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Dick Van Dyke chega aos 100 com vida rara em Hollywood – 12/12/2025 – Ilustrada

Se ainda é bem raro chegar aos 100 anos, no ambiente turbulento de Hollywood é ainda mais raro passar a vida incólume a boatos, malditos, intrigas, ataques traiçoeiros e fofocas em geral. Eis a proeza a que em linhas gerais Dick Van Dyke está chegando neste sábado (13).

Como artista, mostrou ser capaz de dançar, cantar e representar, foi estrela em filmes de sucesso como “Mary Poppins”, “Adeus, Amor”, “O Calhambeque Mágico”. Na vida pessoal, cresceu em uma família pobre do Missouri, mas em que, diz, a honestidade sempre foi um valor incontornável. Desde criança aprendeu a ser “bom menino”.

Presbiteriano, antirracista, adepto do Partido Democrata, pode-se dizer que Van Dyke é mesmo um bom menino, perto do que a comunidade artística nos Estados Unidos costuma produzir. Teve um longo casamento —de 1948 a 1984—, do qual teve quatro filhos. É verdade que desde 1976, oito anos antes do divórcio, já estava com Michelle Triola Marvin, com quem viveria até a morte dela, em 2009.

Em poucas palavras, pouca coisa poderia desviar Van Dyke da imagem de homem comum que fez de si mesmo e, sobretudo, que os outros fizeram. Demorou um pouco, é verdade. Só no começo dos anos 1960 as coisas mudariam para ele.

Antes, alistou-se para a guerra em 1942, mas não foi para o front —sua função era ser locutor e fazer shows de variedades. O Exército talvez tenha conhecido seu talento antes do mundo, pois, ao se casar com Margie Willet, em 1948, a vida econômica era tão precária que a viagem de lua-de-mel foi oferecida pelo programa de rádio “Bride and Groom”, onde se casaram.

Nessa época, assim como ao longo dos anos 1950, a vida teve altos e baixos, talvez mais baixos do que altos. O contrato com a CBS para fazer parte do “CBS Morning Show”, que Walter Cronkite apresentava. Depois de três anos na TV, e em Nova York, a emissora o demitiu. Voltava aos anos de dureza, até que tudo mudasse em sua vida. Foi escalado para a estreia na Broadway de “Bye Bye Birdie”, o musical foi um sucesso extraordinário e lhe deu um prêmio Tony de melhor coadjuvante. Voltaria ao papel no cinema, pouco depois, sob o título “Adeus, Amor”, e novamente o filme andou bem.

O exercício de anos de obscuridade, desenvolvendo um humor acessível, a dança, as boas maneiras, o credenciavam de fato para ser o bom moço de um meio artístico pouco disposto a promover esse tipo de pessoa.

Mas, se não é assim, Van Dyke disfarçou bem a vida inteira. O sucesso maior, no cinema, veio com outro musical, “Mary Poppins”. Mas nessa altura ele já se tornara um ícone da televisão. Em 1960, Carl Reiner o convidara para uma sitcom sobre a vida de um roteirista de comédias. Deu-lhe o nome de “The Dick Van Dyke Show”. Ele ainda não era propriamente um ícone da TV, mas para sua própria surpresa tornou-se.

O programa durou até 1966, sempre com grande sucesso. Por que foi o escolhido? Talvez por isso mesmo: parecia um homem comum, com méritos e defeitos. E mais humor que a média, claro.

Os anos 1960 foram, enfim, os melhores, os que consolidaram sua personalidade e fama, que lhe deram Emmys de melhor ator em série de TV —duas vezes, pelo seu “Dick Van Dyke Show”, um Grammy pelo disco infantil “Mary Poppins”, sem falar do Tony por “Bye Bye Birdie”.

Foi nessa década que fixou também a imagem do homem sóbrio, afável, imperturbável, que o aproximava do público, mas não o poderia descrever no todo. Era um solitário, como definiu Carl Reiner. Um homem difícil de conhecer, contemplativo, voltado a refletir sobre a existência.

Seja por isso ou não, Van Dyke afundou-se na bebida no começo dos anos 1970. A ponto de sentir vergonha de si mesmo por descontar, na mulher e nos filhos, o quanto sentia desgosto por si mesmo.

Depois de uma tentativa de reabilitação, o que acabou por salvá-lo foi mesmo o encontro com Michelle Triola. Ela tinha personalidade forte, saía de um longo embate judicial com o ex-marido, Lee Marvin, era a mulher que parecia compreender Van Dyke inteiramente.

Era o que ele pensava, em todo caso, durante anos de vida dupla, até que conta toda a história a Margie. Como quase tudo na vida de Dick, as coisas aconteceram o mais suavemente possível, inclusive o divórcio amigável. E não parece ter sido coincidência o fato de ter parado de vez com a bebida no ano seguinte ao segundo casamento.

Dick Van Dyke tinha a seu favor a simpatia e a fama. Fazia participações em filmes menores ou para TV, em aparições em shows beneficentes. Experimentou a morte de suas duas esposas, Margie, em 2008, e Michelle no ano seguinte —acompanhou-as na doença, câncer, que as matou.

Casou-se em 2012 pela terceira vez com Arlene Silver, que hoje tem 54 anos, pouco mais da metade do que tem seu marido. Ao que consta, com a morte de suas duas ex, Van Dyke tornou-se um homem mais aberto, menos solitário, mas ao mesmo tempo capaz de manter o humor e o senso de “timing” lendários.

A vitalidade que parece sem fim. Chegar aos 100 anos não é para qualquer um. Mas chegar aos 98 ganhando um programa especial da CBS, participando do show “The Masked Singer” —foi o mais velho cantor a ser desmascarado— e ainda fazendo um papel como convidado em um uma novela de TV não é pouco, nem é fácil.

Bom menino, bom cristão, bom patriota, bom cidadão e agora bom velhinho, Van Dyke celebra o centenário tendo o desprazer de ver seu sempre adversário Donald Trump no poder. Ele, que apoiou Joe Biden, depois Kamala Harris sem ambiguidade, já disse que não gostaria de estar por aqui para vivenciar os quatro anos do atual governo. Pela força que demonstra, não parece nada impossível estar por aqui por mais esse tempo. É esperar para ver.

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