Logo após terem sido chamados de fracos por Donald Trump, os líderes das principais nações europeias que apoiam a Ucrânia ligaram na noite da terça-feira (9) para discutir com o americano a negociação de paz no conflito iniciado pela Rússia em 2022.
Os premiês Keir Starmer (Reino Unido) e Friedrich Merz (Alemanha), mais o presidente Emmanuel Macron (França) passaram cerca de 45 minutos ao telefone com Trump a pedido do americano, segundo a Casa Branca e o governo britânico.
Não houve detalhamento da conversa, que só foi revelada nesta quarta (10) por um comunicado conjunto. “Os líderes discutiram as últimas novidades nas conversas de paz lideradas pelos EUA, agradecendo os esforços para achar uma paz justa e duradoura para a Ucrânia”, afirmou o texto.
“Trabalho intensivo no plano de paz continua e vai continuar nos próximos dias”, completou a nota, que não fez referência ao azedume provocado por Trump em uma entrevista ao site Politico na qual destratou os aliados no clube militar Otan.
Para Trump, emulando as palavras de sua recém-lançada Estratégia de Segurança Nacional, a Europa é um continente em decadência devido à questões culturais —notadamente a pressão migratória. A noção foi amplamente criticada por líderes europeus.
Neste momento, contudo, só o americano pode conseguir algum tipo de acordo com Vladimir Putin e Volodimir Zelenski. O russo já repetiu suas demandas maximalistas e se nega a fazer concessões de relevo, exigindo territórios anexados ilegalmente e a neutralidade da Ucrânia, entre outros pontos.
Já o ucraniano luta para ao menos deixar em aberto a situação legal de eventuais perdas, mas nem isso o Kremlin quer. Também nesta quarta, Zelenski conversou com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, e outras autoridades sobre planos de reconstrução para o pós-guerra.
Na segunda, ele havia se reunido com o trio franco-teuto-britânico em Londres, e nesta quinta (11) haverá uma videoconferência de mais amplo escopo, com as cerca de 30 nações que fazem parte da chamada Coalizão dos Dispostos, um grupo de apoiadores de Kiev.
Ainda nesta quarta, ele tentou transparecer otimismo no X. “Nós acreditamos que a paz não tem alternativa, e que as questões chave são como compelir a Rússia a parar a matança e o que especificamente vai evitar que ela faça uma terceira invasão”, escreveu.
Ele usou a terminologia dos beligerantes, que consideram que o conflito ativo começou em 2014, quando Putin fomentou uma guerra civil de separatistas pró-Rússia no leste do país e anexou a Crimeia após ver o presidente que tinha como aliado em Kiev derrubado.
A questão das garantias de segurança voltou à baila nos últimos dias, sugerindo que ao fim haverá concessões territoriais pelos ucranianos. Os EUA se recusam a defini-las, até para evitar um conflito aberto com Moscou num futuro hipotético.
Em alguns momentos no vaivém de suas posições sobre a guerra, Trump até cedeu à ideia de algum tipo de cobertura aérea para forças ocidentais de paz. A proposta de quaisquer tropas estrangeiras na Ucrânia é 100% rejeitada pelos russos.
Na entrevista ao Politico, Trump ainda queixou-se da falta de eleições na Ucrânia, uma contingência da lei marcial. Zelenski disse que toparia pedir ao Parlamento para mudar a lei e realizar um pleito em até 90 dias se os EUA dessem garantias de segurança a ele —ou seja, ensaiando um compromisso maior.
UCRÂNIA ATINGE PETROLEIRO NO MAR NEGRO
Enquanto a diplomacia tenta sair do atoleiro, a guerra segue seu rumo. A Rússia promoveu um avanço com blindados em grande escala, ao menos para o padrão de um conflito focada em combates localizados com drones, artilharia e ataques aéreos neste momento.
Segundo analistas russos, o foco é consolidar a tomada da região em torno de Pokrovsk, cidade vital no leste da Ucrânia que Kiev. Segundo as forças de Zelenski, há ainda combates no norte da localidade, mas as notícias são ruins para elas: o cerco à vizinha Mirnohrad parece completo, segundo os monitores ucranianos.
Já do lado da Ucrânia, o país divulgou vídeo mostrando um novo ataque um petroleiro da chamada “frota fantasma”, que usa navios de bandeiras de outros países para transportar óleo de Putin sem embaraço de sanções econômicas.
Usando ao menos três drones navais Sea Baby, Kiev atingiu o leme e a popa do Dashan, uma embarcação com registro nas ilhas Comores que pode carregar até US$ 60 milhões em petróleo, segundo sites especializados em comércio marítimo.
Na semana passada, dois ataques contra três navios enfureceram Putin, que disse que iria retaliar de forma a cortar o acesso da Ucrânia às rotas comerciais do mar Negro, que haviam sido reabertas.



