A chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles, disse em entrevista publicada nesta terça-feira (16) pela revista Vanity Fair que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem “personalidade de alcoólatra”, que o vice, J. D. Vance, é um “teórico da conspiração”, e que a secretária de Justiça, Pam Bondi, “fez burrada” ao lidar com o caso Jeffrey Epstein.
Chris Wipple, autor de um livro sobre chefes de gabinete da Casa Branca e jornalista que assina as reportagens na Vanity Fair, conversou com Wiles ao longo de todo o ano, um raro nível de acesso ao centro do poder nos EUA. Como o próprio repórter admite no texto, “a maioria das autoridades da Casa Branca só fala com a imprensa em off [isto é, de maneira reservada, sem autorizar que seu nome seja citado] ou muito ocasionalmente. Wiles, no entanto, respondeu abertamente quase todas as perguntas que lhe fiz“.
Primeira mulher na história dos EUA a ocupar o cargo, Wiles é considerada a pessoa mais poderosa na Casa Branca depois de Trump. Tendo coordenado a campanha presidencial do republicano —”em momento algum cogitei a possibilidade de que perderíamos”, disse—, ela foi vista como a arquiteta da sua vitória nas eleições de 2024 e diz ter a confiança total do presidente. Trump, depois da publicação da reportagem da Vanity Fair, disse não ter lido a matéria, mas afirmou que Wiles faz um “excelente trabalho”.
Muitas decisões do governo vem sendo tomadas na base do impulso de Trump, disse um membro do Partido Republicano à Vanity Fair. Para essa pessoa, a única força capaz de direcionar esse impulso é Wiles. A chefe de gabinete, cujo pai, um famoso locutor de jogos de futebol americano, era alcoólatra, afirma ter habilidade em lidar com homens de grande ego. “[Trump] tem uma personalidade de alcoólatra. Ele funciona acreditando que não há nada que ele não possa fazer. Nada, nada mesmo.”
Sobre Vance, Wiles disse que o vice-presidente “é um teórico da conspiração faz dez anos”, e que o político tem preocupação especial sobre o que a juventude do Partido Republicanos —considerada por alguns analistas como a ala mais radical da sigla— pensa sobre o governo e os principais problemas do país.
No início do ano, quando o bilionário Elon Musk dominava as manchetes, Wiles disse a Wipple que o dono do X “age totalmente sozinho”. “Ele é um usuário declarado de cetamina [Musk nega usar a droga]. Ele dorme durante o dia num saco de dormir no escritório dele. É um cara muito estranho, como todo gênio. Não me ajuda muito.” Ainda assim, Wiles disse ter aprovado o trabalho de Musk quando ele desmantelou a Usaid, agência de ajuda externa dos EUA.
À Vanity Fair, Wiles também deu a entender que o objetivo da campanha militar de Trump na América Latina não é combater o tráfico de drogas, mas derrubar do poder o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. “[Trump] quer seguir explodindo barcos até que o Maduro peça água. E gente mais inteligente do que eu diz que é isso que vai acontecer”, afirmou a chefe de gabinete. Um total de 95 pessoas já foram mortas pelos EUA em ataques a embarcações nas águas do Caribe e do Pacífico.
Sobre a campanha de deportações em massa de Trump e o caso do imigrante salvadorenho Kilmar Abrego Garcia, deportado por engano, Wiles disse: “Se alguém tem antecedentes criminais, se a gente tem certeza disso, provavelmente não tem problema mandar essa pessoa pra El Salvador, ou sei lá onde. Mas se há dúvida, precisamos checar”.
Wiles admitiu ainda que Trump está em campanha para “acertar contas” com inimigos políticos e pessoas que tentaram responsabilizá-lo pela invasão do Capitólio em 2021 e por sua tentativa de reverter a vitória de Joe Biden nas eleições de 2020.
“Temos um entendimento de que o acerto de contas vai acabar em breve”, disse a chefe de gabinete a Wipple no começo do ano. Quando isso não aconteceu, ela afirmou, em agosto: “Não acho que ele está em uma tour de vingança. Em alguns casos, pode parecer assim, e pode até haver certo elemento disso de vez em quando. Quem pode culpá-lo? Eu não culpo”.
A aliada de Trump criticou a secretária de Justiça, Pam Bondi, pela forma como lidou com o caso Jeffrey Epstein, o abusador morto em 2019 que foi amigo de Trump e foi acusado de operar uma ampla rede de tráfico sexual. “Ela fez uma burrada e não percebeu que a base [de Trump] ligava muito pra essa história”, disse Wiles à Vanity Fair.
Wipple também entrevistou outros membros do primeiro escalão do governo Trump, como Vance, o secretário de Estado, Marco Rubio, e o assessor especial da Casa Branca Stephen Miller, principal arquiteto da campanha de deportações. Rubio disse ao jornalista que Wiles é “provavelmente a única pessoa no mundo que consegue fazer o trabalho que faz”.



