Três hipóteses podem explicar o anúncio do senador Flávio Bolsonaro (PL) como o indicado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a corrida presidencial de 2026.
A primeira delas, mais certeira, diz respeito à tentativa de Bolsonaro de manter sua influência e controle sobre a direita mesmo da prisão.
O anúncio desta sexta-feira (5) vem em um momento em que se escancaram os rachas no grupo —desde os ataques do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) até a união dos filhos do ex-presidente contra a madrasta, Michelle Bolsonaro (PL).
Nesse sentido, a indicação de Flávio é um recado para mostrar quem manda e um direcionamento para unir a direita sob a tutela de Bolsonaro.
Chama a atenção que o movimento do ex-presidente ocorra na semana em que Michelle tenha projetado sua independência como liderança política.
Ao reprovar publicamente a costura de uma aliança com o ex-ministro Ciro Gomes no Ceará, a ex-primeira dama agiu em desacordo com orientação do partido, que tinha o aval do próprio Bolsonaro.
Michelle não voltou atrás e, no fim, foi Flávio quem anunciou suas desculpas. O PL também suspendeu o acordo, colocando panos quentes no episódio. Integrantes da legenda avaliaram que a militância ficou ao lado da ex-primeira-dama.
Bolsonaro tem pouco a ganhar repreendendo Michelle publicamente ou rompendo com ela, considerando sua grande popularidade com o eleitorado de direita.
Assim, a escolha de Flávio pode ser uma tentativa velada de colocar uma pedra sobre as ambições da mulher, que chegou a ser cotada para a chapa presidencial.
Ainda que não tenha fritado Michelle —pois isso poderia significar fritar a si próprio—, Bolsonaro empodera Flávio num momento crítico e unge o filho, extensão de si mesmo, como seu sucessor.
As outras duas hipóteses para o anúncio desta sexta não excluem a primeira. Em uma delas, o ex-presidente está de fato disposto a bancar a candidatura de Flávio até o final.
Em um cenário de segundo turno contra o presidente Lula (PT), o senador vai pior do que Tarcísio, Michelle e o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), segundo pesquisa Datafolha publicada em agosto. O petista marcava 48%, contra 37% de Flávio.
Levantamento da Quaest de setembro mostrou que apenas 1% dos entrevistados citava o senador como a figura que deveria substituir Bolsonaro.
Seguindo esta hipótese, os números indicam que o ex-presidente estaria disposto a rifar a eleição presidencial em troca da manutenção do capital político com o clã.
Alguns parlamentares do PL também avaliam que a candidatura de Flávio poderia engajar mais a militância do que outra mais ao centro.
Com mais apelo na chapa, segundo esta leitura, o partido poderia eleger uma bancada maior para o Senado, hoje o grande objetivo da família Bolsonaro e da legenda. Esses senadores levariam adiante a defesa do impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal e a anistia para o ex-presidente e condenados no 8 de janeiro.
A candidatura de Flávio, porém, não agrada ao centrão. Segundo um líder partidário, o senador não une o centro e deve ficar isolado. Não se descarta que outras candidaturas de direita sejam lançadas neste caso. A Presidência para o filho de Bolsonaro ficaria ainda mais distante.
A última hipótese é de que o anúncio do ex-presidente seja somente um recado ou um blefe. Parlamentares não têm certeza de que Bolsonaro vá mesmo bancar a indicação de Flávio.
Primeiro, porque o ex-presidente é instável. Segundo, porque aliados avaliam que o senador está na mira do Supremo. Ao decretar a prisão preventiva de Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes citou Flávio expressamente.
O magistrado afirmou que a vigília convocada por ele foi um indicativo de “repetição do modus operandi da organização criminosa liderada pelo referido réu [Jair Bolsonaro]”, e que o vídeo publicado pelo senador para convocar o ato “incita o desrespeito ao texto constitucional, à decisão judicial e às próprias instituições, demonstrando que não há limites da organização criminosa na tentativa de causar caos social e conflitos no país”.
A avaliação no mundo político é de que Flávio tem teto de vidro e que, se for mesmo candidato, um passo em falso pode custar caro.
Crente de perseguição judicial contra sua família, não é certo que Bolsonaro esteja disposto a arriscar o futuro do filho, que já se livrou de ser julgado no caso do suposto esquema de “rachadinha” em seu gabinete quando deputado estadual.



