Com dificuldade de pronunciar o sobrenome que é tão comum no Brasil, Marlon Wayans anunciou nesta segunda-feira (8) que Wagner Moura está indicado ao Globo de Ouro de melhor ator em filme de drama, na categoria que deve ter a maior probabilidade de uma vitória brasileira nesta edição do prêmio.
“O Agente Secreto“, que o baiano protagoniza, também foi indicado em melhor filme de língua estrangeira e melhor filme de drama —este, um feito inédito para o Brasil. Também é a primeira vez que uma produção nacional concorre a três categorias no prêmio. Ainda assim, o país terá uma competição ferrenha nestas frentes.
Ao mesmo tempo em que o anúncio dá gás à campanha do longa de Kleber Mendonça Filho na atual temporada de prêmios, ele também comprova que o caminho até a vitória, no Globo de Ouro e depois no Oscar, será árduo.
Distante de Leonardo DiCaprio e Timothée Chalamet, que competem na ala de comédia ou musical por, respectivamente “Uma Batalha Após a Outra” —o campeão de indicações, nove ao todo— e “Marty Supreme”, Moura tem ótimas chances de repetir o feito de Fernanda Torres. Mas o filme em si esbarra em “Foi Apenas Um Acidente” e “Valor Sentimental”, que representam França e Noruega.
O favoritismo dos dois é comprovado por uma simples conta matemática. O primeiro, do iraniano Jafar Panahi, aparece em quatro categorias, enquanto o segundo, do norueguês Joachim Trier, soma oito indicações —ambos entraram nas listas de melhor direção e melhor roteiro, e o longa de Trier se destacou ainda pelas interpretações de Renate Reinsve, Stellan Skarsgard, Elle Fanning e Inga Ibsdotter Lilleaas.
É um sinal importante de que os votantes estão mais inclinados, ao menos por agora, a eleger um dos dois como o melhor longa em língua estrangeira da temporada. Em filme de drama, concorrem ainda “Frankenstein”, “Hamnet” e “Pecadores”.
Numa visão ampla da temporada, já pensando no Oscar, não se pode esquecer de “No Other Choice”, do coreano Park Chan-wook, que repete as indicações de “O Agente Secreto”, mas em comédia –portanto, está indicado em melhor filme e ator do gênero, pelo trabalho de Lee Byung-hun, e filme em língua estrangeira.
Completam a seleção de filme de comédia ou musical “Marty Supreme”, “Bugonia”, “Blue Moon”, “Nouvelle Vague” e “Uma Batalha Após a Outra”.
Há muito caminho separando as indicações de agora e as cerimônias —a do Globo de Ouro acontece em 11 de janeiro e a do Oscar, apenas em 15 de março—, então espere uma campanha parruda e determinada por parte de Mendonça Filho, que tem boa entrada com os votantes europeus dos prêmios, e de Moura, que já é rosto querido entre os americanos.
Chegar forte desta forma na temporada é uma vitória para o cinema nacional, que por dois anos seguidos mostra a sua força e a sua diversidade, mesmo com menos recursos que os europeus —foi a França, vale lembrar, que ficou com o Globo de Ouro de filme estrangeiro do ano passado, por “Emilia Pérez”.
A atual safra de longas estrangeiros é ainda mais robusta que a anterior, e “O Agente Secreto” passou na frente de outras produções interessantíssimas que jogaram o cinema americano para coadjuvante em 2025.
Por mais que os estrangeiros estejam dominando as rodas de conversa cinéfilas, porém, o Globo de Ouro, associação formada por jornalistas e críticos internacionais, escalou dois apresentadores que não pareciam estar nem um pouco familiarizados com os nomes internacionais dos quais tanto se fala.
Numa transmissão que foi, no mínimo, desajeitada, Marlon Wayans sofreu para pronunciar nomes como os atrelados a “Guerreiras do K-Pop” e títulos como o da animação belga “Little Amélie or the Character of Rain”, deixando a experiência para quem acompanhava confusa. É um recado de que os prêmios americanos podem até ter aberto suas portas, mas que Hollywood continua autocentrada.
Outra prova disso é a ala televisiva do Globo de Ouro. Se entre os filmes os estrangeiros já fincaram sua bandeira, nas séries a história é diferente. Ali, os americanos dominam com tranquilidade, deixando um espaço ou outro para os britânicos.
Em série de drama, foram indicadas “A Diplomata”, “Ruptura”, “Slow Horses”, “The White Lotus”, “The Pitt” e “Pluribus” –as duas últimas, novatas, devem protagonizar um bom embate–, enquanto em comédia foram selecionadas “Abbott Elementary”, “O Urso”, “Hacks”, “Ninguém Quer”, “Only Murders in the Building” e “O Estúdio” –esta, favorita, comprova o bom momento de renovação.
Entre as minisséries, a Netflix sai em disparada com “Adolescência”, mas terá que enfrentar “All Her Fault”, “Morrendo por Sexo” e “The Girlfriend”. A gigante também concorre com “Black Mirror” e “O Monstro em Mim”. Mais uma vez, nenhuma grande surpresa.
Com as indicações do Globo de Ouro, na ala cinematográfica, confirmando os rumos da atual temporada de prêmios, o brasileiro pode se preparar para repetir o clima de Copa do Mundo e refazer o Carnaval cinéfilo, como aquele inspirado em Fernanda Torres e “Ainda Estou Aqui” —agora, com Wagner Moura como porta-bandeira.



