CRÍTICA | SP
Torto Cozinha
R. Ribeiro de Barros, 42B, Pompeia, região oeste. @tortocozinha
Três estrelas (bom)
Amantes de ovo frito com gema mole e clara com bordas de rendinha (aquela que fica crocante) vão simpatizar de bate-pronto com o Torto Cozinha, recém-aberto no bairro da Pompeia.
Na casa, ele chega sobre brioche tostado e um punhadinho de caviar. A ideia é comer a clara com o brioche e deixar a gema por último, para saboreá-la com as ovas. Nessa hora, duas texturas cremosas se juntam na boca. Uma com o sabor já esperado. A outra, mais salgadinha, que se dissolve toda amanteigada na língua.
É a entrada de pão com ovo e caviar (R$ 45), a melhor provada na visita, num sábado à noite. E a que conseguiu sintetizar bem a ideia da casa, descrita como “do clássico ao caos”. A entrada seguinte destoava. O carpaccio de tomate (R$ 35) chega com creme aerado de queijo de cabra que na boca não mostra a que veio. E as prometidas nozes brasileiras não dão o ar da graça. Fica a impressão de ter pedido um tomate picado em rodelas finas temperadas com azeite e não muito mais.
A expectativa pela entrada de pimenta dedo-de-moça empanada e recheada com blend de queijos derretidos (R$ 35) era de um comfort food de responsa, daqueles de ter vontade de levar pra casa. O que chega é uma fritura correta, sequinha e crocante, mas com um recheio tímido que não entrega o caos esperado.
A esta altura, notamos que seria melhor ter escolhido uma das mesas do pequeno salão que fica na entrada. Como estávamos em cinco pessoas, optamos pelo de atrás, um pouco maior. Improvisado numa garagem sem janelas que fica com o portão entreaberto, estava com cheiro forte de combustível por causa do movimento intenso de motos da rua. A ponto de comprometer a refeição.
Dos pratos principais, o vori vori com ossobuco (R$ 75) estava gostoso. Feito com bolinhos de milho fritos que recebem a companhia de ossobuco e um caldo de carne de cozimento lento, brinca bem com o conceito. Outro destaque foi a costela com polenta (R$ 85). Assada com conhaque, a carne estava tenra. Caiu bem com a polenta cremosa.
Duas pessoas da mesa pediram flat iron com fritas (R$ 85). Essa carne macia, que muita gente conhece como raquete, veio acompanhada por uma fartura de fritas de respeito. Nada de batata congelada e sem gosto, como é comum encontrar. A carne pedida ao ponto chegou correta. Já a que foi pedida bem passada chegou um ponto para mais. Outro detalhe é que os pratos foram servidos trocados.
O meu foi o magret de pato com sauerkraut (conserva de repolho) e purê de maçã (R$ 80). De apresentação mais fraca, destoava dos demais, que eram bonitos e bem-servidos. Apesar do ponto correto, rosado, não brilhou em sabor nem em suculência.
De sobremesa, carolinas recheadas com chocolate branco, crosta de meio amargo e calda de chocolate à parte (R$ 45). Os bolinhos são leves e o recheio é discreto. Vem com três unidades que terminam a refeição com leveza.
Aberto em agosto, o restaurante ainda não tem drinques e as opções de vinho se resumem a poucos rótulos. Com ajustes importantes a fazer, a casa revela potencial. Especialmente se perder a timidez em se jogar no conceito a que se propõe. Que venham os clássicos feitos com mais atenção aos detalhes e os pratos caóticos preparados sem pudores.
