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‘Casa de Dinamite’ é filme que depende de truques baratos – 24/10/2025 – Ilustrada

Kathryn Bigelow permanece uma cineasta da guerra. Mas algo aparece diferente em “Casa de Dinamite” em relação a seus filmes mais marcantes. Tanto “Guerra ao Terror” —de 2008, que lhe deu o Oscar de melhor direção) como “A Hora Mais Escura“, de 2012, eram filmes que se pode chamar de otimistas.

No primeiro, era explorado o risco, mas também o êxito do ingrato trabalho de atuar em campos minados do Oriente Médio, desmontando bombas. Era difícil, mas os especialistas dos Estados Undios se saíam bem, muito bem.

Em “A Hora Mais Escura”, Bigelow se consolidou como cineasta do Estado-Maior, ao retratar a perseguição e morte de Osama bin Laden, suposto articulador dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 aos EUA. Também aqui, o saldo do estado militarista era solidamente otimista. O fim do combate ia ao encontro da crença de que, eliminando a cabeça, acaba-se com o problema.

De lá para cá, algo aconteceu. Os militares de ambos os filmes pisavam em terra firme: o domínio dos Estados Unidos sobre o mundo era óbvio desde o fim da URSS. Ao reafirmá-lo com seu estilo musculoso, os filmes de Bigelow talvez previssem os anos de incerteza que se seguiriam.

Pois bem: “Casa de Dinamite” é justamente o filme da incerteza. O título vem de uma reflexão do presidente americano, feita em tela: a era atômica é como se alguém construísse uma casa, a enchesse de dinamite e continuasse a viver dentro dela. Ou seja: o perigo de explosão é sempre iminente.

No caso, o filme começa numa dessas salas de crise frequentes no cinema americano: vários militares frente a monitores enormes e telas de computadores. Ordens rápidas, sentido de urgência, entre outras coisas. Nada muito diferente de, digamos, “Impacto Profundo“. A diferença é que desta vez um míssil é lançado contra o território dos Estados Unidos, mas ninguém sabe de onde saiu. Seriam os russos? Os chineses? Por que não os coreanos (do Norte, claro)?

A primeira ideia é, claro, retaliar. Mas bombardeando a quem? A antiga certeza das salas de crise americana, onde todos sabiam o que fazer e tinham certeza dos resultados positivos, hesita. O desconhecido não é mais o pobre Iraque: é alguma outra potência com meios de destruição também muito persuasivos.

Em outros tempos, essas situações aconteciam quando a inimiga era a natureza, caso do objeto prestes a colidir com a Terra de “Impacto Profundo”: era o inelutável que deixava aqueles rostos tão angustiados.

Desta vez, é outra coisa que causa essa angústia: dentro de alguns poucos minutos um míssil atingirá em cheio a cidade de Chicago e matará seus 9 milhões de habitantes. Aciona-se o antimíssil mais moderno e potente, coisa de US$ 70 bilhões e dá o maior chabu. Retaliar? Mas como? Se mandar um míssil contra a Rússia, a guerra nuclear é certa, mesmo que os russos não tenham nada a ver com isso. Se nada for feito, talvez os russos (e os chineses) venham para cima. Entre outros desastres possíveis.

Em vista disso, o filme cobre mais ou menos 15 minutos de ação até chegar às quase duas horas de filme. O procedimento é narrar o mesmo caso de vários pontos de sta. A sala de crise, o assessor de não sei quem, o secretário de Defesa, a especialista em China: cada um vê o caso de seu ponto de vista, mas cada um deles joga a bomba, literalmente, nas mãos do chefe, o presidente.

Essas várias versões, além de um tanto confusas narrativamente e fartamente ociosas, trazem algo importante. Quando procurados, os grandes homens da nação estão todos em outra: o secretário da Defesa se preocupa em falar com a filha, que mora em Chicago; a assessora que sabe tudo de China está numa encenação histórica da batalha de Gettysburg, ocorrida durante a Guerra de Secessão; há outro que está jogando golfe; o presidente está ensinando crianças a jogar basquete…

Não se trata de acusar esses homens de irresponsabilidade ou algo assim, mas de sugerir que os EUA, julgando-se muito seguros e superiores aos rivais, deram mole. E agora enfrentam as consequências.

A bela frase do presidente, constatação tardia e trágica de até onde foi a obsessão das grandes potências por armas nucleares não transforma, de modo algum, o ponto central do raciocínio da belicista Bigelow.

Mais ou menos como os generais dementes do “Dr. Fantástico“, do qual este “Casa de Dinamite” não raro parece uma paródia séria da comédia de Stanley Kubrick, Bigelow parece acreditar que a única chance de ganhar uma guerra dessas é sair na frente, lançar o primeiro míssil.

É um raciocínio curto, o que talvez explique o quanto este filme é aborrecido, e porque sua solução à la “Rashomon” é só um traque, ou um truque, mas não serve para nada, a não ser aumentar a metragem.

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