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Ana Elisa Egreja eleva o banal à opulência em mostra – 23/10/2025 – Ilustrada

Ana Elisa Egreja abriu muitos pacotes com folhas de ouro neste ano. Encantada com os detalhes dourados das pinturas da Idade Média, empregados nos halos dos santos e nos fundos das telas para simular o que seria a luz divina nas cenas religiosas, a artista encampou uma pesquisa com o material e, assim, encontrou novas possibilidades estéticas para o seu trabalho.

Suas pinturas dos últimos meses —reunidas até este sábado numa exposição na galeria Almeida & Dale, em São Paulo— trazem fundos dourados na frente dos quais suas naturezas-mortas, tradicionais em seu trabalho, estão postas. É o caso de uma grande tela que retrata uma mesa coberta por tecido escarlate onde estão melancias, maças, uma lagosta e pássaros, tudo de um vermelho exagerado.

Em outro trabalho de grandes dimensões, onças repousam sobre uma mesa junto a flores e passarinhos que ciscam restos de comida, emoldurados por um jardim em fundo dourado. Já nos quadros menores no começo da mostra vemos frutas como berinjelas e cerejas que ganham um ar de opulência pelo uso das folhas de ouro na composição —é o banal elevado ao luxo.

“São cenas improváveis, mas não impossíveis. Coisas anormais vistas como normais”, diz Egreja sobre o que retrata nas telas, acrescentando ter sido muito influenciada pelos grandes pintores holandeses do século 17 como Veermer, Rembrandt e Pieter Claesz, mestres da natureza morta, gênero clássico da pintura ao lado da paisagem.

As cenas da artista, contudo, não são só frutas ou restos de comida sobre a mesa. Ela aluga animais como pintinhos e se baseia em fotos de onças na internet para levar estes bichos às suas telas da maneira mais realista possível. Também faz incursões a feiras e mercados para comprar os alimentos que vai pintar, assim como vasculha sites de comércio virtual atrás dos objetos que aparecem em seus quadros.

Neste sentido, Egreja —um dos principais nomes da pintura brasileira contemporânea, com uma carreira de 20 anos—, brinca que também é cenógrafa e produtora, porque precisa criar na mesa de seu ateliê o que vai retratar. Isto é importante para o estudo da luz, de modo que ela pode ver a sombra exata de uma melancia, por exemplo.

Em outra série da exposição, ela pintou ovos quebrados e maças intactas em telas no formato de pratos duralex, que dispôs sobre pequenas toalhas de mesa ganhadas de presente. As comidas e as louças são representadas em tamanho real, assim como quase tudo o que ela pinta.

Qual o sentido de pintar natureza morta, um gênero que data de séculos, em 2025? “Ela é uma representação sempre do hoje, do que a pessoa comeu hoje, do que está na mesa dela, de ícones de classe e de tempo histórico. Todos os pintores do mundo fizeram uma natureza morta, não conheço um que não tenha feito”, diz a artista. “A pintura congela o mundo.”

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