Reconduzido ao cargo na semana passada depois de renunciar, o primeiro-ministro da França, Sébastien Lecornu, sobreviveu a uma primeira moção de censura nesta quinta (16), na Assembleia Nacional.
Votaram a favor da censura 271 deputados. Para a aprovação da censura, eram necessários pelo menos 289 votos, maioria absoluta dos 577 deputados com mandato em vigor.
Uma segunda moção seria apreciada ainda nesta quinta, mas segundo analistas o resultado deve ser semelhante ao da primeira.
Moções de censura contra Lecornu haviam sido propostas na segunda-feira (13) pelos dois extremos do plenário da Assembleia Nacional: à esquerda, A França Insubmissa (LFI); à direita, Reunião Nacional (RN). Ambos pedem a dissolução do parlamento e a convocação de novas eleições legislativas, ou até a renúncia do presidente Emmanuel Macron.
Na terça (14) e na quarta (15), Lecornu apresentou sua proposta orçamentária na Assembleia e no Senado, prevendo fortes medidas de austeridade. Porém, a medida mais chamativa aumenta os gastos públicos: o congelamento da reforma das aposentadorias, promulgada em 2023 e extremamente impopular.
A reforma prevê o aumento progressivo da idade para aposentar-se, dos 62 para os 64 anos. Lecornu prometeu suspender essa progressão até 2027, ano da próxima eleição presidencial. Também se comprometeu a não aprovar o orçamento sem debate no parlamento.
O anúncio levou o Partido Socialista, de esquerda moderada, a decidir não apoiar nenhuma moção de censura por enquanto. Porém, pelo menos seis dos 69 deputados da bancada do PS afirmaram que não respeitariam a diretriz do partido.
A esquerda mais radical defende a revogação total da reforma das aposentadorias e a adoção de uma taxa de 2% sobre o patrimônio dos mais ricos, conhecida como “taxa Zucman”, do nome do economista Gabriel Zucman, autor da proposta.
A concessão feita por Lecornu nas aposentadorias é um sintoma do enfraquecimento do presidente Emmanuel Macron, impedido pela Constituição de concorrer a um terceiro mandato. Poucos meses atrás, Macron dizia que a reforma era intocável, por considerá-la indispensável ao equilíbrio do sistema previdenciário no longo prazo.
O principal partido da direita tradicional, Republicanos, criticou a suspensão anunciada por Lecornu. Porém, orientou seus deputados a não apoiarem a censura, por terem seis ministros no novo gabinete.
A decisão dos Republicanos foi duramente criticada por Marine Le Pen, da ultradireitista Reunião Nacional: “Os republicanos não se venderam a Macron: se deram”, afirmou.
Apesar de líder nas pesquisas para a eleição presidencial de 2027, ela está inelegível no momento, condenada em um processo por desvio de verbas destinadas a assessores do partido no Parlamento Europeu.
Na quarta (15), Le Pen sofreu um revés no Conselho de Estado, onde tentava suspender sua pena pelo menos até o julgamento de seu recurso, marcado para janeiro. O Conselho decidiu manter a inelegibilidade da deputada.