11.5 C
Nova Iorque
quinta-feira, outubro 16, 2025
No menu items!

Buy now

spot_img
No menu items!

Londres vira hub de esquema global de roubo de celulares – 16/10/2025 – Mundo

As sirenes ecoaram quando vans da polícia entraram em uma rua no norte de Londres, e pedestres surpresos pararam para assistir enquanto os agentes invadiam três lojas de celulares usados.

“O senhor tem um cofre aqui?”, perguntou o policial a um lojista que estava sentado ao lado do computador com uma xícara de chá pela metade.

O homem observou enquanto eles reviravam celulares, dinheiro e documentos em dois cofres. A operação, à qual o The New York Times assistiu, foi uma das dezenas realizadas em toda a capital do Reino Unido no mês passado, parte de um esforço tardio da Polícia Metropolitana para enfrentar o problema de roubo de celulares que tem assolado a cidade.

A escala do crime ultrapassou o furto comum que Londres conhece desde antes de Oliver Twist, de Charles Dickens, torná-lo famoso. Ladrões cada vez mais ousados, muitas vezes mascarados e usando bicicletas elétricas, tornaram-se especialistas em arrancar celulares das mãos de moradores e turistas. Um recorde de 80 mil celulares foi roubado na cidade no ano passado, segundo a polícia, dando a Londres uma indesejada reputação de capital europeia desse tipo de crime.

As operações do mês passado tinham como objetivo identificar um grupo de intermediários que, segundo a polícia, usam lojas de celulares usados como parte de uma rede criminosa global em múltiplas camadas. Ao final das duas semanas de operação, os detetives haviam encontrado cerca de 2.000 celulares roubados e £ 200 mil (R$ 1,45 milhão) em dinheiro.

Depois de anos em que o combate a roubo de celulares não foi uma prioridade, as novas operações revelam uma curiosa combinação de fatores por trás da epidemia, incluindo cortes drásticos nos orçamentos da polícia britânica na década de 2010 e um lucrativo mercado clandestino de celulares europeus na China.

Papel-alumínio para driblar rastreamento

Durante anos, a polícia de Londres presumiu que a maioria dos roubos de celulares era obra de ladrões de pequeno porte em busca de dinheiro rápido. Mas, em dezembro, eles receberam uma pista intrigante de uma mulher que usou o “Buscar iPhone” para rastrear seu aparelho até um armazém perto do Aeroporto de Heathrow. Ao chegar lá, na véspera de Natal, os agentes encontraram caixas destinadas a Hong Kong. Elas estavam rotuladas como baterias, mas continham quase mil Iphones roubados.

“Ficou evidente que não se tratava apenas de um crime de rua comum”, disse Mark Gavin, investigador que lidera a investigação para a Polícia Metropolitana. “Isso era em escala industrial.”

A descoberta coincidiu com um esforço mais amplo da polícia para aumentar a confiança do público, enfrentando os crimes mais comuns da cidade. O roubo de celulares tem sido alvo de particular indignação entre as vítimas, que por anos relataram o furto de seus aparelhos e entregaram às autoridades as localizações transmitidas —apenas para receber um número de ocorrência e nunca mais ter retorno.

A polícia agora está usando essas informações para mapear para onde os celulares roubados são levados pelos ladrões. Após a apreensão em Heathrow, uma equipe de investigadores especializados, que normalmente lida com armas de fogo e tráfico de drogas, foi designada para o caso. Eles identificaram novos carregamentos e usaram perícia forense para chegar a dois homens, de cerca de 30 anos, suspeitos de liderar um grupo que enviava até 40 mil celulares roubados para a China.

Quando os homens foram presos em 23 de setembro, o carro em que estavam continha vários aparelhos, alguns embrulhados em papel alumínio numa tentativa de impedir a transmissão de sinais de rastreamento. Em certo momento, segundo a polícia, eles foram vistos comprando quase 1,5 quilômetro de papel-alumínio em uma loja da rede Costco.

Alguns celulares são resetados e vendidos a novos usuários no Reino Unido. Mas muitos são enviados à China e à Argélia como parte de um “modelo de negócio criminoso local-global”, disse a polícia, acrescentando que, na China, os aparelhos mais novos podem ser vendidos por até US$ 5.000, gerando enormes lucros para os criminosos envolvidos.

Joss Wright, professor associado da Universidade de Oxford especializado em segurança cibernética, afirmou que é mais fácil usar celulares britânicos roubados na China do que em outros lugares, pois muitas operadoras do país não participam da lista internacional que bloqueia dispositivos reportados como roubados.

“Isso significa que um iPhone roubado e bloqueado no Reino Unido pode ser usado sem problemas na China”, disse Wright.

