Após medida semelhante no Texas, o governador da Flórida, Ron DeSantis, assinou nesta terça-feira (9) um decreto em que classifica o Centro de Relações Islâmicas-Americanas (Cair, na sigla em inglês), um dos mais importantes no combate à islamofobia nos Estados Unidos, de organização terrorista.
Texas e Flórida são governados por políticos do Partido Republicano, o mesmo do presidente Donald Trump, cuja retórica e políticas contra imigrantes nos EUA têm sido agressivas. Após o decreto no primeiro estado, assinado em novembro, o Cair entrou com ação na Justiça dizendo que a designação é inconstitucional e tenta puni-lo por suas posições políticas.
Resposta rápida ocorreu também nesta terça. Logo depois de DeSantis assinar o decreto, a diretora interina da organização, Hiba Rahim, anunciou outra ação para contestar a decisão na Flórida. A estratégia continua a mesma: segundo ela, o novo decreto é difamatório e inconstitucional. “Ao nosso governador: a designação não tem base legal nem fática”, afirmou em entrevista coletiva.
O governador da Flórida acusa o grupo de manter vínculos com o Hamas, organização terrorista responsável pelo ataque contra Israel em 7 de outubro de 2023. A Cair nega qualquer relação.
Nos decretos, DeSantis e o governador do Texas, Greg Abbott, impõem a mesma classificação à Irmandade Muçulmana, grupo fundado em 1928 e considerado terrorista por países como o Egito e a Rússia. O Hamas, em seus primeiros anos, surgiu como braço palestino desse grupo.
Nem o governo dos EUA nem as agências de segurança americanas classificam o Cair ou a Irmandade Muçulmana dessa forma. No entanto, Trump iniciou no mês passado processo para aplicar a designação a determinadas ramificações da Irmandade Muçulmana em países como Líbano, Egito e Jordânia.
Embora o Cair nunca tenha sido acusado de algum crime, o FBI, a polícia federal americana, suspendeu sua cooperação com o centro em 2008, fato citado nos decretos para justificar a classificação de organização terrorista.
As consequências da medida são severas. A ordem assinada por DeSantis determina que órgãos estaduais adotem medidas para impedir que o Cair receba contratos, empregos ou recursos públicos. No Texas, os dirigentes do centro agora não podem mais comprar terrenos, e o procurador-geral deve abrir um processo para expulsar a organização do estado.
Fundado em 1994 em Washington, o Cair ganhou projeção nacional no início dos anos 2000 ao denunciar a explosão de casos de racismo e islamofobia nos EUA após os ataques de 11 de Setembro. O conselho processou uma série de empresas por discriminação no ambiente de trabalho e hoje possui filiais em uma série de estados americanos.
Recentemente, a organização foi criticada por suas posições contra as ações de Israel na Faixa de Gaza e por falas de alguns de seus membros, que classificaram sionistas como inimigos de muçulmanos. A nível federal, republicanos pedem que o governo Donald Trump investigue possíveis ligações financeiras entre o Cair e o Hamas.



