Naquela noite, todos tinham um motivo —César, Marco Aurélio, Celina, Heleninha e Maria de Fátima. Cinco suspeitos, um hotel e uma morte. Ao analisar as imagens da cena da morte de Odete Roitman, a cena do crime, ponto de partida de toda investigação cada detalhe conta.
O sangue fala, o silêncio grita, as pistas revelam e os erros entregam a verdade. A partir dessa análise, é possível chegar a conclusões interessantes, ainda que não determinantes para o desenrolar da novela.
Afinal, estamos diante de uma obra de ficção, e é natural que a produção tenha cometido erros sutis pertinentes a obras do gênero, detalhes perceptíveis apenas a olhos policiais. Um ponto crucial: Odete, antes do disparo, não demonstra pânico. Ela tenta convencer o atirador a não atirar, com uma serenidade improvável para quem encara uma arma.
Isso sugere algo fundamental: ela conhecia e não temia o criminoso. Uma reação calma, sem gritos, sem recuo brusco, indica proximidade, confiança ou até cumplicidade. Essa atitude muda completamente a leitura da cena.
O delegado da novela, Mauro, chegou ao local do crime e constatou que houve dois tiros. Em seguida, pediu a um de seus policiais para enviar as provas para a balística e ainda determinou a remoção do corpo do local, sob alegação de “ordem superior” do Secretário de Segurança Pública. A partir daí, o caso deixa de ser apenas um crime e passa a ter contornos de ingerência política.
Pelos detalhes observados, tudo indica que a arma utilizada foi uma pistola semiautomática. É possível afirmar isso pela presença do ferrolho superior, característica visível na cena e pelo som metálico ouvido logo após o tiro, que corresponde ao cartucho sendo ejetado e caindo no chão. O que nunca aconteceria com um revólver, que não ejeta cartuchos devido ao seu sistema de tambor.
Portanto, o disparo que atingiu Odete não partiu de um revólver calibre 38 deixado na cena ainda quente, mas de uma pistola de pequeno porte e alta velocidade de disparo. Tudo indica que o revólver foi plantado para desviar a investigação.
Mesmo sem o laudo necroscópico oficial, o ferimento aparente indica que o tiro atingiu a região do estômago, podendo ter tocado o esterno ou uma costela. Mas o fato de o projétil ter atravessado o corpo, deixando uma marca de sangue e perfuração na parede, logo atrás da vítima, mostra que o disparo atingiu apenas tecidos moles, sem contato com ossos.
Isso descartaria a morte instantânea: um tiro assim dificilmente é fatal no momento do impacto. A causa mais provável seria o choque hipovolêmico, a perda massiva de sangue, inclusive interna, que leva à inconsciência e à morte em poucos minutos.
Na ficção, Odete é lançada para trás após o disparo. Na vida real, isso não aconteceria. O corpo de uma vítima atingida no abdômen se projeta para frente, reflexo da contração muscular e da onda de choque e não é arremessado para trás.
Um disparo que atravessa o corpo sem atingir ossos não gera força de recuo suficiente para derrubar a pessoa de costas. Para que isso ocorresse, seria necessário um impacto em estrutura óssea ou craniana, o que não é o caso.
A cena também mostra duas marcas de tiros na parede, mas sem perícia técnica é impossível confirmar se vieram da mesma arma. O revólver encontrado no local, com digitais de Heleninha e Celina, pode até ter sido usado num segundo disparo apenas para criar confusão na investigação.
E se tudo o que vimos fosse apenas uma encenação brilhantemente construída, com cada detalhe planejado para enganar até os olhos mais atentos?
Odete tinha poder, influência e aliados estratégicos. Tinha recursos, conexões políticas e uma rede de lealdades compradas no silêncio. Nada mais coerente do que transformar sua própria morte na sua obra-prima de manipulação.
Esse detalhe abre uma nova linha de raciocínio: pode ter havido não um homicídio, mas uma trama criminosa: falsa comunicação de crime —art. 340, CP; fraude processual —art. 347, CP; associação criminosa —art. 288, CP; e falsidade ideológica —art. 299, CP.
Quem matou Odete Roitman? Talvez ninguém tenha tido realmente a coragem.