Todo fim de ano, a mesma cena: gente rodando no shopping com cara de prova de concurso, tentando adivinhar “o presente certo” para chefe, sogra, crush, criança, colega de trabalho e o amigo secreto que ninguém conhece direito. Enquanto isso, alguns economistas olham para o Natal com frieza: Joel Waldfogel estimou que muitos presentes valem de 10% a 33% a menos do que o que foi pago, um desperdÃcio sistemático de dinheiro travestido de afeto. A boa notÃcia é que a literatura sobre presentes ficou bem mais sofisticada nas últimas duas décadas e dá pistas para fazer escolhas melhores.
Um primeiro erro é escolher para o “uau” da abertura, não para a vida real. Em 2018, Adelle Yang e Oleg Urminsky testaram essa hipótese do sorriso: as pessoas preferiam presentes que prometiam reação mais entusiasmada, mesmo admitindo que outra opção traria mais satisfação ao longo do tempo. Essa preferência diminuÃa quando sabiam que não veriam a abertura. Ao escolher, imagine que você não estará presente na abertura. Em vez de o que vai arrancar um sorriso agora, pergunte o que vai ser bom em março. Essa mudança aproxima a escolha do que o outro gostaria de receber.
Outra fonte de erro é a resistência em perguntar, afinal, temos medo de que seguir a lista de desejos seja pouco criativo. No entanto, presentes escolhidos pelos destinatários tendem a ser mais valorizados, como corroborado por Francesca Gino e Francis Flynn. Eles mostram que a obviedade do presente incomoda mais o doador do que o receptor.
E a dúvida entre dar algo útil e prazeroso? Elanor Williams e Emily Rosenzweig mostram que quem presenteia tende a fugir de itens utilitários com medo de parecer pouco generoso, enquanto os destinatários ficam mais satisfeitos com algo que resolve um problema real. Isso não significa que todo mundo prefere uma frigideira a uma massagem, mas que o medo do presente prático demais é exagerado. Ao mesmo tempo, experiências têm vantagem quando a meta é fortalecer vÃnculos. Cindy Chan e Cassie Mogilner mostram que presentes experienciais, como ingressos ou cursos, geram conexão maior entre quem dá e quem recebe do que objetos materiais.
É aqui que a intuição de dar algo supérfluo de que a pessoa gosta, mas não compraria para si, encontra respaldo na literatura. Quando o orçamento é apertado, as pessoas priorizam contas e itens essenciais; presentes que bancam um luxo localizado, mas alinhado a gostos conhecidos, ocupam uma faixa que a pessoa dificilmente financiaria sozinha. Isso tende a gerar mais prazer do que mais um item genérico que ela compraria de qualquer forma.
Há, porém, supérfluos que funcionam como crÃtica disfarçada. Linnéa Chapman e Farnoush Reshadi testaram presentes de autoaperfeiçoamento, como gadgets fitness, cursos de comunicação e produtos de beleza. Recipientes relataram sentimentos de julgamento, não de cuidado, e eram mais propensos a falar mal do produto. A mensagem implÃcita pesa mais do que a intenção, especialmente em relações marcadas por assimetrias de autoestima ou poder.
O mesmo cuidado serve para vales e cartões-presente. Do ponto de vista econômico, são uma aproximação elegante do dinheiro, com menos risco de errar; na prática, muitos viram crédito morto. A Bankrate estimou em 2024 que 43% dos adultos americanos têm pelo menos um vale não usado, em média US$ 244 por pessoa. Se a ideia é dar liberdade, combine o cartão com um empurrão concreto: “quero bancar aquele jantar que você vive adiando, use este vale até fevereiro”.
Se a ambição é chegar ao “quase perfeito”, um roteiro passa por quatro perguntas. Primeiro, o que a pessoa quer ou precisa. Segundo, que tipo de vida ela gostaria de viver na prática: mais descanso, mais leitura, mais encontros, mais conforto em casa. Terceiro, que luxo especÃfico ela adia por autocontenção e você pode bancar. Quarto, que mensagem o presente passa sobre a relação de vocês. Não é necessário adivinhar sozinho nem criar surpresa inédita todo ano, nem provar amor por meio de coisas. O presente bem pensado, que respeita quem recebe, já é uma vitória contra os excessos de dezembro.
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