A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, não chegou a tempo para participar da entrega do Prêmio Nobel da Paz nesta quarta-feira (10), em Oslo, e foi representada pela sua filha, Ana Corina Sosa Machado. Sua presença na cerimônia era incerta, já que o regime de Nicolás Maduro impôs uma proibição de viagem a ela.
No palco, uma cadeira ficou simbolicamente vazia para representar a ausência da venezuelana. Ao lado, foi colocado um quadro com uma foto de María Corina. Segundo o Instituto Nobel Norueguês, a opositora de 58 anos está em segurança e ainda viajará à capital do país.
A entrega do prêmio ocorreu no prédio da prefeitura de Oslo com a presença do rei Harald, da rainha Sonja e de quatro presidentes latino-americanos: Javier Milei (Argentina), Daniel Noboa (Equador), José Raúl Mulino (Panamá) e Santiago Peña Palacios (Paraguai).
O opositor Edmundo González Urrutia, que hoje vive na Espanha, a mãe de María Corina, Corina Perez de Machado, e a neta de Martin Luther King Jr, Yolanda Renee King, também estavam entre os presentes.
A cerimônia começou com uma apresentação da música “Alma Llantera”, interpretado pelo artista venezuelano Danny Ocean.
O presidente do comitê do Nobel da Paz, Jorgen Watne Frydnes, fez um longo discurso de abertura criticando os presos políticos da ditadura de Maduro e citou a imigração em massa dos cidadãos do país.
“Os que ainda seguem [na Venezuela] vivem sob um regime que sistematicamente silencia, assedia e ataca a oposição”, disse Frydnes. Ele pediu que Maduro “aceite o resultado” da eleição presidecial de 2024 e deixe o cargo, sendo aplaudido pela plateia. Frydnes ainda reforçou que, apesar da ausência na cerimônia, María Corina está em segurança e viajará para a cidade.
O paradeiro de María Corina é desconhecido —ela não é vista em público desde janeiro. Dezenas de venezuelanos no exílio viajaram para a capital norueguesa para possivelmente acompanhá-la nesta semana.
Mais cedo nesta quarta, após dias de especulação, o comitê informou que, apesar da ausência na cerimônia, há confirmação de que a líder venezuelana está em segurança e que ela viajará para a capital norueguesa, embora uma data exata ainda não tenha sido divulgada.
“A laureada com o Prêmio Nobel da Paz, María Corina Machado, fez tudo o que esteve ao seu alcance para comparecer à cerimônia hoje. Uma viagem em uma situação de perigo extremo”, afrimou o comunicado dovulgado. “Estamos profundamente felizes em confirmar que ela está em segurança e que estará conosco em Oslo.”
O instituto afirmou à agência de notícias AFP que a expectativa é que Corina consiga chegar à cidade até esta quinta-feira (11).
O ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, disse na segunda desconhecer detalhes sobre a viagem a Oslo da opositora. Em novembro, o procurador-geral venezuelano disse à agência de notícias AFP que ela seria considerada foragida caso deixasse o país.
María Corina recebeu o Nobel da Paz em 10 de outubro “por seu incansável trabalho em favor dos direitos democráticos do povo venezuelano e por sua luta por uma transição justa e pacífica da ditadura à democracia” no país, segundo a organização.
A opositora mantém proximidade com setores alinhados ao presidente dos EUA, Donald Trump, que acusam Maduro de envolvimento com organizações criminosas que representariam ameaça direta à segurança nacional americana —posição questionada por setores da inteligência de Washington. Ao receber o anúncio da premiação, em outubro, ela dedicou parte do reconhecimento a Trump.
Ela venceu com ampla margem as primárias da oposição para a eleição presidencial de 2024, mas foi impedida de concorrer. Após o pleito contestado, que resultou na declaração oficial da vitória de Maduro, ela entrou na clandestinidade em agosto, quando o regime intensificou as prisões de opositores.
A entrega do Nobel coincide com a mobilização militar dos EUA no Caribe e no Pacífico, onde mais de 80 pessoas foram mortas em ataques americanos contra embarcações usadas, segundo Washington, para o transporte de drogas.
Os EUA dizem que as ofensivas, iniciadas em agosto, fazem parte de operações contra o narcotráfico, mas especialistas questionam a legalidade desses ataques, e Maduro insiste que o objetivo é derrubá-lo e se apoderar das riquezas da Venezuela, rica em petróleo.



