José Antonio Kast venceu as eleições neste domingo (14) no Chile com um desempenho expressivo.O oposicionista foi o mais votado em todas as 16 regiões (equivalentes aos estados brasileiros) do Chile.
Com a quase totalidade dos votos apurados, o ultradireitista do Partido Republicano teve 58,2% dos votos válidos, enquanto a candidata do Partido Comunista recebeu 41,8%, de acordo com dados do Serviço Eleitoral do Chile. Com voto obrigatório, a participação eleitoral superou os 85%.
Uma das surpresas da noite foi justamente a Região Metropolitana de Santiago, reduto tradicionalmente esquerdista, e onde Kast saiu vitorioso, com 53,2% ante 46,8% de Jara.
Outras regiões onde a candidata do Partido Comunista havia conseguido liderar no primeiro turno desta vez optaram pelo ultradireitista.
Em Coquimbo, Kast ganhou por 54,2% a 45,9%; o ex-deputado também conquistou Valparaíso (54,2% a 45,8%), Aysén (59,9% a 40,1%) e Magallanes e Antártica Chilena, onde vota o presidente de esquerda Gabriel Boric (55,3% a 44,7%).
A ex-ministra derrotada Jeannette Jara teve um desempenho expressivo apenas em partes da Grande Santiago e em outros municípios do país, mas sem conseguir se impor em nenhuma região.
Uma dessas áreas em que ela superou o presidente eleito foi Conchalí, onde ela votou no domingo, no colégio Poeta Federico García Lorca. Nessa comuna, Jara obteve 52,6% dos votos, ante 47,4% de Kast.
Jara conseguiu terminar em primeiro lugar apenas nos votos dos chilenos que vivem no exterior. Neste caso, a ex-ministra do Trabalho conquistou 59,1% dos votos ante 40,9% do presidente eleito.
Os votos brancos e nulos, defendidos pelo terceiro colocado no primeiro turno, Franco Parisi (Partido Popular), totalizaram 7,1% em todo o país —enquanto as pesquisas previam que poderiam ser de quase 20%.
A insatisfação com o atual governo e o discurso baseado em promessas de combate ao crime organizado e contra os imigrantes em situação irregular surtiram efeito. Kast conseguiu se impor em regiões em que Parisi venceu no primeiro turno, no norte do país.
Em Arica-Parinacota, ganhou com folga, por 62,8% a 37,2%; em Tarapacá, fez 62,1% ante 37,9%; levou Antofagasta por 56,8% a 42,2%; e Atacama, com 54,5% a 45,5%.
Esta era sua terceira tentativa de chegar ao palácio La Moneda. Durante a campanha, o presidente eleito afirmou que o Chile estava desmoronando.
Em suas aparições públicas, realizadas atrás de vidros blindados, ele descreveu o Chile como um Estado falido, dominado por cartéis de drogas e cada vez mais distante do “milagre econômico” que o transformou em um exemplo bem-sucedido na América Latina.
Uma pesquisa Ipsos de outubro apontava que 63% dos chilenos estão mais preocupados com crime e violência, seguidos pela baixa economia. Embora a violência tenha aumentado e gangues estrangeiras tenham chegado ao país, o medo da criminalidade é maior do que os números concretos de episódios violentos.
Desta vez, um Kast em versão mais moderada e que evitou temas polêmicos deu resultado. Os números do último domingo são impactantes também quando se compara o desempenho de agora com o que teve no segundo turno de 2021, ao ser derrotado por Boric.
Há quatro anos, o líder do Partido Republicano ganhou em apenas 5 das 16 regiões do país, e a então novidade Boric foi o mais votado em 11.
PRESIDENTE ELEITO NÃO TERÁ MAIORIA NO CONGRESSO
Conforme os chilenos decidiram no primeiro turno, em novembro, o cenário no Legislativo ficou mais favorável para o futuro presidente, ainda que nenhuma das forças atinja a maioria.
A Câmara, que tem 155 cadeiras, ficará conformada com 76 deputados de direita das coalizões Chile Grande e Unido e Mudança pelo Chile, ficando a duas cadeiras da maioria (78).
Pela primeira vez desde a redemocratização do Chile, a coalizão de direita tradicional deixará de ser a principal força desse campo, perdendo espaço para os radicais.
A esquerda terá 64 (com a Unidade pelo Chile e os Verdes, Regionalistas e Humanistas); o Partido Popular terá 14; haverá também 1 independente.
No Senado, com 50 vagas, não haverá mudança: as coalizões de direita manterão 25 senadores, um lugar a menos que a maioria (26). A esquerda somará 23, e os independentes ficarão com 2 cadeiras.



