A banda punk feminista Pussy Riot, famosa por seu ativismo contra o governo de Vladimir Putin, foi classificada pela Justiça russa como uma organização extremista. Com isso, todas suas atividades são banidas na Rússia.
Não que haja alguma, dado que o grupo performático tem praticamente todos seus membros exilados —dois deles foram condenados a até 13 anos de prisão in abstentia no ano passado, acusados de difamar as ações das Forças Armadas da Rússia na Ucrânia.
Segundo a sentença, proferida em sessão fechada nesta segunda-feira (15), as atividades passadas do Pussy Riot são “uma ameaça ao Estado”. O advogado da banda, Leonid Soloviev, havia dito no mês passado que o processo era absudo e que o grupo apenas ironizava autoridades.
A classificação de extremista foi pedida pela Procuradoria-Geral russa. Ela é o grau mais severo, ao lado de terrorista, no sistema de enquadramento do dissenso pelo governo Putin —um processo lento, iniciado quando o presidente enfrentou protestos de rua após sua reeleição de 2012.
A invasão do país vizinho, dez anos depois, levou à introdução de leis mais duras para coibir críticas à guerra, que nem é chamada assim de forma oficial: o termo usado pelo Kremlin é Operação Militar Especial. Com isso, o clima de repressão política foi consolidado.
Já foram qualificados como extremistas o opositor Alexei Navalni, que morreu na prisão no começo de 2024, e a agremiação religiosa Testemunhas de Jeová.
O Pussy Riot, que somou quase 20 integrantes ao longo dos anos, tem uma longa história de embate com o Kremlin. Seus mais conhecidos fundadores, Nadia Tolokonnikova, seu marido Piotr Verzilov e Iekaterina Samutsevitch, haviam criado um coletivo de arte anarquista chamado Guerra em 2007.
Em 2011, surgiu o Pussy Riot, cujas integrantes se apresentavam com balaclavas coloridas, mantendo sua identidade em sigilo. No ano seguinte, elas ficaram mundialmente conhecidas quando invadiram a Catedral de Cristo Salvador, em Moscou, e fizeram um protesto cantando uma música contra Putin.
A igreja é um marco da Rússia sob Putin, tendo sido inaugurada no ano 2000 no local onde havia uma catedral demolida pelos soviéticos em 1931, às margens do rio Moscou.
A performance junto ao altar do templo irritou particularmente a poderosa Igreja Ortodoxa, que tem fortes laços com o Kremlin. Das cinco participantes, três foram identitificadas e presas por vandalismo —incluindo Tolokonnikova e Samutsevitch.
Em 2018, quatro integrantes do grupo, incluindo Verlizov, conseguiram fazer um protesto na frente de Putin, ao invadir o campo no começo do segundo tempo da final da Copa do Mundo da Rússia entre França e Croácia. Só que os presentes não entenderam direito: eles estavam vestidos com uniformes de policiais.



