A conservadora Sanae Takaichi, 64, foi eleita primeira-ministra do Japão pelo parlamento do país. A líder do Partido Liberal-Democrata foi confirmada na tarde desta terça-feira (horário local) e se tornou a primeira mulher a ocupar o cargo na história do pós-guerra.
Takaichi consolida a trajetória de mais de sete décadas da sigla à frente do governo japonês. Sua ascensão ao cargo ocorre após as câmaras Alta e Baixa do Japão (equivalentes à Câmara e ao Senado brasileiros) votarem por ela como premiê.
Conhecida por ser linha-dura, sua eleição é lida como fortalecimento da ala mais à direita do partido, significativa em sua base. Seu objetivo, disse durante a campanha eleitoral, é se tornar a dama de ferro do Japão, em alusão à primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, a quem nutre admiração.
A nacionalista japonesa chega ao poder em um momento em que o Japão vê crescer o número de imigrantes, o que, segundo Takaichi, deixa os japoneses “à flor da pele”. Ponderando o turismo e a necessidade de trabalhadores do exterior, a nova premiê afirmou que uma imigração precipitada poderia criar clima hostil na sociedade japonesa e que a revisão seria necessária para “viver em paz” com os estrangeiros.
Apesar do fascínio por Thatcher, ao menos parte das principais propostas da japonesa se distancia daquelas defendidas pela britânica. Ela defende uma política fiscal frouxa para combater o alto custo de vida e investimentos estatais maciços em áreas-chave, além de endividamento controlado, para promover a segurança econômica.
A nova premiê quer investir em ciência e tecnologia e outros setores considerados importantes, como produção de alimentos e infraestrutura.
A veterana do partido chegou à liderança após ficar em segundo lugar na última eleição e acumular cargos de importância, como o de ministra da Segurança Econômica.
Agora, carrega o desafio de melhorar a economia japonesa, que anda aos solavancos, além de reconstruir um partido que passou por algumas de suas piores crises no último ano.
A renúncia do ex-premiê Shigeru Ishiba no início de setembro ocorreu por pressões decorrentes das últimas derrotas eleitorais. Perder em julho a maioria da Câmara Alta foi decisivo. O resultado do fracasso representou para o partido, que dominou a política japonesa nos últimos 70 anos, uma de suas piores derrotas.
Antes disso, em outubro do ano passado, o PLD também se tornou minoritário na Câmara Baixa, o que aumentou a pressão na derrota mais recente. Nesse caso, foi o pior desempenho dos 15 anos anteriores.
A premiê chegou ao cargo após garantir a liderança do partido no início deste mês, derrotando em segundo turno o ex-ministro do Meio Ambiente Shinjiro Koizumi, 44, herdeiro de uma dinastia política com mais de um século de influência no governo japonês.
Sua ascensão foi colocada em dúvida quando o partido Komeito deixou a coalizão governista por casos de desvio de fundos políticos e outros escândalos financeiros envolvendo o partido da situação. O movimento fez com que o PLD se movimentasse para garantir que a líder do partido seria a nova premiê.
Nesta semana, às vésperas da votação, o PLD e o Partido da Inovação, o Ishin, chegaram a um acordo para formar um governo de coalizão, o que foi determinante para a confirmação de Takaichi no cargo de premiê.