preparo do alimento
  • Faringe: passagem do alimento pela garganta
  • Esôfago: transporte até o estômago

O que causa a disfagia?

Diversos quadros podem alterar a função de deglutir. A alteração sempre é consequência de uma doença ou síndrome de base. Entre as causas comuns da disfagia estão doenças neurológicas, como AVC (acidente vascular cerebral ), respiratórias, musculares, mecânicas (como câncer de cabeça e pescoço) e tratamentos como radioterapia.

Essas doenças de base acabam sendo mais comuns em idosos, o que faz com que eles tenham maior incidência de disfagia. Parkinson e Alzheimer, que surgem principalmente na velhice, podem afetar esse processo por comprometerem o controle neurológico do movimento.

No Parkinson, há prejuízos na programação motora e na sensibilidade do ato de engolir. Já no Alzheimer, o problema surge mais com alterações cognitivas, como não reconhecer que é hora de comer ou não manter atenção no ato de engolir.

Outra razão envolve a sarcopenia, perda de massa muscular natural que também atinge a musculatura responsável pela deglutição.

Um fator de risco é a saúde bucal precária que prejudica a mastigação.

Juliana Venites, fonoaudióloga e especialista em gerontologia pela SBGG, ressalta outro aspecto: a presbifagia, o envelhecimento do ato de engolir. “Assim como há o envelhecimento da audição e da visão, existe também o envelhecimento da alimentação. Chamamos isso de presbifagia”, diz.

Disfagia é natural do envelhecimento

De acordo com Venites, cerca de 30% dos idosos saudáveis têm queixas para engolir saliva, comprimidos alimentos secos ou tossem ao beber água. Essas alterações costumam ser subestimadas, segundo ela.

“É muito importante diferenciar, porque existe uma confusão de algumas pessoas acreditarem que o processo natural de envelhecimento é causa da disfagia, e não é”, afirma Pivetta Roque. Ou seja, a disfagia ocorre em todas as idades, não é uma consequência natural da velhice, mas aumenta o risco por outras doenças.

Essa crença, afirma a fonoaudióloga, causa subdiagnóstico e falta de tratamento. Muitas vezes, nem os profissionais de saúde reconhecem a disfagia como uma condição tratável nos idosos. Além disso, o preconceito etário (etarismo ou idadismo) leva a normalizar sintomas que deveriam ser investigados. “Ainda atribuímos ao envelhecimento quadros que, na verdade, são condições que precisam ser avaliadas e tratadas.”

Carlos André Uehara, geriatra e gerente médico do Hospital Nipo-Brasileiro (HNipo), afirma que envelhecer não é sinônimo de doença. “Não existe nada que seja normal para a idade. É comum, mas não é normal”, diz.

Sinais de alerta para disfagia

Entre as atitudes que chamam a atenção para a doença, estão:

  • Tosse ou engasgos ao engolir saliva, líquidos ou alimentos
  • Sensação de alimento parado no pescoço ou na boca
  • Saída de alimento ou líquido pelo nariz ou boca
  • Pneumonias por aspiração frequentes
  • Infecções pulmonares frequentes
  • Perda de peso sem motivo aparente
  • Mudanças alimentares

Venites, a fonoaudióloga, enfatiza a questão das mudanças alimentares, quando o próprio idoso atribui as mudanças a gostos pessoais. “Trocar o pão francês pela bisnaguinha nem sempre é preferência, pode ser dificuldade.”

O diagnóstico envolve anamnese (entrevista detalhada sobre história clínica, hábitos e estilo de vida), avaliação das estruturas da boca e garganta e testes funcionais com alimentos de diferentes consistências.

A chave é a identificação precoce dos sintomas e o encaminhamento para avaliação.

Tratamento da disfagia

O tratamento da disfagia envolve profissionais de diferentes áreas, como o geriatra e o otorrinolaringologista, sendo a fonoaudiologia o eixo principal.

O tratamento pode ser dividido em estratégias compensatórias, que envolvem adaptar consistência da alimentação, postura e escolha de via (se oral ou sonda), e estratégias reabilitadoras, que envolvem exercícios motores, treino funcional e estimulação sensorial.

Muitas vezes, os dois tipos são combinados para garantir segurança, conforto, qualidade de vida e evitar desnutrição, desidratação e pneumonia aspirativa.

É preciso fazer uma modificação da consistência dos alimentos, deixando-os mais amolecidos. Venites ressalta que a disfagia causa perda de autonomia e do prazer de comer, uma vez que a alimentação deixa de ser escolha e vira prescrição. É aí que entra a orientação para o paciente e a família, que envolvem manter a postura correta ao comer, velocidade e estratégias para a socialização.

A fonoaudióloga diz atuar para minimizar o isolamento do paciente, sugerindo pratos adaptados que integrem a pessoa à refeição familiar. “Esses encontros sociais são permeados por comida. A pessoa com disfagia sente uma segregação”, afirma.

A disfagia, explica Pivetta Roque, nem sempre é reversível, mas é possível controlar e melhorar a função de engolir. “Nosso conceito atual de saúde está pautado em funcionalidade, não apenas na ausência de doença”, diz.

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