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Steven Spielberg relembra os 50 anos do filme ‘Tubarão’ – 23/09/2025 – Ilustrada

Quando um jovem diretor chamado Steven Spielberg decidiu passar o verão de 1974 em Martha’s Vineyard, uma elegante ilha turística na costa de Massachusetts, não esperava que a viagem quase lhe custasse a carreira.

Idealista, ele acreditava que poderia rodar seu terceiro filme, uma adaptação do best-seller de Peter Benchley, “Tubarão”, em dois meses. No fim, levou quase cinco. Achou que nunca mais faria outro filme na vida.

“Eu realmente não estava preparado para a quantidade de obstáculos que surgiram pelo caminho, começando pela natureza”, lembrou Spielberg durante a abertura para a imprensa de uma grande exposição montada para celebrar os 50 anos de “Tubarão”, em Los Angeles.

“Minha arrogância foi achar que poderíamos levar uma equipe de Hollywood por 20 quilômetros mar adentro no Atlântico e filmar um longa inteiro com um tubarão mecânico. Achei que seria tranquilo.”

Nada parecia dar certo. O tubarão não funcionava direito, o tempo estava péssimo, as correntes levavam os barcos para longe do curso e outros barcos a vela invadiam o enquadramento, paralisando as filmagens por horas, além do enjoo, que era generalizado.

“Nunca vi tanto vômito na minha vida”, diz o diretor. “Por algum motivo, nunca fiquei enjoado. Acho que foi porque eu tinha o peso dessa produção nos meus ombros e não tinha tempo para ficar doente.”

Durante as filmagens, Spielberg passou a acreditar que nunca mais faria outro filme. Ele se lembra das ameaças dos executivos do estúdio —”Você nunca mais vai ser contratado”, “este filme está muito acima do orçamento, e muito atrasado”, “você é um verdadeiro risco como diretor”.

“Na verdade, várias vezes me ofereceram a chance de abandonar o filme de forma elegante. Não para ser substituído por outro diretor, mas para que o projeto fosse encerrado.”

No fim, tudo deu certo. “Tubarão” se tornou o filme de maior bilheteria da história, pelo menos até “Star Wars” estrear em 1977. O longa mudou para sempre a forma de pensar dos estúdios de Hollywood, que passaram a investir em filmes simples e populares, lançados no verão americano com campanhas massivas de divulgação.

Agora, aos 78 anos, Spielberg ajuda a celebrar o aniversário de meio século do longa com “Jaws: The Exhibition”, no Academy Museum of Motion Pictures em Los Angeles, o repositório oficial de tudo relacionado ao Oscar.

Distribuída por seis galerias, a exposição, que vai até julho de 2026, segue o arco narrativo do filme, ao mesmo tempo em que conta os bastidores da produção. De cara, o visitante encontra a grande boia à qual a azarada nadadora Chrissie Watkins se agarrou brevemente antes de ser atacada pelo predador invisível nos primeiros minutos da trama.

“Quem poderia imaginar que alguém levaria essa boia para casa, ficaria com ela por 50 anos e depois a emprestaria para a Academia?”, diz Spielberg. “Eu não tinha ideia.”

A boia pertence a um colecionador de “Tubarão”, que resgatou o objeto já bastante enferrujado de um quintal em Martha’s Vineyard há quase 40 anos e o restaurou. Colecionadores respondem por cerca de metade da exposição. O restante vem da coleção do próprio Spielberg e de outros membros da produção.

Também estão presentes uma reprodução do barco de pesca Orca, figurinos, diversos objetos de cenas e alguns roteiros anotados, mostrando como o projeto ainda estava em andamento mesmo durante as filmagens.

Das três estatuetas do Oscar levadas por “Tubarão”, apenas o prêmio da montadora Verna Fields está em exibição. O filme foi premiado pela trilha sonora de John Williams e pela edição de som, mas perdeu a principal categoria para “Um Estranho no Ninho”.

“Cada sala mostra nos mínimos detalhes como esse filme foi feito e prova que o cinema é, de fato, uma arte colaborativa. Não há espaço para autores isolados”, diz Spielberg. “É uma forma de arte que só sobrevive quando se reúne as melhores pessoas nas funções certas. Tenho muito orgulho de ter feito parte disso.”

Vale lembrar que “Tubarão” é um filme de suspense. Um dos destaques mais assustadores da exposição fica em um canto isolado com um aviso: “Este material contém imagens violentas que podem ser perturbadoras para algumas pessoas”. É a cabeça do capitão Ben Gardner, ou melhor, o modelo usado na cena do barco submerso.

Na versão original, a cena mostrava apenas o barco, o que deixou desapontado o público da sessão de teste do filme. Spielberg sabia que precisava intensificar o terror e usou seu próprio dinheiro para recriar a cabeça na piscina da montadora Verna Fields, em Los Angeles. Quando o mergulhador investiga a mordida gigante no casco, a cabeça de Gardner salta das sombras, com vermes devorando seus olhos.

Apesar das dores da produção, Spielberg tem enorme orgulho do trabalho. Depois de “Tubarão”, ele ganhou carta-branca para escolher seu próximo projeto. Decidiu por um filme de OVNIs que ninguém em Hollywood queria fazer. Nasceu “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, que abriu caminho para “E.T. – O Extraterrestre” e para dezenas de outros blockbusters.

Tudo graças a um grande peixe e a uma cabeça decepada.

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