1.2 C
Nova Iorque
quarta-feira, dezembro 10, 2025
No menu items!

Buy now

spot_img
No menu items!

Paz na Ucrânia não virá deste esforço diplomático de Trump – 09/12/2025 – Ian Bremmer

Quase quatro anos após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a pressão para encerrar a guerra está se intensificando. Nas últimas semanas, surgiram não uma, mas duas propostas. Cúpulas diplomáticas acontecem quase diariamente. Enviados americanos vão e voltam entre Kiev e Moscou. Multiplicam-se as demonstrações públicas de aplauso aos esforços do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para deter o derramamento de sangue, enquanto todos correm para moldar os termos de um possível acordo.

Apesar dessa enxurrada de atividade diplomática, as chances de um cessar-fogo permanecem pequenas nas próximas semanas —e nos próximos meses. A razão é simples: Rússia e Ucrânia ainda têm objetivos fundamentalmente incompatíveis, e nenhum dos lados encontrou motivos suficientes para ceder. O esforço de Trump em conseguir um acordo a qualquer custo não está alterando esse cálculo.

O presidente dos Estados Unidos quer acabar com a guerra independentemente das consequências para a Ucrânia ou a Europa. Isso tem sido uma prioridade ao longo de seu segundo mandato, e ele se irrita com o fato de que ainda não se concretizou.

Quando se quer um acordo ao menor custo possível e sem grande preocupação com os termos ou com os resultados —nem no curto, nem no longo prazo—, o caminho de menor resistência é pressionar a parte mais fraca.

Essa parte mais fraca, claro, é a Ucrânia. Não apenas porque tem uma economia, uma população e um Exército menores que os da Rússia, mas também porque Kiev está envolvida em um escândalo de corrupção que recentemente derrubou o chefe de gabinete do presidente Volodimir Zelenski, Andrii Iermak.

Trump e parte de sua equipe sabem que Zelenski enfrenta dificuldades domésticas e apostam que pressioná-lo mais será, agora, ainda mais útil para obter resultados. O que eles aparentemente não entendem é que a fragilidade de Zelenski torna as concessões mais difíceis, não mais fáceis.

É verdade que pesquisas recentes mostram que apenas um quarto dos ucranianos deseja lutar até a vitória total —uma reversão dramática em relação aos primeiros anos da guerra. Mas as mesmas pesquisas mostram que a maioria dos ucranianos ainda quer o fim da guerra em seus termos, não os dos russos.

Mesmo que quisesse, um Zelenski mais vulnerável tem menos capacidade de apoiar um acordo que cheire a capitulação, especialmente quando seu próprio povo e suas Forças Armadas continuam contrários a isso.

E a Rússia, ciente de que está em posição mais forte, não está tentando chegar a termos que a Ucrânia poderia aceitar. Na verdade, Putin não está tentando encerrar a guerra neste momento. Ele acredita que a Rússia possa alcançar resultados melhores no campo de batalha do que na mesa de negociações. As forças russas avançam lentamente, de forma desgastante, no Donbass.

Os custos são enormes —dezenas de milhares de baixas, pressão econômica, isolamento internacional—, mas Putin demonstrou que está disposto a suportá-los e está convencido de que o tempo está a favor da Rússia.

Ao apresentar exigências maximalistas que sabe que Kiev jamais poderia aceitar —reconhecimento jurídico das anexações territoriais pela Rússia, neutralidade ucraniana sem garantias de segurança significativas, limites efetivos à soberania da Ucrânia—, Putin está explorando a pressa de Trump por um acordo.

O objetivo não é negociar de boa-fé, mas parecer disposto para Trump e para líderes europeus simpáticos a Moscou, como Viktor Orbán, da Hungria, e Robert Fico, da Eslováquia, na esperança de que Washington culpe a Ucrânia pelo fracasso diplomático. No melhor cenário imaginado por Putin, isso renderia duas coisas: maior impunidade para atacar a Ucrânia sem temer reações dos Estados Unidos e uma Otan mais fraca e dividida.

Mas a estratégia de Putin —parecer disposto enquanto rejeita qualquer compromisso real— tem limites. Trump já mostrou que pode se virar contra a Rússia também. Sua frustração com a intransigência de Putin levou à autorização para que a Ucrânia realizasse ataques de longo alcance, a sanções contra a Rosneft e a Lukoil, e à pressão sobre a Índia para reduzir a compra de petróleo russo.

Ao mesmo tempo, a Ucrânia, a Europa e o secretário de Estado, Marco Rubio, fizeram o suficiente para garantir que Washington não restrinja o compartilhamento de inteligência com Kiev nem bloqueie ataques ucranianos contra a infraestrutura petrolífera russa.

Mais importante: os Estados Unidos já não detêm todas as cartas. Washington vende armas e fornece inteligência, mas os países europeus agora estão financiando integralmente o esforço de guerra ucraniano. Isso dá à Europa poder real de influência. Seja convencendo a Bélgica a confiscar os ativos congelados da Rússia, seja emitindo mais dívida conjunta, os líderes europeus deixaram claro que não permitirão que a Ucrânia perca por falta de recursos.

Assim, a guerra seguirá seu curso: mais uma rodada de negociações fracassadas, mais um inverno, provavelmente mais uma primavera. As forças russas continuarão tentando conquistar mais território. A Ucrânia continuará se defendendo e atacando a infraestrutura russa. Os custos humanos e econômicos se acumularão. A posição ucraniana provavelmente se deteriorará, mesmo enquanto a Rússia paga um preço enorme em sangue e dinheiro por ganhos limitados. Não haverá disposição suficiente para compromissos tão cedo.

Gostaria de que não fosse assim. Mas, quando os objetivos centrais das partes são fundamentalmente incompatíveis, nenhuma quantidade de pressão externa ou diplomacia pode preencher essa lacuna. A paz virá em algum momento —quando o campo de batalha e as circunstâncias materiais a impuserem. Ela não virá do atual esforço diplomático, por mais que Trump a deseje.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Related Articles

Stay Connected

0FansLike
0FollowersFollow
0SubscribersSubscribe
- Advertisement -spot_img

Latest Articles