Lula começou a demitir um pessoal do centrão que tinha cargos no governo. É gente que foi indicada por partidos de direita que têm votado contra Lula no Congresso e deve apoiar Tarcísio na eleição do ano que vem.
Era como se, no governo Bolsonaro, houvesse ministros do PC do B que trabalhassem abertamente pela candidatura de Lula em 2022 e, enquanto isso, o PC do B derrotasse todas as propostas de Paulo Guedes no Congresso. Não tinha como durar.
Parte da briga é sobre quem vai ter dinheiro para gastar na campanha de 2026.
A direita no Congresso quer fazer com Lula o contrário do que fez com Bolsonaro em 2022. Na última eleição, a direita no Congresso explodiu o teto de gastos para permitir que Jair gastasse uma fortuna durante a campanha. Dessa vez, a direita quer deixar Lula sem dinheiro em 2026, ou forçá-lo a equilibrar as contas cortando gastos sociais populares.
Como disse na última coluna, é por isso que os conservadores, sob liderança de Tarcísio de Freitas, desidrataram e derrubaram a MP 1303, que ajudava a equilibrar as contas com custo social baixo.
Bem, Lula também tem como deixar parte da direita mais pobre na campanha do ano que vem.
Boa parte dos partidos que apoiam Tarcísio têm cargos no governo federal. Usam esses cargos para distribuir bondades para seus redutos eleitorais: obras, recursos e oportunidades para prefeitos amigos que podem decidir uma eleição para deputado.
Ou seja: os partidos do centrão planejavam usar recursos do governo federal para se fortalecer enquanto se preparavam para fazer campanha para a oposição.
Mas aí você pode se perguntar: por que Lula não demitiu essa gente antes?
Em primeiro lugar, porque a maioria de direita no Congresso é tão avassaladora que governos de esquerda não podem dispensar sequer o apoio de partidos de direita que só entregam 30% ou 40% dos seus votos no Congresso a favor do governo. Enquanto esses aliados de baixa qualidade garantirem o funcionamento mínimo do governo, vale a pena recompensá-los com cargos.
A derrota da MP 1303, entretanto, mostrou que nem esse funcionamento mínimo os aliados de baixa qualidade estavam garantindo. Cresceu a suspeita no governo, inclusive, de que aliados de qualidade entre zero e negativa estivessem trabalhando contra o funcionamento do governo, porque já teriam embarcado na candidatura oposicionista.
Além disso, a baixa popularidade de Lula o forçava a ceder anéis, dedos, antebraços e omoplatas para o centrão. Quando, no começo do ano, pareceu que Lula perderia a eleição de 2026, suas ofertas de cargo passaram a ter validade de dois anos. A moeda de troca de que Lula dispunha passou a valer menos.
Agora que Lula se recuperou nas pesquisas, suas promessas de cargo voltaram a ter validade maior: quem negociar com o governo pode ganhar cargos não por um, mas por cinco anos, se Lula for reeleito. Com isso, o poder de barganha da presidência aumentou. Lula passou a chegar na mesa com cartas melhores.
Do outro lado do balcão, a ameaça “Lula, faça o que eu quiser ou eu vou apoiar Tarcísio” passou a valer menos. Afinal, Lula pode cada vez mais responder “Vai lá, e boa sorte vivendo sem cargos por cinco anos”.
Para o centrão, não há pior pesadelo.
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