Donald Trump pressionou Volodimir Zelenski a aceitar os termos da Rússia para encerrar sua guerra em uma reunião volátil na Casa Branca na sexta-feira, advertindo que Vladimir Putin havia dito que iria “destruir” a Ucrânia se ela não concordasse.
A reunião entre os presidentes dos Estados Unidos e da Ucrânia desceu várias vezes para uma “discussão aos gritos”, com Trump “xingando o tempo todo”, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
Elas acrescentaram que o presidente dos Estados Unidos jogou fora mapas da linha de frente na Ucrânia, insistiu que Zelenski entregasse toda a região de Donbas a Putin e repetidamente ecoou argumentos que o líder russo havia feito em sua ligação um dia antes.
Embora Trump tenha posteriormente endossado um congelamento das atuais linhas de frente, a reunião acrimoniosa pareceu refletir a natureza caprichosa da posição do presidente dos Estados Unidos sobre a guerra e sua disposição em endossar as demandas maximalistas de Putin.
A reunião entre Trump e Zelenski ocorreu em meio a um novo impulso do presidente dos Estados Unidos para encerrar a guerra da Rússia após o cessar-fogo garantido entre Israel e Hamas.
Zelenski e sua equipe foram à Casa Branca esperando persuadir Trump a fornecer-lhes mísseis de cruzeiro Tomahawk de longo alcance, mas o presidente dos Estados Unidos acabou recusando-se a fazê-lo.
A tensa reunião ecoou um encontro igualmente conflituoso na Casa Branca em fevereiro, no qual Trump e o vice-presidente JD Vance criticaram Zelenski pelo que caracterizaram como falta de gratidão para com os Estados Unidos.
Durante a reunião de sexta-feira, Trump pareceu ter adotado muitos dos argumentos de Putin literalmente, mesmo quando contradiziam suas próprias declarações recentes sobre as fraquezas da Rússia, disseram autoridades europeias informadas sobre a reunião.
De acordo com um funcionário europeu com conhecimento da reunião, Trump disse a Zelenski que Putin lhe havia dito que o conflito era uma “operação especial, nem mesmo uma guerra”, acrescentando que o líder ucraniano precisava fazer um acordo ou enfrentar a destruição.
O funcionário disse que Trump disse a Zelenski que ele estava perdendo a guerra, advertindo: “Se [Putin] quiser, ele vai destruir você.”
Em um momento da reunião, o presidente dos Estados Unidos jogou de lado os mapas da Ucrânia do campo de batalha, disse o funcionário familiarizado com o encontro. Segundo o funcionário, Trump disse que estava “farto” de ver o mapa da linha de frente da Ucrânia repetidamente.
“Esta linha vermelha, eu nem sei onde isso fica. Nunca estive lá”, disse Trump, segundo o funcionário.
Trump também disse que a economia da Rússia está “indo muito bem”, disse o funcionário, em forte contraste com suas recentes declarações públicas nas quais ele pressionou Putin a negociar porque sua “economia vai entrar em colapso”.
A Casa Branca e o gabinete do presidente ucraniano não responderam imediatamente aos pedidos de comentário.
Trump disse à Fox News no domingo que estava confiante em garantir o fim do conflito e acrescentou que Putin “vai levar alguma coisa, ele ganhou certa propriedade”.
Putin fez uma nova oferta a Trump na quinta-feira, segundo a qual a Ucrânia entregaria as partes da região oriental de Donbas sob seu controle em troca de algumas pequenas áreas das duas regiões da linha de frente sul de Kherson e Zaporíjia.
A proposta russa marca uma pequena concessão em relação à feita durante o último encontro de Putin com Trump no Alasca em agosto, onde ele disse que concordaria em congelar a linha de contato em outros lugares da linha de frente se a Ucrânia entregasse o Donbas.
Essa reunião também terminou de forma acrimoniosa depois que Putin rejeitou a pressão de Trump por um cessar-fogo imediato e divagou longamente sobre a história medieval ucraniana, levando os Estados Unidos a explorar um apoio ampliado a Kiev, incluindo o fornecimento de mísseis tomahawk.
Mas ceder o restante do Donbas ainda sob controle ucraniano seria inaceitável para a Ucrânia, pois entregaria a Moscou território que ocupou apenas parcialmente por mais de uma década e não conseguiu tomar apesar de seus esforços desde que Putin ordenou a invasão em 2022.
As forças russas têm lutado para manter o território em Kherson e Zaporíjia que Putin ofereceu em troca, e não fizeram praticamente nenhum progresso no campo de batalha desde 2022, ano em que a guerra começou.
“Dar [o Donbas] à Rússia sem lutar é inaceitável para a sociedade ucraniana, e Putin sabe disso”, disse Oleksandr Merezhko, presidente do comitê de relações exteriores do parlamento ucraniano.
Ele disse que Putin pode estar pressionando a ideia controversa “com o propósito de causar divisão dentro da Ucrânia e minar nossa unidade”.
Merezhko acrescentou: “Não se trata de obter mais território para a Rússia, trata-se de como nos destruir por dentro.”
A repetição beligerante de Trump da retórica de Putin na sexta-feira frustrou as esperanças entre muitos dos aliados europeus da Ucrânia de que ele pudesse ser convencido a aumentar o apoio a Kiev.
Essa esperança havia aumentado depois que Trump, nas últimas semanas, expressou frustração e impaciência com a recusa do presidente russo em se envolver ativamente em negociações bilaterais de paz com Zelenski.
Três outros funcionários europeus informados sobre as discussões na Casa Branca confirmaram que Trump passou grande parte da reunião dando lições a Zelenski, repetindo os argumentos de Putin sobre o conflito e instando-o a aceitar a proposta russa.
“Zelenski estava muito negativo” após a reunião, segundo um dos funcionários, acrescentando que os líderes europeus estavam “não otimistas, mas pragmáticos com o planejamento dos próximos passos”.
Em uma declaração no domingo, Zelenski disse que “passos decisivos são necessários dos Estados Unidos, Europa, países do G20 e G7” para acabar com a guerra.
