O prêmio Nobel de Economia, Joel Mokyr, mostrou como o conhecimento, modelos mentais e crenças impactam o desenvolvimento econômico. Como argumentou, a Revolução Industrial surgiu da “grande sinergia do Iluminismo: a combinação do programa baconiano centrado no conhecimento útil” —aplicado, não só teórico— “e o reconhecimento que instituições melhores criavam incentivos melhores”.
Em outras palavras, ideias, crenças e valores importam para o desenvolvimento de longo prazo; não são apenas os incentivos materiais, mas a capacidade do “empreendedor cultural” de remodelar os modelos mentais que determina se as instituições evoluem de forma produtiva. Isto explica porque aquela revolução aconteceu na Grã-Bretanha e não na China (a análise recente de Bernardo Mueller aqui é primorosa).
Lee Alston, Bernardo Mueller, Carlos Pereira e este colunista exploram estas questões em “Brazil in Transition: beliefs, leadership and institutional change”. O livro é parte de uma série da Princeton Press dirigida por Mokyr, que organizou um workshop em Chicago para discutir nosso manuscrito.
O livro oferece um quadro conceitual baseado na experiência brasileira, com foco na transformação institucional dos anos 1980 e 1990, enfatizando que as transições não dependem apenas de choques e interesses, mas de crenças. Estas são os mapas cognitivos que orientam as instituições, moldando o que os atores veem como possível, legítimo ou desejável.
Quando os resultados divergem fortemente das expectativas, essas crenças tornam-se maleáveis. É nesse momento que a liderança se torna crucial: líderes atuam como intérpretes dos choques, persuadindo a rede dominante composta por Executivo, empresariado, sociedade civil, Judiciário e Legislativo que novos arranjos institucionais são necessários.
O quadro proposto converge com a ênfase de Mokyr de que as ideias em si impulsionam a evolução institucional. A guinada brasileira em direção à estabilidade macroeconômica e à inclusão social nos anos 1990 não foi simplesmente um produto de constrangimentos estruturais. Refletiu entendimentos compartilhados de que o controle inflacionário e a política social eram pré-condições para a prosperidade. Mas a transição permaneceu incompleta.
Crises —hiperinflação, escândalos de corrupção, choques fiscais— criam janelas de oportunidade. Se serão aproveitadas depende de como a rede dominante as interpreta. As instituições então cristalizam crenças em regras e incentivos duradouros. Os resultados fornecem retroalimentação: o sucesso reforça crenças, enquanto o fracasso reabre o debate.
As crenças não são meras condições de fundo: elas são disputadas, reinterpretadas e defendidas retoricamente. Determinam se os choques são vistos como aberrações ou como mandatos para reforma.
A lição é mais ampla: transições críticas exigem mudanças nos modelos mentais coletivos tanto quanto no desenho institucional. Os interesses, por si só, não explicam por que alguns países sustentam a abertura enquanto outros regridem.
Como lembra Mokyr, o desenvolvimento é uma batalha de ideias tanto quanto de recursos. Países presos em ciclos de crise, o verdadeiro desafio não é apenas elaborar melhores políticas, mas cultivar os sistemas de crenças que tornam possível a mudança institucional.
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