O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, está explorando propostas para abolir algumas taxas de visto para talentos globais em um momento em que os Estados Unidos se moveram bruscamente na direção oposta, ou seja, do aumento de restrições.
O “grupo de trabalho de talentos globais” do premiê trabalha em ideias para atrair ao Reino Unido os melhores cientistas, acadêmicos e especialistas digitais do mundo, buscando estimular o crescimento econômico do país.
Uma opção considerada pelo governo trabalhista é a abolição de taxas de visto para profissionais de alto nível, segundo pessoas informadas sobre as discussões no gabinete e no Tesouro.
“Estamos falando do tipo de pessoas que frequentaram as cinco melhores universidades do mundo ou ganharam prêmios prestigiosos”, disse um funcionário. “Estamos considerando a ideia de reduzir os custos a zero.”
As reformas estavam sendo discutidas no governo e no Tesouro antes da gestão de Donald Trump anunciar, na semana passada, que aumentaria para US$ 100 mil (R$ 534 mil) a taxa para solicitação de um visto H-1B, do qual dependem empresas de tecnologia americanas.
Mas uma pessoa envolvida nas discussões britânicas disse que a decisão de Trump havia dado um impulso àqueles que desejam reformar o sistema de vistos de alto nível do Reino Unido antes da definição do orçamento, em 26 de novembro.
As discussões estão sendo conduzidas pelo grupo de trabalho de talentos globais, presidido por Varun Chandra, conselheiro de negócios de Starmer, e Lord Patrick Vallance, ministro da Ciência.
Funcionários do governo disseram que a ideia de reduzir os custos de visto ainda não estava sendo ativamente discutida no Ministério do Interior, que tem como missão reduzir a migração líquida, mas que as rotas de vistos de imigração estavam sob revisão.
Outro funcionário britânico disse que o atual sistema de vistos para talentos globais era um “pesadelo burocrático”. Segundo esse funcionário, a ideia não era acabar com a missão de reduzir a migração líquida, mas de atrair os melhores talentos para o Reino unido.
Enquanto isso, funcionários do governo disseram que a ministra britânica de Finanças, Rachel Reeves, estava analisando o sistema tributário antes da definição do orçamento para identificar onde há incentivos contrários à atração de talentos globais.
As recentes reformas da ministra no sistema tributário para não-domiciliados no país foram responsabilizadas pela saída de alguns indivíduos ricos do Reino Unido, embora dados fiscais provisórios sugiram que o êxodo não foi tão grande quanto se temia.
O visto de talento global do Reino Unido, introduzido em 2020, custa £ 766 (R$ 5.500) para solicitar, com parceiros e filhos pagando a mesma taxa. Uma taxa anual de tarifa de saúde de £1.035 (R$ 7.460) é geralmente aplicada a cada pessoa que solicita o visto.
Esse caminho para obter visto não exige vínculos com um empregador e oferece uma rota acelerada para se estabelecer no Reino Unido.
O visto é destinado a pessoas eminentes em ciência, engenharia, humanidades, medicina, tecnologia digital ou artes e cultura. O Ministério do Interior disse que os candidatos bem-sucedidos são “líderes, ou têm potencial para ser líderes, em seu campo, conforme determinado por um órgão de endosso”.
No ano encerrado em junho de 2023, houve um aumento de 76% no número de vistos de talento global concedidos, elevando o total para 3.901.
Reeves encarregou funcionários de elaborar reformas pró-crescimento destinadas a aliviar barreiras regulatórias e fortalecer investimentos estrangeiros, enquanto enfrenta a possibilidade de uma forte redução nas perspectivas pelo Escritório de Responsabilidade Orçamentária.
A ministra também está revisando mudanças no imposto sobre herança que afetam não-domiciliados antes da definição do orçamento, segundo funcionários do governo.
Em seu documento oficial sobre imigração no início deste ano, o Partido Trabalhista de Starmer comprometeu-se a “aumentar o número de pessoas que chegam em nossas rotas de talentos muito elevados”, com caminhos mais rápidos para pessoas que poderiam “impulsionar” o crescimento em indústrias estratégicas.
As solicitações de vistos para trabalhadores qualificados já caíram drasticamente como resultado de mudanças que aumentaram os requisitos de habilidades e salários, bem como aumentos acentuados nas taxas.
Jamie Arrowsmith, diretor da Universities UK International, afirmou que a principal iniciativa que o governo tomou até agora para atrair cientistas americanos —estabelecendo um fundo global de talentos de £ 50 milhões, disponível para 12 instituições do Reino Unido— era “relativamente modesta” em termos de escala.
O governo também precisava analisar os custos de imigração para pesquisadores e garantir que fossem globalmente competitivos, acrescentou, dizendo: “Em última análise, para atrair talentos globais, precisamos poder oferecer financiamento e autonomia e tornar a transição o mais suave possível.”
Um porta-voz do Ministério do Interior disse: “Nossas rotas de talentos globais atraem e retêm talentos altamente qualificados, particularmente em ciência, pesquisa e tecnologia, para manter o status do Reino Unido como um centro internacional líder para talentos emergentes e inovação.”