Duas portinhas de garagem com mesas simples, um bar ao fundo e uma pequena cozinha atrás. Quem se depara com este cenário pela primeira vez não faz ideia da experiência gastronômica que pode ter no Lardo.
No caso desta crítica, foram muitas visitas. Sempre muito prazerosas. Se antes a aposta era em pratos mais inventivos, agora o cardápio busca receitas clássicas, mas com toques que surpreendem. Capazes de atrair tanto quem gosta de provar coisas novas quanto quem prefere se aconchegar num bom comfort food.
Na última visita, num domingo à tarde, começamos com a porção de pastéis (R$ 34). O recheio, de queijo de ovelha e finas tiras de alho-poró, é leve e saboroso. São só três, mas valem a pena. Não deixe de provar com o chutney de cebola que acompanha. Se sobrar, peça para manter na mesa porque ele vai bem com quase tudo.
O frango frito é oferecido em duas versões. Uma com crème fraîche (à base de leite) e ovas de capelin (R$ 34 duas unidades). A outra, com sobrecoxas desossadas e empanadas no fubá (R$ 34, quatro unidades), que chegam sequinhas e crocantes de um jeito que deixa difícil resistir à viciante sequência de “crocs”.
De principal, a pescada-amarela (R$ 78) vem sob molho de vatapá, com saladinha de ervas, vinagrete de limão tostado e pimenta-de-cheiro. Um prato bonito, singelo, gostoso. Mas pequeno. Poderia vir com uma porção de arroz para satisfazer os mais gulosos.
Mais bem servido é o paprika schnitzel (R$ 74). Outra carne empanada até poderia ser demais. Mas não foi. O porco estava envolto por uma casquinha de farinha de pão e queijo grana, o que resultou em sabores mais complexos e uma textura mais granulada. O picles de pepino trouxe acidez. E a saladinha de batata, um certo frescor.
O cheesecake basco de banana (R$ 34) com calda de doce de leite e café estava dourado por fora, sedoso por dentro. Foi uma tríade de sabores que combinou bem.
Anexo ao cardápio ficam os especiais do dia, que costumam acabar cedo. O steak tataki (R$ 78) é feito com carne crua de angus, missô, batata frita com pó de cogumelo e maionese de ovo mollet. E o noodle (R$ 74) leva macarrão sobá fresco, dashi (caldo rico em umami), magret de pato e bok choy (acelga chinesa).
São pratos em que dá para notar mais facilmente os toques do chef Toshi Gushikem, que assumiu a cozinha há seis meses. Com passagens por restaurantes como Aizomê e Corrutela e um estágio no MAZ Tokyo, a estrelada casa do peruano Virgilio Martínez no Japão, Gushikem trabalha com elementos das culinárias latina e oriental.
É importante ir sabendo o que esperar. Algumas entradas chegam sem prato de apoio, o atendimento poderia ser mais atencioso, e a pequena cozinha, que encerra antes do horário divulgado nas redes, tem um ritmo próprio. Aproveite enquanto espera para provar os ótimos drinques.
Não é possível fazer reserva e a casa atende por ordem de chegada. Quando não há mais lugar nos pequenos salões, a espera avança da calçada para um pedacinho da rua. Por outro lado, o lugar tem o charme de também ser um sebo.
Com pratos criativos, consistentes e de preços justos, comer no Lardo é daquelas experiências para fazer antes que o lugar entre, merecidamente, para os endereços mais badalados da cidade.