O principal partido da oposição da Tanzânia, o Chadema, afirmou nesta sexta-feira (31) que quase 700 pessoas foram mortas em protestos contra as eleições gerais realizadas na quarta-feira (29). O governo não confirma os números e diz que está restabelecendo a ordem após “incidentes isolados”.
As Nações Unidas afirmaram que relatos confiáveis indicam pelo menos dez mortos nos protestos. Não foi possível verificar os números de forma independente.
Desde quarta, manifestantes têm saído às ruas, revoltados com a exclusão dos dois principais adversários da presidente Samia Suluhu Hassan da disputa presidencial.
Os resultados das eleições ainda não foram divulgados. A comissão eleitoral do pís africanoa começou a anunciar os resultados provisórios na quinta-feira, que mostraram Hassan com maiorias expressivas em vários distritos eleitorais.
Apesar de um forte dispositivo de segurança, centenas de pessoas se manifestaram em Dar es Salaam, atacando colégios eleitorais e incendiando uma delegacia na capital financeira do país, que também é a cidade mais populosa da Tanzânia, com mais de 6 milhões de habitantes. A capital é Dodoma.
A polícia impôs um toque de recolher noturno em Dar es Salaam nas últimas duas noites, após incêndios em prédios governamentais e outras construções. Militares e policiais patrulharam as ruas da cidade nesta sexta-feira, impedindo a circulação de pessoas. O governo também determinou que servidores públicos trabalhassem de forma remota.
O acesso à internet está interrompido desde quarta-feira.
Em outras cidades do país, como Songwe e Arusha, também houve distúrbios. Turistas ficaram retidos em aeroportos e portos devido ao cancelamento de voos e a cortes nas telecomunicações.
John Kitoka, porta-voz do Chadema, que foi impedido de participar das eleições por se recusar a assinar um código de conduta e teve seu líder preso por traição em abril, disse que o partido documentou cerca de 700 mortes desde quarta-feira, com base em relatos de profissionais de saúde.
Ele afirmou que os protestos continuaram nesta sexta-feira em várias cidades, embora tenham diminuído em algumas devido ao forte aparato de segurança.
“Estamos convocando os protestos a continuarem até que nossas reivindicações por reformas eleitorais sejam atendidas”, disse ele.
Apesar do confinamento imposto em Dar es Salaam, centenas de pessoas voltaram a protestar nas ruas da cidade nesta sexta-feira, disseram à AFP John Kitoka e um funcionário da área de segurança.
Os distúrbios representam um teste para Hassan, que recebeu elogios após assumir o cargo em 2021 por aliviar a repressão, mas que recentemente enfrentou críticas de partidos da oposição e ativistas após uma série de prisões e supostos sequestros de opositores.
Nesta sexta-feira, seu governo emitiu os primeiros comentários diretos sobre os distúrbios, em uma mensagem do Ministério das Relações Exteriores às missões diplomáticas, transmitida pela televisão estatal.
A mensagem dizia que, “devido a incidentes isolados de violação da lei e da ordem, o governo reforçou a segurança e tomou diversas outras medidas de precaução.”
“As medidas de segurança em vigor são temporárias, mas necessárias, e a normalidade retornará em breve”, acrescentou.
Hassan negou as alegações de violações generalizadas dos direitos humanos. Ela afirmou, no ano passado, ter ordenado uma investigação sobre relatos de sequestros, mas nenhum resultado oficial foi divulgado.



