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A surpresa da semana foi a vitória contundente do partido A Liberdade Avança (La Libertad Avanza), de Javier Milei, nas eleições de meio-termo no último domingo (25). Isso depois de a sigla perder, também de modo contundente, as eleições da província de Buenos Aires há pouco mais de um mês.
O resultado de domingo chega num momento em que o governo Milei enfrenta uma grave crise política, escândalos de corrupção que envolvem pessoas muito próximas ao presidente e uma alta nos preços que ameaça sua tão alardeada política anti-inflacionária.
Alguns elementos ajudam a explicar os números das urnas. Um deles é a não tão alta participação dos eleitores, o que sugere que os que saíram a votar parecem tê-lo feito porque se assustaram com um retorno do peronismo insinuado na votação de 7 de setembro.
Outro, o fator Trump. Não tanto o apoio político dado pelo norte-americano, mas a sinalização clara de que o dólar não iria disparar como vinha acontecendo caso viessem recursos dos EUA. E os EUA vincularam a aprovação do “swap” a uma vitória eleitoral. Poucas coisas assustam mais os argentinos do que uma alta do dólar.
Alguns textos ajudam a explicar o que aconteceu no domingo e o que vem por aí. O colunista Carlos Pagni, no La Nación, principal articulista da Argentina desenhou como será o novo tabuleiro do poder no país e expôs que o presidente terá de se demonstrar “mais político” que antes.
Menos conformado, o renomado Ernesto Tennenbaum disse em seu programa diário que “não reconhecia o próprio país”. Também sinalizou que “Milei não teria tido esse resultado se não aparecesse Trump, com seu dinheiro alocado para segurar o dólar”.
A questão que muitos colocam é qual seria a contrapartida que os EUA pediram à Argentina para o vultoso desembolso, por ora de US$ 20 bilhões (R$ 107 bilhões).
É o que se pergunta outro excelente artigo, de Jordanna Timmerman, no The Guardian, que afirma que “a vitória de Milei tem as impressões digitais de Donald Trump. Mas até quando essa amizade durará?”
mirada
José Jeri, que acaba de tomar posse no Peru, tem de lidar com a intensa crise política no Congresso, os protestos nas ruas e as acusações pelas quais responde na Justiça por supostamente ter feito cobranças ilegais enquanto era parlamentar.
Latinas
“Ainda é Noite em Caracas”
O mais novo filme da premiada cineasta Mariana Rondón e Marité Ugas é um dos destaques imperdíveis da 49ª Mostra de Cinema de São Paulo. Sozinha na capital venezuelana, uma mulher de 38 anos vê seu apartamento tomado por mulheres ligadas ao regime e se refugia no apartamento vizinho, onde encontra um cadáver. (Veja o trailer aqui)
“Periodistas en Tiempos de Oscuridad” (Ed. Ariel, importado)
Importante reflexão sobre a crise da indústria editorial, que corre paralela a um mundo complexo cada vez mais difícil de explicar. Traz centenas de entrevistas com grandes nomes da profissão, como Martin Baron, María Ressa, Sergio Ramírez e Svetlana Alexiévich. Interessante mesmo para os que não são jornalistas.
“Salão de Escrita e Beleza” (Juan Pablo Villalobos, Companhia das Letras, 2025)
O escritor mexicano, que já morou no Brasil, volta ao território da comédia para questionar nossas certezas sobre ambição, família e o próprio ato de escrever. Livro curto, divertido e instigante, com tradução de Sérgio Molina. (Leia a crítica aqui)
