Nomeada a primeira mulher primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi indicou apenas outras duas mulheres para seu gabinete, nesta terça-feira (21). A nova primeira-ministra havia prometido um gabinete com “níveis nórdicos” de mulheres, acima das duas que participavam do governo do seu antecessor, Shigeru Ishiba —o recorde no país é de cinco mulheres na gestão central.
Ela, porém, nomeou apenas outras duas mulheres para seu gabinete, de um total de 19 membros: Satsuki Katayama, encarregada das finanças, e a nipo-americana Kimi Onoda assumindo a pasta de segurança econômica.
O Japão ficou em 118º lugar entre 148 países no Relatório Global de Disparidade de Gênero de 2025 do Fórum Econômico Mundial. Cerca de 15% dos deputados da câmara baixa são mulheres.
Takaichi afirmou que espera aumentar a conscientização sobre a luta pela saúde das mulheres e falou com franqueza sobre sua própria experiência com a menopausa.
Mas ela é vista como socialmente conservadora, opondo-se à revisão de uma lei do século 19 que exige que casais compartilhem o mesmo sobrenome, e quer que a família imperial mantenha a sucessão exclusivamente masculina.
“Eu ficaria feliz se víssemos mais políticas da perspectiva feminina: apoio à creche e ajuda para mulheres que retornam ao trabalho após terem filhos”, disse à AFP a estudante Nina Terao, 18, em Nara.
Yu Uchiyama, professor de ciência política da Universidade de Tóquio, descreveu a nomeação de Takaichi como histórica, embora afirme que a escolha da primeira chefe de governo do Japão não significa que o país vá avançar na direção de maior diversidade, equidade e inclusão.
Estando em minoria nas duas casas do Parlamento, a nova coalizão precisará de apoio de outros partidos para aprovar leis. Os muitos desafios de Takaichi incluem ainda a grave crise demográfica do Japão, que vê declínio da população em números absolutos há anos, e a economia estagnada.
“Os preços subiram, e está difícil”, disse Satoe Tominaga, 77, aposentada moradora de Nara, afirmando que estava dividida sobre a eleição de Takaichi. “Honestamente, agora faço compras principalmente em lojas de 100 ienes (US$ 0,66)”, disse à AFP.
Com Takaichi, o Japão chega a cinco líderes em cinco anos. Ela inicia seu governo minoritário também com uma agenda sobrecarregada, principalmente ante a visita programada do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, marcada para a próxima semana.
Takaichi consolida a trajetória de mais de sete décadas da sua sigla à frente do governo japonês —ela mesma já foi titular de diversas pastas sob governos anteriores, como dos premiês Shinzo Abe, morto em 2022, e Fumio Kishida. Sua ascensão ao cargo ocorreu após receber 237 votos na câmara baixa, superando a maioria dos 465 assentos.
Admiradora de Margaret Thatcher, a nova primeira-ministra se tornou líder do Partido Liberal-Democrata (PLD) no último dia 4, mas sua coalizão desmoronou dias depois.
Isso forçou Takaichi a formar uma aliança com o reformista de direita Partido da Inovação do Japão, conhecido como Ishin, assinada nesta segunda-feira (20). Após eleita, Takaichi assume oficialmente o cargo após se encontrar com o imperador Naruhito.
A nova premiê entregou o cargo de ministro das Relações Exteriores a Toshimitsu Motegi, que foi reconhecido por lidar com os laços comerciais com o primeiro governo de Trump. O presidente dos EUA quer que Tóquio interrompa as importações de energia russa e aumente os gastos com defesa.
Os detalhes de supostos US$ 550 bilhões em investimentos do Japão nos EUA, divulgado por Trump como parte de acordo comercial com Washington que reduziu tarifas aplicadas a Tóquio, permanecem obscuros.
Takaichi já deu declarações críticas à China. Ela afirmou anteriormente que “o Japão é completamente menosprezado pela China” e que Tóquio deve “enfrentar a ameaça à segurança” representada por Pequim.
Desde então, no entanto, ela moderou sua retórica, e na semana passada se manteve afastada do santuário Yasukuni, que homenageia os mortos de guerra do Japão, há muito um ponto de atrito nos laços regionais de Tóquio.
O Ministério das Relações Exteriores da China nesta terça-feira instou Tóquio a “honrar seus compromissos políticos em questões importantes, incluindo história e Taiwan”.
China e Japão são parceiros comerciais importantes, mas o atrito sobre rivalidades territoriais e gastos militares tem desgastado os laços nos últimos anos.
O Japão abriga cerca de 54 mil militares americanos. Além disso, é aliado próximo de Washington que também faz parte do grupo Quad, junto com Austrália e Índia, visto como um contrapeso regional a Pequim.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, também parabenizou Takaichi, dizendo que os laços entre os dois países são “cada vez mais profundos e vitais para a paz, estabilidade e prosperidade em todo o Indo-Pacífico e além”.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, parabenizou Takaichi por “fazer história” como a primeira mulher à frente do Japão.
Takaichi também estará sob pressão para restaurar a performance eleitoral do PLD após uma série de resultados eleitorais ruins que custaram o cargo de Ishiba. Entre os partidos menores que estão galvanizando apoio está o ultradireitista Sanseito, liderado por Sohei Kamiya, que chama a imigração de “invasão silenciosa”.