Ladrões com bicicletas elétricas e balaclavas

Os exportadores estão no topo de uma rede criminosa de três níveis, segundo a polícia. No meio estão os lojistas e empresários que compram celulares roubados de ladrões e os revendem a consumidores desavisados ou os repassam para exportação. No nível mais baixo estão os ladrões. Seu número cresceu na mesma proporção dos altos lucros e da crescente sensação de impunidade.

O crime em geral em Londres diminuiu nos últimos anos, mas as ocorrências com celulares são desproporcionalmente altas, representando cerca de 70% dos furtos no ano passado. Os 80 mil roubos de 2024 representaram um salto em relação aos 64 mil de 2023, disse a polícia a um comitê parlamentar em junho.

Isso ocorre em parte porque o crime é ao mesmo tempo muito lucrativo e de baixo risco em comparação com o roubo de carros ou o tráfico de drogas, afirmou o comandante Andrew Featherstone, que lidera o esforço contra os roubos de celulares. Os ladrões podem ganhar até £ 300 (quase R$ 2.200) por aparelho —mais do que o triplo do salário mínimo diário nacional.

E eles sabem que é improvável serem pegos. Dados da polícia mostram que 106 mil celulares foram reportados como roubados em Londres de março de 2024 a fevereiro de 2025. Apenas 495 pessoas foram acusadas formalmente ou receberam advertência policial, o que significa que admitiram o delito.

É certo que muitas outras grandes cidades, incluindo Nova York, também enfrentam roubos de celulares. A polícia de Londres argumenta que as diferentes práticas de registro de crimes tornam impossível identificar onde o problema é mais grave no mundo.

Muitos especialistas culpam um aspecto especificamente britânico: o impacto de anos de austeridade impostos por governos liderados pelos conservadores na década de 2010, que resultaram em cortes no número de policiais e em seus orçamentos. Em 2017, a Polícia Metropolitana anunciou que deixaria de investigar crimes de baixo nível quando considerasse haver poucas chances de identificar os culpados, para priorizar o combate à violência grave e aos crimes sexuais.

Emmeline Taylor, professora de criminologia na City St. George’s, da Universidade de Londres, disse que a polícia “se tornou uma força mais reativa”. “Criminosos de carreira de baixo nível perceberam que estavam saindo impunes dos crimes que cometiam.”

Então, chegou um avanço tecnológico que tornou o trabalho deles ainda mais fácil: as bicicletas elétricas. As unidades da marca Lime, que podem ser alugadas e deixadas em qualquer lugar, chegaram a Londres em 2018 e se popularizaram rapidamente. Pouco tempo depois, tornaram-se os veículos de fuga preferidos dos ladrões de celulares.

O sargento Matt Chantry, um dos líderes da operação do mês passado, disse que os ladrões em bicicletas elétricas são “um verdadeiro problema”. Eles sobem nas calçadas e arrancam celulares das mãos das pessoas em alta velocidade, enquanto usam balaclavas e capuzes para evitar a identificação. “Como se combate isso?”, perguntou.

Persegui-los nas ruas congestionadas de Londres é “de alto risco”, disse ele, colocando em perigo pedestres, motoristas e até o próprio infrator. “No fim das contas”, afirmou, “a polícia precisa se perguntar: vale o risco de uma fatalidade por causa de um celular?”

Achados e perdidos: 4.000 iPhones

A operação nas três lojas de celulares usados no norte de Londres no mês passado deu resultado: a polícia recuperou £ 40 mil (R$ 291 mil) e cinco celulares roubados. Esses aparelhos se juntarão a cerca de 4.000 outros Iphones roubados recuperados desde dezembro, armazenados em um depósito em Putney, no sudoeste de Londres, enquanto os agentes tentam localizar seus donos.

No longo prazo, disse Featherstone, a polícia quer desmantelar as redes criminosas que alimentam o comércio ilegal e “desincentivar os criminosos de querer roubar celulares”, deixando claro que eles podem ser pegos.

A polícia também espera que os usuários se tornem mais conscientes sobre sua própria segurança. Mesmo com os smartphones se tornando mais sofisticados e valiosos, muitas pessoas lidam com eles de forma cada vez menos cuidadosa. Para o ladrão moderno, o alvo clássico é o pedestre andando perto do meio-fio, absorvido pelo conteúdo da tela —um mapa, uma mensagem, um vídeo.

“Você não contaria seu dinheiro na rua”, disse Lawrence Sherman, professor emérito de criminologia da Universidade de Cambridge. “Quando o celular vale £ 1.000, é como tirar £ 1.000 da carteira e olhar para as cé dulas enquanto caminha.”

Related Articles

Stay Connected

0FansLike
0FollowersFollow
0SubscribersSubscribe
- Advertisement -spot_img

Latest Articles