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Começou na segunda-feira (20) o quarto plenário do 20º Comitê Central do Partido Comunista, que definirá as prioridades políticas e econômicas do país até o fim da década. Reunidos a portas fechadas no Hotel Jingxi, em Pequim, mais de 350 dirigentes debatem as bases do 15º Plano Quinquenal (2026-2030).
O encontro acontece em um momento delicado para Pequim, com o acirramento das disputas comerciais com os EUA. Por isso, analistas preveem que a pauta econômica vai dominar as discussões. O governo busca formas de estimular o consumo interno, conter a desaceleração (o PIB cresceu 4,8% no terceiro trimestre, abaixo das expectativas) e reverter a forte queda do investimento estrangeiro, que despencou 29% no último ano.
O novo plano deverá priorizar setores considerados estratégicos, como os de semicondutores, inteligência artificial, biotecnologia e energias limpas, além de reforçar a autossuficiência em cadeias produtivas sensíveis. A expansão do uso de IA para impulsionar a produtividade e compensar o envelhecimento da população é apontada como um dos eixos centrais.
Por que importa: o quarto plenário é um dos momentos mais importantes do ciclo político chinês e definirá a estratégia do país em um cenário global mais hostil.
Se a ênfase recair sobre “segurança” e “autossuficiência”, governos locais devem redirecionar crédito de setores tradicionais, como construção e serviços, para manufatura avançada e tecnologias estratégicas, prolongando o cenário de deflação e sobrecapacidade.
Na mesma toada, uma linguagem de apoio às estatais e de maior controle sobre o capital privado sugerirá um ambiente regulatório mais incerto para empresas estrangeiras e uma triagem mais seletiva de investimento.
Mesmo nuances no discurso sobre Taiwan podem gerar uma reprecificação de riscos logísticos e securitários na Ásia, enquanto a combinação de tarifas e controles estratégicos deve deslocar capital chinês para regiões mais receptivas e aprofundar a fragmentação de cadeias globais e padrões tecnológicos.
pare para ver
“Defenda com firmeza o comunicado da 11ª Terceira Sessão Plenária do 8º Comitê Central do Partido e celebre com entusiasmo a nova e grandiosa vitória do pensamento de Mao Tsé-tung”, diz a propaganda comunista de 1966 de autoria desconhecida.
o que também importa
★ A China acusou a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) de realizar ciberataques contra seu Centro Nacional de Serviço de Tempo, órgão que define o horário padrão do país. Segundo o Ministério da Segurança do Estado, a NSA explorou falhas em serviços de mensagens de uma marca estrangeira de celular para roubar dados de funcionários em 2022 e usou 42 tipos de “armas cibernéticas” para atacar redes internas entre 2023 e 2024. Mexer no horário oficial de um país pode causar uma série de problemas, incluindo um colapso no sistema financeiro que se guia pelo referencial para consolidar transações. O governo chinês disse ter provas do ataque, mas não divulgou nada; os EUA não comentaram.
★ O Guomindang (KMT), principal partido de oposição em Taiwan, elegeu neste fim de semana uma nova líder. Reformista, favorável à aproximação com a China e conhecida por militar contra o alto gasto com defesa na ilha, Cheng Li-wun derrotou o ex-prefeito de Taipé Hau Lung-bin e prometeu que o KMT será um “criador da paz regional”, afirmando que Taiwan “não deve se tornar um problema” na Ásia. A eleição ocorreu em meio a acusações de interferência chinesa online, negadas por Cheng. O KMT e o Partido Popular de Taiwan têm maioria no Legislativo, dificultando a agenda do governista Partido Progressista Democrático.
★ O Partido Comunista chinês expulsou o vice-presidente da Comissão Militar Central (CMC) e segundo maior general do país, He Weidong, além de outros oito generais, por “graves violações disciplinares” e por suspeitas de corrupção. Membro do Politburo, He é o primeiro integrante ativo desse órgão a ser investigado. Os outros oficiais, todos ligados a altos comandos do Exército, Marinha e Força de Foguetes, foram acusados de crimes graves e de causar “impacto extremamente negativo”. A medida, a poucos dias de uma reunião crucial do Partido que vai desenhar o plano quinquenal que define metas para o país, é mais um passo numa ostensiva campanha anti-corrupção iniciada por Xi nas forças armadas que já derrubaram o ex-ministro da Defesa Li Shangfu em 2023.
fique de olho
Pela primeira vez em sete anos, a China não importou soja dos Estados Unidos em setembro, reflexo direto da disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo. Segundo dados da alfândega chinesa, as compras do grão americano caíram de 1,7 milhão de toneladas no mesmo mês de 2024 para zero neste ano.
Analistas atribuem o colapso nas importações às tarifas chinesas e ao fim dos estoques remanescentes da última safra americana
Enquanto isso, as exportações do Brasil para a China dispararam 30%, somando quase 11 milhões de toneladas, cerca de 85% de todas as compras chinesas do grão em setembro. As remessas argentinas também cresceram mais de 90%, alcançando 1,17 milhão de toneladas.
Por que importa: a soja é um dos pilares do comércio entre China e EUA, e a ausência de novas compras agrava as perdas de produtores americanos. Pequim tem jogado com a dinâmica do produto para pressionar Washington em negociações comerciais, mas a aposta é arriscada.
Maior exportador mundial, o Brasil não consegue absorver integralmente a demanda chinesa se os americanos não participarem porque a maior parte do nosso grão é colhido em época diferente. Se isso acontecer, os chineses correm o risco de enfrentar escassez temporária entre fevereiro e abril de 2026, antes da nova safra brasileira.
para ir a fundo
- O Museu da Imigração na Mooca (São Paulo) abre nesta sexta (24) a mostra “Seda que une montanhas e mares da China ao Brasil”, realizada em parceria com o Museu Nacional da Seda de Hangzhou. A exposição traz mais de cem peças, entre artefatos, indumentárias e objetos históricos, que conectam tradições, histórias e rotas culturais entre os dois países. Saiba mais aqui.
- A Rede China e América Latina realiza na manhã do dia 30 de outubro (quinta) um seminário online para discutir os desafios chineses no século XXI. O evento é gratuito e os interessados podem se inscrever aqui.
