No último dia 19 de outubro, às 9h30, três ou quatro ladrões vestindo coletes amarelos estacionaram um caminhão de mudanças junto ao museu do Louvre, subiram na plataforma elevatória até a varanda do primeiro andar, partiram o vidro da janela, dirigiram-se à galeria de Apolo, serraram algumas vitrines com uma esmeriladeira e roubaram joias no valor de € 90 milhões.
Depois, saíram por onde entraram e desapareceram em suas motos em direção à estrada. Note-se que não elaboraram um plano complicado, não requisitaram as plantas do museu para ver se era possível invadir o sistema de ventilação sem serem vistos, não se disfarçaram sequer com um bigode postiço.
Por quê? Porque eles tinham coletes amarelos. O colete amarelo confere a quem o usa um poder extraordinário. Pode entrar por uma janela do Louvre, que ninguém pondera chamar a polícia. Quem usa o colete amarelo adquire a aparência mista de trabalhador e agente da autoridade.
São dois estatutos que merecem a nossa reverência. O homem está trabalhando, sai da frente. Ele manda em qualquer coisa, sai da frente.
Ora, não foi isto que o cinema me ensinou. Eu estava há anos convencido de que não era possível assaltar um museu sem antes treinar durante semanas num armazém onde era fielmente reproduzido o interior do museu e o seu intrincado sistema de raios laser, do qual era preciso escapar com saltos que só estão ao alcance de atletas olímpicos.
Nos filmes em que se realiza um assalto destes, a equipe de ladrões inclui sempre um especialista em explosivos, um gênio da informática, um carteirista experimentado e um acrobata de nacionalidade chinesa.
Em todos esses filmes, o assalto requer um investimento que chega a corresponder a metade do valor do saque.
Os gatunos que assaltaram o Louvre compraram uma esmeriladeira e quatro coletes. Com R$ 250 apetrecharam-se para roubar € 90 milhões.
O assalto foi uma lição importante para os museus, mas sobretudo para Hollywood. Este tipo de filme deve passar a durar apenas cinco minutos. O orçamento não precisa exceder os R$ 250.
E o diretor deve se concentrar em filmar, não os imponentes cassinos de Las Vegas, nem a paisagem de Kuala Lumpur, mas o duro, prosaico e ainda assim admirável perfil de uma esmeriladeira.
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