O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse neste domingo (16) que Washington pode abrir negociações com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. O autocrata enfrenta pressão crescente do governo do republicano em meio a grande mobilização militar americana no Caribe.
Este foi um dos primeiros sinais para um possível caminho de redução da tensão na região, enquanto os EUA continuam a conduzir uma campanha de ataques contra embarcações supostamente ligadas ao tráfico de drogas próximas da costa venezuelana e no oceano Pacífico.
“Podemos ter algumas discussões com Maduro, e veremos como isso vai acabar”, disse Trump a repórteres no domingo, em West Palm Beach, na Flórida, antes de embarcar em um voo de volta a Washington. “Eles gostariam de conversar.”
Trump não deu mais detalhes sobre a possibilidade de negociações com Maduro, a quem os EUA acusaram de ter ligações com o tráfico de drogas e de liderar um cartel, o que o ditador nega.
Perguntado sobre o que significa que Maduro estaria interessado em conversar, Trump, que havia cancelado o engajamento diplomático com a Venezuela no início de outubro, disse que não sabia, mas acrescentou: “Eu converso com qualquer um.”
Trump sugeriu, no entanto, que manteria a pressão sobre Maduro, que está no poder desde 2013 e não é reconhecido pelos EUA como presidente legítimo da Venezuela.
“Estamos impedindo traficantes de drogas e drogas de entrarem em nosso país”, disse Trump.
Os comentários do presidente americano sobre possíveis negociações ocorrem enquanto o Pentágono anunciava outro ataque a uma suposta embarcação de drogas no Pacífico, no qual disse que três pessoas foram mortas —o governo americano afirma que eram narcoterroristas, sem, contudo, mostrar evidências além de um vídeo gravado à distância do ataque sendo feito, como tem sido a praxe desses anúncios.
Este foi o 21º ataque conhecido a embarcações pelo Exército americano desde o início de setembro. Os ataques mataram ao menos 82 pessoas.
O governo Trump afirma ter a autoridade legal para tais bombardeios. O Departamento de Justiça, inclusive, forneceu um parecer jurídico que justifica os ataques e que argumenta que os militares que realizam as operações estão imunes a processos.
Altos funcionários do governo Trump realizaram três reuniões na Casa Branca na semana passada para discutir opções de possíveis operações militares contra a Venezuela, incluindo ataques terrestres dentro do país, disseram autoridades, falando sob condição de anonimato, segundo a agência Reuters.
“Meio que já tomei minha decisão“, afirmou Trump na sexta-feira (14) sobre a Venezuela, sugerindo que alguma ação poderia ser anunciada em breve.
O Ministério das Comunicações venezuelano não respondeu a um pedido de comentário feito pela Reuters sobre as últimas declarações de Trump.
Mais cedo no domingo, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, disse que os EUA designariam uma suposta organização de drogas, o Cartel de los Soles, como uma “organização terrorista estrangeira”, o que torna crime para qualquer pessoa nos EUA fornecer apoio material ao grupo.
Autoridades americanas acusaram o Cartel de los Soles de trabalhar com a gangue venezuelana Tren de Aragua, que Washington já havia designado como organização terrorista estrangeira, para enviar drogas aos EUA. A gestão Trump acusa Maduro de liderar o Cartel de Los Soles, o que Maduro também nega.
Questionado se o anúncio de Rubio significa que os EUA poderiam atacar os ativos e infraestrutura de Maduro na Venezuela, Trump disse: “Isso nos permite fazer isso, mas não dissemos que vamos fazê-lo.”
O maior e mais poderoso porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford, com milhares de militares e dezenas de aviões de guerra a bordo, e seu grupo de ataque foram mobilizados para águas caribenhas. O movimento do porta-aviões se soma a oito navios de guerra, um submarino nuclear e aeronaves F-35 já enviados para a região por Washington.
Grupos de direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional, condenaram os ataques a embarcações e os classificaram como execuções ilegais de civis. Alguns aliados dos EUA expressaram preocupações crescentes de que Washington possa estar violando o direito internacional.
A Casa Branca argumenta que os EUA estão em guerra com cartéis e que tribunais não são necessários em conflitos armados para dar aval às ações; ao mesmo tempo, acusa o regime venezuelano de estar em conluio com traficantes de drogas, o que Caracas rejeita. A Venezuela está preparando suas defesas caso os EUA ataquem.
Uma pesquisa Reuters/Ipsos publicada na sexta-feira descobriu que apenas 35% dos entrevistados disseram apoiar o uso da força militar dos EUA na Venezuela para reduzir o fluxo de drogas ilegais para os EUA.



