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A lógica conservadora por trás da suspensão de Kimmel – 22/09/2025 – Ross Douthat

Ao ver Jimmy Kimmel ter seu programa suspenso com, digamos, o forte incentivo do presidente da Comissão Federal de Comunicações, na hora alguns conservadores fizeram uma analogia com a pressão que a Casa Branca de Biden usou para incentivar as empresas de mídia social a praticar várias formas de censura da Covid-19.

Isso, por sua vez, suscitou uma questão interessante do escritor progressista Derek Thompson. Mesmo admitindo que os aliados de Biden possam ter agido de forma inadequada, escreveu ele, o seu desejo de policiar o discurso sobre a pandemia refletia um desejo de servir o interesse público, evitando mortes desnecessárias. Já a suspensão de Kimmel, argumentou ele, parece puro partidarismo: “Não ouvi ninguém nem sequer fingir que há um princípio mais profundo em jogo aqui”.

Acho que muitos conservadores veem, sim, um propósito cívico nisso, e aceito o desafio de Thompson para tentar articulá-lo.

O argumento começa com a suposição de que as principais instituições culturais dos EUA —redes de televisão, estúdios de cinema, grandes universidades— são empresas privadas, mas também um tipo de patrimônio público, com obrigações cívicas além das comerciais. (Nesse ponto, pelo menos, muitos liberais concordariam.)

É possível ser um bom gestor com consciência cívica sem ser perfeitamente neutro em termos políticos. A maioria dessas instituições sempre foi majoritariamente progressista (pelo menos desde os anos 1960), e embora isso sempre tenha sido motivo de queixa conservadora, a direita aprendeu a conviver com isso —e até mesmo a lucrar, por meio dos programas de rádio e das alternativas da Fox News.

Da perspectiva conservadora, porém, a natureza da governança mudou na década de 2010. Houve uma mudança na cultura progressista, uma crescente politização, uma guinada para a esquerda. Essa mudança foi mediada por conflitos geracionais e novas forças tecnológicas e, em seguida, abraçada por uma série de instituições, da academia a Hollywood e ao Vale do Silício, que decidiram coletivamente impor uma ortodoxia de esquerda emergente —por meio de demissões de alto perfil, novos códigos de conduta e declarações de lealdade ideológica como requisito para o emprego acadêmico.

A televisão noturna foi um indicador interessante. Escrevi sobre isso na véspera das eleições de 2016, descrevendo a estranheza de assistir a uma zona cultural que costumava ser bastante apolítica, sendo povoada de repente por uma série de comediantes cada vez mais partidários, entre eles Kimmel, cada um oferecendo uma variação diferente de um progressismo intimidador.

Não foi o mercado de ideias ou os imperativos do comércio que impulsionaram essa mudança: foi a dinâmica interna da cultura de elite e uma falha no governo por parte das pessoas no topo. Essa falha levou primeiro a um longo período de censura branda na vida americana e, em seguida, à revolta política contra o progressismo cultural. A vitória surpreendente do presidente Donald Trump em 2016 foi um prenúncio; seu retorno ao poder em 2024 foi o ponto culminante.

Na sequência disso, minha impressão é que muitos administradores de instituições culturais estão cientes de que têm um problema, que perderam a confiança do público ou participação no mercado, ou ambos.

Os dirigentes da Ivy League gostariam de ter mais diversidade ideológica e credibilidade nacional. Os chefes das grandes redes gostariam de se livrar do modelo falido de programas de TV noturnos. Os executivos da Disney gostariam de descobrir como voltar a produzir entretenimento unificador.

Mas eles ainda estão lidando com pressões ideológicas internas —portanto, para poderem fazer reformas, precisam de pressão externa para fazer a coisa certa.

Este é, então, o discutível objetivo cívico da guerra cultural do governo Trump. Às vezes, ela assume uma forma sistemática, como os esforços para induzir as universidades a mudar a forma como admitem, contratam e lidam com questões relacionadas à liberdade de expressão.

Às vezes, aproveita-se de alvos oportunos, como um apresentador de programa noturno que ataca de forma bizarra e ofensiva a “gangue Maga” por reconhecer que o homem que assassinou um ícone conservador era provavelmente de esquerda. Mas, em cada caso, o objetivo é dar às instituições culturais uma razão ou uma desculpa para voltar ao grande centro americano.

Acho que essa perspectiva tem mérito, mas também tem um problema crucial: o presidente dos Estados Unidos não a compartilha. Ou melhor, ele ficaria feliz em ir além, em direção a um mundo onde a maioria das instituições culturais fosse subserviente aos seus interesses pessoais, à sua reputação, ao seu amor-próprio.

Onde os jornalistas fossem culpados de “discurso de ódio” se fossem maldosos com ele. Onde este jornal tivesse que pagar a ele uma indenização altíssima por subestimar sua celebridade e genialidade. Onde a guerra cultural fosse uma forma de empoderar e enriquecer seus amigos.

Certos argumentos conservadores hoje giram em torno dessa realidade —em torno das coisas que o próprio Trump diz, dos processos judiciais mais bizarros que ele move, das ameaças mais grosseiras que ele profere.

Os conservadores criticarão os subordinados da Casa Branca, como Pam Bondi, por serem demasiado hostis à liberdade de expressão. Mas Trump é o líder, o instigador, o rei —ainda não aposentado, na verdade mais poderoso do que nunca.

Portanto, por mais que a direita justifique sua contraofensiva cultural para si mesma, para o país como um todo isso pode parecer uma repetição do auge do politicamente correto —exceto que, em vez de lealdade a uma nova ideologia estranha, a exigência indesejada é lealdade ao próprio Trump.


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