Horas após os Estados Unidos atacarem pela primeira vez embarcações no oceano Pacífico, parte de uma controversa campanha militar para interromper o transporte de drogas em águas internacionais, o governo da Colômbia fez um apelo para que a Casa Branca interrompa de forma imediata esse tipo de ação, sob o argumento de que Washington precisa respeitar “as normas ditadas pelo direito internacional”.
O apelo foi feito na noite de quarta-feira (22) em comunicado do Ministério das Relações Exteriores colombiano. No texto, o governo de Gustavo Petro afirma “rejeitar a destruição de uma embarcação supostamente relacionada ao narcotráfico no oceano Pacífico” e destacou que a Colômbia continuará defendendo a cooperação internacional “com base no diálogo e no respeito mútuo”.
“A Colômbia faz um apelo ao governo dos EUA para que cesse esses ataques”, diz trecho da nota.
Mais cedo na quarta, o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, havia anunciado a destruição de mais duas embarcações que seriam usadas por narcoterroristas. Após semanas de ataques no Mar do Caribe, as ações mais recentes ocorreram no Pacífico, o que sinaliza a ampliação desse tipo de ofensiva.
Segundo dados oficiais divulgados no comunicado colombiano, os EUA fizeram até agora nove ataques contra embarcações na região, incluindo os dois mais recentes no Pacífico, que deixaram 37 mortos.
Os episódios acirraram ainda mais as tensões entre Bogotá e Washington. Petro tem sido uma das vozes locais mais críticas contra a ofensiva dos EUA na região. Na segunda (20), ele afirmou que a solução para a crise seria tirar Trump do poder, o que motivou críticas internas e de deputados americanos.
Trump, por sua vez, chamou o presidente colombiano de criminoso e insinuou que o colombiano estaria “levando seu país à ruína”. Em resposta, Petro afirmou que recorrerá “a advogados americanos” para se defender legalmente das acusações.
Apesar das críticas, Bogotá reiterou no comunicado o “apelo ao governo dos EUA para dialogar por meio dos canais diplomáticos”. Também reafirmou o compromisso de “continuar conjuntamente a luta contra as drogas na região”, como ambos os países têm feito “há décadas”.
As ações dos EUA são criticadas por governos da região, opositores e especialistas jurídicos, que não enxergam legalidade na ofensiva. O direito internacional não permite ataques contra pessoas que não ofereçam perigo iminente, a não ser que se tratem de combatentes inimigos.
Presidente do México, Claudia Sheinbaum, fez coro a Petro nesta quinta (23). Assim como o colombiano, ela disse não concordar com os ataques feitos pelos EUA. “Existem leis internacionais sobre como agir ao lidar com o suposto transporte ilegal de drogas ou armas em águas internacionais, e expressamos isso ao governo dos EUA e publicamente”, afirmou a líder ao ser questionada sobre o assunto.
A maior parte dos ataques ocorreu no Mar do Caribe, num contexto de hostilidade contra o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela. Membros do governo Trump afirmam que a estratégia militar e diplomática dos EUA neste momento é aplicar o máximo de pressão sobre o ditador para removê-lo do poder —por meio da força, se necessário. O republicano chegou a autorizar a CIA a realizar operações secretas no país sul-americano com esse objetivo, e até mesmo ataques diretos estariam sendo considerados.
Apesar da justificativa de combate ao narcotráfico na região, a principal rota de entrada da cocaína em território americano é pelo oceano Pacífico e pela fronteira com o México, não pelo Caribe. Já as drogas que alimentam a crise de opioides, como o fentanil, chegam principalmente da China.