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‘Música para Morrer de Amor’: peça celebra 15 anos – 21/10/2025 – Mise-en-scène

A Cia. Empório de Teatro Sortido celebra seus 15 anos com uma versão repaginada de “Música para Morrer de Amor”. A peça, que originalmente se chamava “Música para Cortar os Pulsos”, foi o trabalho de estreia do grupo em 2010 e lhe rendeu o prêmio APCA de melhor espetáculo jovem. A nova montagem é uma reinvenção especial, que troca os monólogos confessionais da versão original por uma linguagem musical.

A direção dupla de Fabrício Licursi e Victor Mendes é o coração dessa transformação. Mendes, que atuou no elenco original, traz um conhecimento íntimo do texto, garantindo que a essência da obra seja preservada. Já Licursi, com sua expertise em movimento, é o responsável por dar corpo à nova proposta, fazendo com que a música não seja apenas um fundo emocional, mas a própria dramaturgia. Juntos, eles equilibram a verdade textual com a expressão física.

A mudança do título já sinaliza uma nova abordagem: de um ato impulsivo (“cortar os pulsos”) para uma consequência melancólica (“morrer de amor”). A nova montagem explora essa profundidade, usando canções originais, criadas de forma colaborativa com o elenco, para exteriorizar a dor e a confusão que antes ficavam restritas aos longos monólogos. Luiza Porto, Daniel Haidar e Vitor Rocha, que, além de excelentes intérpretes, são co-criadores, tocando instrumentos em cena e transformando a angústia individual em uma experiência coletiva e catártica.

A peça mantém a estrutura que consagrou o texto: três jovens – Isabela, Felipe e Ricardo – navegando pelos dramas do desamor e da amizade, com um triângulo amoroso que mantém sua relevância. Com apenas 70 minutos de duração, o espetáculo é leve e ágil. A música funciona como um atalho emocional, dando agilidade à narrativa e intensidade à experiência, evitando o risco de cair em clichês.

Ao transformar a confessionalidade estática em performance dinâmica, a direção consegue uma proeza: torna a dor amorosa dos personagens não só compreensível, mas genuinamente compartilhada com a plateia. A nova versão prova que a obra seminal da companhia não apenas resiste ao tempo, mas ganha novas camadas e ressonância em sua forma musicada.

Três perguntas para…

… Victor Mendes

Você é um dos únicos artistas a vivenciar essa obra em três dimensões: como ator na montagem original de 2010, no filme de 2019 e agora como co-diretor. Como essa experiência completa moldou a sua visão para esta nova montagem?

Essa é uma história que me acompanha de perto desde que ela existe. Nasceu enquanto eu cursava meu primeiro ano na Escola de Arte Dramática da USP. Fui amadurecendo como artista ao mesmo tempo que a peça amadurecia em mim. Na montagem original vivemos o sonho dos processos: amigos apaixonados pelo teatro querendo fazer uma peça juntos, com tempo, com investigação e com delicadeza para descobrir as forças e sutilezas do texto do Rafa.

Hoje, em conexão com esse texto há 15 anos, eu sinto que conheço essa peça de cabeça pra baixo, já vivi emoções parecidas, já vi novos atores se aproximarem do texto e ouvi suas visões sobre ele. Disso tudo, o que me instigava a pensar numa nova montagem era justamente equalizar a delicadeza e intimidade que a primeira montagem tinha com a possibilidade de colocar a música dentro da cena, na boca desse trio, de forma natural, pensar música para a peça.

Isso era uma coisa que não tínhamos feito ainda. Por isso eu sugeri aos meus parceiros (Fabricio Licursi na direção e Rafael Gomes no texto) convidar Luiza Porto, Vitor Rocha e Daniel Haidar, pois para além dos talentos individuais para músicas, eles são amigos e espelham essa amizade antiga que tenho com Mayara Constantino e o Rafa Gomes.

A mudança do título, de “Música para Cortar os Pulsos” para “Morrer de Amor”, parece refletir uma mudança de tom. Na sua visão, o que essa nova versão diz sobre o amor e o desamor que a versão original de 2010 não dizia?

Mesmo correndo o risco de parecer um tiozão com essa resposta (risos), acho que em 2010 a gente sofria mais, num outro tempo. Dilatado. O público chorava muito na peça. Tudo era mais profundo e dolorido quando se referia a dores de amor. E isso não era uma direção não… A dor de hoje ou o amor de hoje talvez sejam os mesmos, mas a maneira de lidar com esses sentimentos não… Não era o tempo do meme, das trends… esse é mais ágil, mais solto… Hoje, de uma forma que eu ainda acho esquisita, as coisas são um pouco mais leves, ou parecem ser… sei lá, a gente era mais “Jovem Werther” em 2010 (claro que com as devidas proporções).

Hoje acho que eles são mais rápidos na transformação desses sentimentos, e se munem de recursos para camuflar ou anular aquilo que sentem, seja uma dor sincera, seja uma nova paixão. Na peça, nessa nova versão, perseguimos um pouco essa leveza, numa composição de scrapbook, bem artesanal mesmo, criando um relicário com muitas sobreposições dessas lembranças.

A peça original tinha um poder de comunicação enorme com os jovens. Hoje, em 2025, o que você acredita que este espetáculo tem a dizer para uma nova geração de adolescentes e jovens adultos, em um contexto cultural tão diferente de 2010?

Acho que ela se comunica muito bem com esse público ainda! É uma peça que “envelheceu” bem demais. Porque é um sentimento universal, né? E quando se é jovem, você com certeza vai se identificar com eles ou pelo menos com algum desses personagens.

Acho que não temos uma mensagem específica para o público, mas a beleza da peça e dessa nova versão é justamente essa, criar essa identificação tão direta, tão exclusiva que por mais que o teatro, seja uma experiência coletiva, você parece ter a dimensão de que o “algoritmo” criou algo sob medida para você. Seja pela música, seja pelos objetos que aparecem em cena, pelas roupas ou só pelo fato de serem jovens e estarem ali dizendo essas palavras, às vezes doces e às vezes porrada.

Teatro Estúdio – rua Conselheiro Nébias, 891, Campos Elíseos, região central. Qua. à sáb., 20h. Dom., 15h e 18h. Até 30/10. Duração: 70 minutos. A partir de R$ 50 (meia-entrada) em sympla.com.br

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