O vice-secretário de Justiça dos Estados Unidos, Todd Blanche, tentou poupar o presidente Donald Trump durante o depoimento que conduziu em julho deste ano com Ghislaine Maxwell, ex-companheira do abusador Jeffrey Epstein, acusado de coordenar um vasto esquema de tráfico sexual. Epstein morreu na cadeia em 2019, em uma morte considerada suicídio, antes de um veredicto pelos supostos crimes.
Blanche estava no depoimento na função de procurador de Justiça, não de defensor de Trump ou do governo. Isso porque, nos EUA, o Departamento de Justiça tradicionalmente mantém certa independência do Executivo, atuando com funções semelhantes às desempenhadas pelo Ministério Público Federal e Ministério da Justiça no Brasil.
O depoimento de Maxwell foi conduzido como parte de uma tentativa do governo Trump de demonstrar transparência no caso para aplacar a base republicana, que cobrava a publicação de todos os arquivos da investigação.
Depois de meses de negativas, a pressão foi tanta que Trump mudou de ideia e disse que apoiaria uma divulgação, abrindo caminho para que o Congresso aprovasse uma lei exigindo isso do Departamento de Justiça. O órgão publicou parte dos documentos, incluindo os depoimentos de Maxwell, nesta sexta-feira (19).
As conversas aconteceram em dois dias na prisão na Flórida onde Maxwell cumpre sua pena de 20 anos por operar o esquema de tráfico sexual de meninas com Epstein. Ela foi considerada culpada de aliciar meninas e mulheres e levá-las a Epstein para que fossem estupradas. A socialite britânica já pediu, em carta, um perdão presidencial a Trump.
Durante as entrevistas, Blanche faz uma série de perguntas sobre a relação de Epstein com o ex-presidente democrata Bill Clinton —os dois eram próximos e o político viajou nos jatinhos de Epstein diversas vezes.
Maxwell inicialmente diz não ter visto Clinton fazendo sexo com as meninas que ela contratava para Epstein. Em seguida, Blanche pergunta: “Por que você diz isso?”, fazendo com que Maxwell recue e admita que existe a possibilidade que Clinton tivesse feito isso.
Quando Blanche pergunta se Trump fez sexo com as meninas, Maxwell é categórica: “Nunca”. Blanche não a pressiona, e a socialite diz que o presidente e Epstein só se encontraram em “ocasiões sociais”, como festas ou jantares, e nunca a sós na casa do abusador, por exemplo. “Quando estive com [Trump], ele sempre foi um cavalheiro em todos os sentidos”, disse Maxwell.
Trump e Epstein foram amigos por anos nos anos 1990, até que se afastaram depois de uma disputa pela compra de um imóvel na Flórida. Em emails, o abusador insinua que Trump tinha conhecimento do esquema de tráfico sexual.
Maxwell tece mais elogios ao republicano em outros momentos do depoimento. “O presidente Trump sempre foi muito educado e gentil comigo. E, além disso, quero dizer que admiro sua extraordinária conquista em se tornar presidente. Eu gosto dele, sempre gostei”, afirmou.
Blanche também pediu que Maxwell desmentisse a reportagem do Wall Street Journal que revelou um desenho de uma mulher nua supostamente feito por Trump como presente de aniversário de 50 anos de Epstein. Sem citar o jornal, Blanche diz: “A senhora não se lembra de nada que tenha a ver com o presidente Trump e o livro [que reuniu mensagens de parabéns de amigos de Epstein], certo? A senhora pediu uma carta ao presidente Trump?”. Maxwell nega.
Em outro momento, Maxwell defende Trump. “Acredito que o presidente foi arrastado para essa história sem necessidade. Não sou uma teórica da conspiração, mas acredito que há um viés que pode ter feito com que pessoas tentassem usar [o caso Epstein] para prejudicar o presidente, e acho isso muito ofensivo.”



