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Opinião: Kast e Lula podem ter relação sem preconceitos – 19/12/2025 – Mundo

Para muitos, a vitória avassaladora de José Antonio Kast nas eleições chilenas do último domingo (14) foi lida em chave ideológica: mais uma oscilação da direita para a esquerda e a conformação de um eixo regional de poder.

Parte-se da premissa de que Kast é um reacionário radical que sepultará o ideário liberal, sem conhecer o caráter da direita chilena pragmática que —antes dirigida pelo presidente Sebastián Piñera— apresentou suas condolências a Hugo Chávez quando de sua morte; não hesitou em se solidarizar com Rafael Correa diante de uma tentativa de golpe de Estado no Equador; ou buscou, de forma insistente e não correspondida, a amizade de Dilma Rousseff. Por isso, José “Pepe Mujica” tinha Piñera em tão alta estima.

Kast não é Piñera, é verdade. No plano pessoal, é um conservador que nunca ocultou suas simpatias pelo bolsonarismo. No entanto, isso não significa que governará de acordo com suas convicções, mas sim conforme o senso republicano que prevalece no Chile, como pudemos constatar nesta eleição.

Ele levará em conta, sobretudo, o interesse do país e a necessidade de realizar uma gestão bem-sucedida para gerar um sucessor dentro de quatro anos —e dispõe de pouco tempo para isso.

Kast precisa ser pragmático e negociar com todas as forças políticas possíveis, pois não conta com maioria parlamentar. Além disso, chegou ao poder com o apoio de milhões de eleitores que rejeitam a polarização política. Por fim, a tarefa de estimular a economia, conter a imigração, garantir segurança ao cidadão diante do avanço da criminalidade, evitar filas de espera nos hospitais, entre outros desafios, não são temas ideológicos, mas de senso comum. Por isso, em seu primeiro discurso como presidente eleito, apelou reiteradamente à unidade e insistiu em seu desejo de ser o mandatário de todos os chilenos.

Quando Kast assumir o comando em 11 de março de 2026, no Palácio de La Moneda, o Brasil continuará governado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao menos até o fim do ano. Eles provêm de mundos distintos, mas ambos compartilham um senso pragmático, como refletiu a mensagem de felicitações enviada por Lula a Kast no próprio domingo.

Para o Chile, o Brasil não é apenas o principal destino de suas exportações na região; é também o maior receptor do investimento chileno no mundo; a nação que sustenta sua indústria turística; um parceiro para a formação de encadeamentos produtivos e para a geração de pesquisas científicas conjuntas.

Junto ao Brasil, o Chile precisa trabalhar em uma agenda robusta de segurança para enfrentar o desafio do crime organizado; deve acelerar a conclusão e a operação do corredor bioceânico que atravessa o Paraguai e o norte da Argentina, em benefício dos portos chilenos no Pacífico e de Mato Grosso do Sul; deve discutir outro corredor que atravesse a Bolívia e melhorar o trânsito pela Argentina para facilitar o acesso à Ásia dos estados brasileiros do Sul.

Embora tenhamos abordagens distintas diante da competição desencadeada pelas grandes potências em nossa região, é urgente estimular o diálogo político sem ideias preconcebidas; ampliar fluxos comerciais alternativos, como o acesso do Chile a mercados africanos com apoio brasileiro; desenvolver a complementaridade nos setores mineral e energético; aumentar a produção militar conjunta, entre outros exemplos. Caso contrário, ambos ficaremos presos a uma disputa que não é nossa.

Em síntese, a chegada de Kast ao poder no Chile constitui uma oportunidade para uma relação mutuamente benéfica e livre dos preconceitos que têm fraturado a nossa região.

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