Um tribunal de Bangladesh condenou à morte a primeira-ministra deposta Sheikh Hasina nesta segunda-feira (17). A decisão conclui meses de um julgamento que a considerou culpada por ordenar a repressão contra as manifestações estudantis que pode ter deixado 1.400 mortos no ano passado, segundo relatório das Nações Unidas.
A decisão é a ação legal mais dramática contra um ex-líder do país desde a independência, em 1971, e ocorre meses antes das eleições parlamentares previstas para o início de fevereiro.
A Liga Awami, partido de Hasina, foi impedido de concorrer e teme-se que o veredicto desta segunda-feira possa provocar novos distúrbios antes da votação.
O Tribunal de Crimes Internacionais, uma corte doméstica de crimes de guerra de Bangladesh, localizado na capital Daca, proferiu o veredicto em meio a forte esquema de segurança e na ausência de Hasina. Ela fugiu para a Índia em agosto de 2024, no auge do levante contra seu governo.
O governo interino de Bangladesh afirmou que a condenação é um “veredicto histórico” e instou Nova Déli a entregar a ex-líder.
Hasina, 78, recebeu uma sentença de prisão perpétua por crimes contra a humanidade e a pena de morte pelo assassinato de várias pessoas durante o levante —comemorações e aplausos eclodiram no tribunal lotado quando a sentença de morte foi pronunciada. Cabe recurso à Suprema Corte do país.
O filho e conselheiro de Hasina, Sajeeb Wazed, afirmou à agência Reuters na véspera do fim do julgamento que eles não apelariam, a menos que um governo democraticamente eleito assumisse o cargo com a participação da Liga Awami.
Após a condenação, Hasina disse que a decisão veio de um “tribunal manipulado” estabelecido e presidido por um governo não eleito e sem mandato democrático. “Eles são tendenciosos e politicamente motivados”, afirmou ela em um comunicado enviado por email à imprensa logo após o veredicto.
“Em seu apelo de mau gosto pela pena de morte, eles revelam a intenção descarada e assassina de figuras extremistas dentro do governo interino de remover a última primeira-ministra eleita de Bangladesh e anular a Liga Awami como força política”, disse.
Durante o julgamento, os promotores disseram ao tribunal que haviam descoberto evidências do comando direto de Hasina para o uso de força letal na repressão aos protestos liderados por estudantes em julho e agosto de 2024, que terminaram por depor a primeira-ministra e instalar um governo provisório no país.
Hasina foi representada por um defensor nomeado pelo Estado que disse ao tribunal que as acusações contra ela eram infundadas e pediu sua absolvição.
Antes do veredicto, Hasina rejeitou as acusações e a imparcialidade dos procedimentos da corte, afirmando que sua condenação era “uma conclusão inevitável”.
O governo interino rejeitou essas acusações. “O tribunal funcionou de forma transparente, permitindo observadores e publicando documentação regular”, disse um porta-voz do governo à Reuters horas antes da audiência. “Nenhum órgão de direitos humanos com credibilidade descreveu o processo atual como politicamente motivado.”
Bangladesh tem vivido sob tensão antes da condenação, com pelo menos 30 explosões de bombas caseiras e 26 veículos incendiados em todo o país nos últimos dias. Não houve, no entanto, vítimas.
O país de maioria muçulmana, com 170 milhões de habitantes, tem sido governado por uma administração interina liderada pelo laureado com o Nobel da Paz Muhammad Yunus desde que Hasina fugiu. Embora o país tenha permanecido em grande parte pacífico desde então, ainda há instabilidade política.
Em uma entrevista à Reuters no mês passado, Hasina alertou sobre a crescente raiva entre os apoiadores do Liga Awami e disse que milhões de partidários boicotariam as eleições parlamentares, previstas para fevereiro.
Nesta segunda-feira, a segurança permaneceu reforçada em Daca e outras grandes cidades, com forças paramilitares destacadas ao redor de edifícios governamentais importantes e do complexo do tribunal. As autoridades disseram que estavam preparadas para qualquer problema após a conclusão do processo contra Hasina.



