O novo governo do Peru suspendeu o chefe da polícia de Lima nesta sexta-feira (17), dois dias após protestos na capital convocados por jovens da geração Z deixarem um morto e mais de 100 feridos. A gestão ainda prepara um estado de emergência para a cidade sob a justificativa de combater a insegurança, um dos motivos das manifestações.
O general Enrique Felipe Monroy, chefe da região policial de Lima, foi substituído temporariamente pelo general Manuel Vidarte, segundo um memorando obtido pela AFP. Monroy foi afastado do cargo que ocupava desde janeiro de 2024 até que terminem as investigações sobre a atuação da força pública durante os protestos, segundo afirmou um membro da corporação à agência de notícias.
Além dele, também foram suspensos dois generais das divisões de inteligência e de investigação criminal em nível nacional. Em um comunicado, o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos instou as autoridades a dar “prioridade ao diálogo” e a empregar a força de maneira excepcional.
As manifestações de quarta (15) contra o Congresso e o governo de direita de José Jerí que, em 10 de outubro, substituiu o da ex-presidente Dina Boluarte, foram o ápice de vários dias de atos que vinham se intensificando no último mês, sob o grito de “que se vayan todos” —uma mostra da insatisfação da população que já teve sete presidentes em quase uma década.
Em entrevista coletiva na noite desta quinta (16), o primeiro-ministro Ernesto Álvarez afirmou que o país declararia estado de emergência em poucas horas e está preparando um pacote de medidas para combater a crescente insegurança.
Durante a manifestação mais recente, o rapper Eduardo Ruiz, 32, morreu após ser atingido por um disparo feito por um suboficial que foi detido e será desligado da polícia e pelo menos 113 pessoas ficaram feridas, entre policiais e civis, segundo balanço das autoridades.
O movimento em Lima começou como uma reação à insegurança no país, mas em poucos dias se transformou em um protesto generalizado contra a classe política diante da falta de ações contra a criminalidade. Os jovens de 18 a 30 anos que puxam boa parte dos atos têm usado a bandeira do mangá e anime One Piece, novo símbolo de protesto juvenil global.
A crise de segurança foi também o motivo pelo qual a ex-presidente foi destituída pelo Congresso após um julgamento político relâmpago. Na última década, o Peru passou por sete governos, incluindo o mandato iniciado há uma semana, em meio a uma profunda crise de instabilidade política.
O possível Estado de emergência vai afetar pelo menos 10 milhões de pessoas que vivem na cidade e no porto vizinho de Callao. “Em breve, provavelmente em algumas horas, anunciaremos as primeiras medidas nesse sentido”, disse o novo presidente nesta sexta, durante uma cerimônia em uma base policial de Lima.
Durante o estado de emergência, o governo poderá militarizar as ruas e restringir direitos como a liberdade de reunião. Jerí, que tem 38 anos e até então era líder do Parlamento, assumiu a Presidência de forma interina até julho de 2026, quando deverá entregar o cargo após as eleições gerais.
