Por divergências sobre a crise na Venezuela, a cúpula do Mercosul terminou neste sábado (20), em Foz do Iguaçu (PR), sem uma declaração do bloco e dos Estados associados —documento em que são discutidos temas geopolíticos da região. O tema colocou em lados opostos os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente argentino Javier Milei.
O Mercosul, por sua vez, publicou uma declaração final de Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai —mas a Venezuela não é citada nesse documento. A falta de acordo para publicar o documento voltado à geopolítica deixa evidente um racha no Mercosul sobre o assunto mais delicado hoje na América do Sul: a ofensiva americana contra o regime de Nicolás Maduro.
Atualmente, o Mercosul conta com sete Estados associados: Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Panamá, que formalizou sua adesão em 2024. O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, participou da cúpula em Foz do Iguaçu e teve também uma reunião bilateral com Lula.
O encontro no Brasil teve a presença dos presidentes da Argentina, Javier Milei, do Paraguai, Santiago Peña, e do Uruguai, Yamandú Orsi. Recém-empossado, o presidente da Bolívia, Rodrigo Paz, não compareceu ao evento e foi representado pelo chanceler Fernando Aramayo Carrasco.
Durante a cúpula, Lula foi o primeiro dos líderes sul-americanos a discursar por ocupar a presidência rotativa do bloco. Em sua fala, disse que uma intervenção armada na Venezuela seria catastrófica e configuraria um precedente perigoso. Já Milei exaltou a pressão dos americanos sobre o regime de Maduro, classificado por ele como uma ditadura atroz.
As declarações de Lula e de Milei foram feitas dias após Trump determinar o bloqueio de navios petroleiros sob sanção americana próximos da Venezuela.
Como mostrou a Folha, Argentina e Paraguai queriam inserir na declaração de líderes uma referência às violações de direitos humanos e à falta de democracia na Venezuela.
O Brasil, por outro lado, entende que o tipo de linguagem defendida por argentinos e paraguaios não contribui para solucionar a crise na região e defende que é preciso ser cuidadoso para não legitimar uma possível intervenção estrangeira na Venezuela.



