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Em ‘Eternidade’, romance é maior que a comédia e emociona – 09/12/2025 – Ilustrada

Muitas comédias românticas pecam pelo excesso de pieguice na parte romântica e dependem da parte cômica para se sustentarem. Isto acontece porque um bom romance, daqueles que nos emocionam sem nos deixar enjoados de tanto açúcar, requer uma direção precisa, o que leva em conta a condução do elenco. Um tempo a mais aqui, uma proximidade maior ali, e o que poderia ser tocante se transforma num dramalhão de segunda.

Em “Eternidade”, o diretor David Freyne procurou tomar todos os cuidados possíveis para não cair nessa armadilha. Correu o risco de acontecer o inverso: a comédia arruinar o romance. Felizmente, não chega a tanto. Mas temos mesmo o caso menos provável em que o romance é melhor que a comédia. Não dá para rir tanto, mas é difícil não sair emocionado da projeção.

Larry, um senhor de 90 anos vivido por Barry Primus, está numa reunião familiar e se engasga com pretzels no exato momento em que alguém descobre uma foto do primeiro marido de sua esposa Joan, aliás, Betty Buckley. Trata-se de Luke, personagem de Callum Turner, que morreu jovem na Guerra da Coreia.

Foi uma engasgada fatal. Larry acorda no corpo de Miles Teller, num trem que o leva a uma espécie de região intermediária onde as pessoas que morrem devem decidir onde e como querem passar a eternidade. Uma vez escolhida, não há possibilidade de mudança. Eis uma arbitrariedade do roteiro que o próprio filme não leva muito a sério.

Esse lugar de recepção parece um grande hotel, em que cada hóspede tem seu quarto individual e seu guia para auxiliá-lo na futura escolha. Larry sempre sonhou em viver no litoral, perto do mar, enquanto sua esposa Joan preferia o frio e o aconchego de uma região montanhosa.

O espectador é logo informado que Joan tem câncer terminal e não deve viver muito tempo. Larry sabe disso e pensa em esperá-la, até que a ansiedade o leva a escolher a praia, na esperança de que sua esposa o encontre quando a vez dela chegasse.

Não tarda a chegar. Antes mesmo que Larry vá a sua eternidade, Joan morre e se transforma, no além, em Elizabeth Olsen. Porque quando morrem, as pessoas adquirem para sempre a forma física do momento em que foram mais felizes na vida. Por esse motivo, não vemos adolescentes nessa instância intermediária —e vemos muitas crianças.

Joan e Larry passaram 67 anos juntos como esposa e marido. Acostumaram-se às birras de cada um e aprenderam a lidar com as diferenças, constituindo uma família grande e feliz.

O que Larry não sabe é que Luke, o simpático barman que o havia atendido na noite anterior, no bar onde ficam os indecisos e aqueles que esperam, é o primeiro amor de Joan, o da foto, que a espera por quase uma vida.

Joan então precisa decidir com quem pretende passar a eternidade, com o amor de sempre, que ela já conhece nas virtudes e nos defeitos, ou o amor de juventude, que permanece uma incógnita e um mistério no que diz respeito ao matrimônio.

A escolha é previsível, mas os caminhos que levam à sua materialização é que fazem toda a graça do filme. Previsibilidade, afinal, importa pouco quando temos boas soluções narrativas levadas por um elenco competente, em que todos estão bem.

Para sustentar o olhar fantasioso do além, o roteiro –do próprio diretor com Patrick Cunnane— acaba criando inconsistências que a direção precisa disfarçar. Esse trabalho é bem-feito por Freyne, que desenvolve a contento esse espaço imaginário a ponto de nos fazer esquecer as pequenas falhas.

Acima de tudo, é uma direção precisa nos tempos, o que ajuda o filme a emocionar sem nos chantagear, sem apelar para música melosa o tempo todo ou reviravoltas que terminam com aplausos de transeuntes —um velho clichê das comédias românticas.

No filme anterior, “Meus Encontros com Amber”, de 2020, o irlandês Freyne mostrou habilidade na direção de jovens de 20 e poucos anos em papéis de adolescentes.

Em “Eternidade”, seu terceiro longa, primeiro nos Estados Unidos, trabalha pela primeira vez com um elenco mais conhecido, mostrando boa capacidade de adequação. Resta torcermos para não ser engolido pela máquina de produção do cinema comercial.

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