Em uma entrevista divulgada na noite de segunda-feira (15) pela plataforma Brut, a primeira-dama francesa, Brigitte Macron, lamenta se feriu mulheres vítimas de violências sexuais no polêmico episódio em que chamou um grupo de feministas de “vadias estúpidas”. No entanto, rejeita a possibilidade de arrependimento: “Sou, antes de tudo, eu mesma”.
Nas redes sociais, as repercussões foram imediatas, com fortes críticas à atitude da primeira-dama. “Raramente vi um pedido de desculpas mais ofensivo do que a própria ofensa”, comentou um internauta no Instagram. “Resumindo: Brigitte lamenta ter sido filmada e mantém suas afirmações”, diz outro usuário da plataforma.
Entre as dezenas de milhares de reações, raras apoiam a primeira-dama. “Estou sonhando ou Brigitte afirmou que o problema é que suas declarações [sobre as feministas] não deveriam ter sido filmadas?”, diz um internauta no Facebook.
“Sete dias de brainstorming com sua equipe de comunicação de crise para isso. Você poderia ter feito melhor, Brigitte”, reitera um outro internauta sobre a demora e o conteúdo da resposta à polêmica.
As controversas declarações de Brigitte vieram à tona na semana passada, após a divulgação de um vídeo em que ela aparece nos bastidores de um espetáculo de Ary Abittan, comediante francês acusado de estupro. Na conversa com a primeira-dama, o artista diz ter “medo” de um grupo de feministas do coletivo Nous Toutes (Todas Nós) que se preparava para protestar durante o evento.
“Se houver vadias estúpidas aqui, vamos expulsá-las”, responde a esposa do presidente francês, usando a palavra “connes” para se referir às militantes, uma expressão considerada extremamente vulgar e pejorativa em francês.
O comportamento de Brigitte suscitou uma imensa indignação nos meios progressistas, levando o coletivo feminista a lançar o movimento #SallesConnes nas redes sociais. A mobilização ganhou o apoio da classe artística, como a atriz francesa Marion Cotillard, e personalidades políticas, como a líder do partido Ecologista, Marine Tondelier.
‘Não vi que estava sendo filmada’
Na entrevista ao jornalista da plataforma Brut na noite de segunda-feira, Brigitte diz “pensar” nas vítimas de agressões sexuais que pode ter ofendido com suas declarações antes do espetáculo de Abittan. No entanto, pondera que não sabia que estava sendo filmada e que as afirmações eram destinadas ao grupo de pessoas com quem interagia naquele momento: o comediante, sua filha e duas amigas.
A primeira-dama ainda explica na entrevista que é amiga de Abittan e, ao ouvir que o humorista estava assustado com a presença das feministas no local, ela tentou apoiá-lo. “Eu queria tranquilizá-lo, certamente [reagi] de forma desajeitada, mas não tinha outras palavras à minha disposição naquele momento”, reitera a primeira-dama ao Brut.
Ao ser questionada pelo jornalista se está arrependida de suas palavras, Brigitte é taxativa: “Não posso me arrepender de falar”. “Sou, de fato, a esposa do presidente da República, mas, antes de tudo, sou eu mesma. E, portanto, quando estou em privado, posso me soltar de uma maneira absolutamente inadequada”, conclui.
O combate às agressões sexuais e sexistas é uma das principais promessas do governo de Emmanuel Macron. Segundo dados oficiais, em 2024, a França registrou quase 123 mil vítimas deste tipo de violência. A acusação de estupro contra Ary Abbitan, registrada por uma mulher de 23 anos em 2021, foi arquivada em 2024 e encerrada pelo Tribunal de Apelações de Paris no início deste ano.
