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Com Betty Faria jovem e sensual, Playboy vira cinquentona – 13/12/2025 – Ilustrada

Em agosto de 1975, a Editora Abril lançou a primeira edição da Revista do Homem, que trazia algo inédito em língua portuguesa —material da Playboy, que já era o título mais conhecido no mundo das publicações para o público masculino, lançado nos Estados Unidos em dezembro de 1953. A revista era famosa até no Brasil, porque, desde o final dos anos 1960, bancas de São Paulo e do Rio de Janeiro ofereciam exemplares importados.

Algumas bancas paulistanas vendiam 70 ou 80 exemplares. Esse potencial fez a Abril comprar os direitos de reportagens e ensaios fotográficos para turbinar a Revista do Homem. E a iniciativa passou a ser destacada na capa: acima do logo estava a inscrição “com o melhor de Playboy”. Na edição de estreia, o ensaio principal foi com Livia Mund, modelo e estrela de propagandas de TV. As “coelhinhas” importadas preenchiam ensaios secundários.

Após negociações, a Abril aumentou o valor que pagava aos americanos e, em junho de 1978, “Playboy” passou a ser o título. Na memória afetiva das pessoas, há um equívoco sobre a estrela da capa da primeira revista após a mudança do nome. Na edição de junho, quem aparece é a modelo americana Debra Jo Fondren. Dois meses depois, Betty Faria se tornou a primeira brasileira na capa. A repercussão foi muito maior, a ponto de sites de revistas antigas venderem erroneamente exemplares com a atriz na capa como se fosse a primeira Playboy publicada no país.

A fórmula era absolutamente fiel à original americana: ensaios eróticos, excelência em textos de jornalistas e cronistas, e a grande entrevista mensal com nomes relevantes, que em algumas edições chegou a ocupar 14 páginas! A escolha do entrevistado era entre aqueles com alcance mundial que saíam na revista americana, como Marlon Brando ou Henry Kissinger, ou brasileiros incontestáveis para tal destaque, como Chico Buarque, Millôr Fernandes, Pelé, Darcy Ribeiro e Caetano Veloso. Para investir no ensaio de capa, o alvo claro era uma estrela da TV,

Betty Faria abriu caminho para Sônia Braga, Dina Sfat, Claudia Raia, Maitê Proença, Claudia Ohana e muitas outras estrelas globais. Algumas, como Lídia Brondi em 1984, tiveram suas fotos publicadas em uma revista especial separada, vendida junto com o exemplar normal. Em meados dos anos 1980, a busca por nudez “inédita” ampliou as opções para celebridades como modelos, cantoras, apresentadoras de TV e atletas. Nesse segmento, causou polêmica a capa com Hortência, em dezembro de 1989. A Playboy americana já tinha apresentado ex-atletas em ensaios, mas a brasileira, ainda em atividade, era uma das maiores jogadoras de basquete mundial.

A década de 1990 marcaria o auge da revista, alcançando nesse período suas maiores vendagens. Foi intensificada a busca por mulheres que protagonizaram polêmicas na mídia, como a modelo Luma de Oliveira, que não saía das colunas sociais e das páginas da Playboy: a revista publicou cinco ensaios de capa com ela, entre 1987 e 2005. Outro exemplo é Adriane Galisteu, que apareceu em três edições: 1995 e 1996, na onda de ter sido a última namorada de Ayrton Senna e, em 2004, já consolidada como apresentadora de TV.

Mas foi quase na virada do século que surgiram as campeãs de vendagem. Na Band, o programa H, de Luciano Huck, criou personagens “sensuais”, que apareciam quase nuas e provocavam a garotada no auditório com jogos e performances eróticas. Suzana Alves era a Tiazinha, e Joana Prado, a Feiticeira. As duas lideram as vendas da Playboy. Em dezembro de 1999, a edição recordista com a Feiticeira vendeu 1,247 milhão de exemplares, superando por pequena diferença a edição de março do mesmo ano, com Tiazinha, que alcançou 1,223 milhão de revistas.

O pódio é completado pela primeira aparição de Adriane Galisteu, com vendagem de 960 mil revistas. As personagens criadas por Huck voltaram no ano 2000 e mais uma edição de cada uma está no top 10, com vendagem de cerca de 800 mil cada. Esse ranking traz também as dançarinas do grupo baiano É O Tchan, que levou para a Playboy Scheila Carvalho, Sheila Mello e Carla Perez. A lista é completada com a cantora Kelly Key e a atriz Marisa Orth.

O segredo mais bem guardado do jornalismo brasileiro é provavelmente o cachê que cada uma dessas mulheres recebeu. A Abril nunca divulgou esses números. Todos os valores estimados foram divulgados pelas próprias estrelas, que, segundo a editora, aumentavam os valores, o que atrapalhava bastante as negociações para futuras opções de capa.

Suzana Alves afirmou ter recebido apenas por sua primeira revista cerca de R$ 2 milhões. Segundo vários diretores da revista, nenhuma mulher recebeu um valor de sete dígitos. É certo que o último grande cachê pago pela Playboy foi em 2010, na edição de 35 anos da revista, com Cleo Pires como último grande nome na capa.

Os anos 2000 marcaram a fase das capas com mulheres que se destacaram nos reality shows. Sabrina Sato é o exemplo mais bem-sucedido entre mais de 40 capas oriundas desses programas. Mas a primeira década do século viu a oferta de nudez e pornografia na internet derrubar o interesse pelos ensaios da Playboy.

Uma prova clara da decadência. Nos anos 1980 e 1990, a divulgação da capa do mês seguinte era um segredo prioritário na Abril. A ponto de a redação ter uma porta que se abria exclusivamente a quem tinha crachá de funcionário da revista. Ninguém podia ver o material sendo preparado. Depois da virada do século, a editora passou a se preocupar em divulgar as estrelas que assinavam contrato para já começar um forte trabalho de divulgação, expondo a busca por leitores.

Em 2015, 40 anos depois da chegada ao Brasil, a Abril fechou a revista. No ano seguinte, o grupo brasileiro PBB Entertainment licenciou novamente o título e tentou emplacar a mesma repercussão, sem sucesso. A operação durou menos de dois anos, com publicação irregular e baixos números de vendagem, não divulgados.

O glamour da Playboy e a força da lembrança da marca são incontestáveis. E sua relevância continua sendo colocada à prova constantemente nos sites de leilão. Se bem conservados, exemplares das edições mais vendidas passam facilmente de R$ 500. Já foram registradas vendas de revistas de 1978, com Betty Faria ou Sônia Braga na capa, por R$ 5.000.

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