Agentes federais usaram gás lacrimogêneo contra moradores de Chicago e mais de uma dúzia de policiais na terça-feira (14), no mais recente confronto na terceira maior cidade do país enquanto o governo de Donald Trump vem reprimindo a imigração.
O confronto começou na terça de manhã, quando testemunhas viram agentes federais perseguindo um carro em um bairro de classe trabalhadora, predominantemente latino, na zona sul da cidade.
Um SUV dirigido pelos agentes colidiu com o carro que perseguiam, informou o Departamento de Polícia de Chicago, fazendo com que batesse em outro veículo estacionado nas proximidades.
Após o acidente, dezenas de agentes de imigração com máscaras chegaram, e os moradores saíram de suas casas, reunindo-se nas ruas e calçadas, atirando objetos e gritando: “ICE, vá embora!”
Quando os agentes saíram, liberaram gás lacrimogêneo, aparentemente sem aviso, fazendo com que as pessoas tossissem e corressem para se proteger. Entre os afetados estavam 13 policiais do Departamento de Polícia de Chicago, e pelo menos um agente foi visto lavando os olhos com água da mangueira de jardim de um vizinho.
Um porta-voz do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) disse que os agentes federais estavam conduzindo uma operação para fiscalizar imigrantes quando duas pessoas tentaram fugir e atingiram o veículo deles.
“Este incidente não é isolado e reflete uma tendência crescente e perigosa de imigrantes ilegais resistindo violentamente à prisão, e agitadores e criminosos batendo seus carros contra os dos nossos agentes”, disse o DHS em comunicado. A nota afirma que os agentes federais usaram “medidas de controle de multidão” depois que um grupo de pessoas se reuniu e se tornou hostil às autoridades.
Foi um dos muitos episódios turbulentos que eclodiram em Chicago nos últimos dias. Agentes federais do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE, na sigla em inglês) e da Patrulha de Fronteira têm circulado pela cidade e subúrbios fazendo prisões, abordando com frequência pessoas que caminham pelas calçadas, parando-as e fazendo interrogatórios.
Os agentes têm sido flagrados atirando bombas de fumaça, gás lacrimogêneo e de pimenta para dispersar moradores que se reúnem ou fazem vídeos em celulares, inclusive quando os agentes conduzem prisões em bairros densamente povoados. Policiais de Chicago, que foram chamados aos locais de alguns dos confrontos, foram expostos ao gás lacrimogêneo duas vezes nas últimas duas semanas.
À medida que a intensidade da repressão à imigração do governo Trump aumentou, os moradores de Chicago estão cada vez mais reagindo com fúria.
Nas últimas semanas, moradores formaram grupos voluntários para monitorar seus bairros em busca de agentes federais de imigração, postando alertas nas redes sociais e em aplicativos de mensagens quando agentes são avistados.
Se agentes são vistos na rua, motoristas buzinam como alerta e, às vezes, os perseguem. No último fim de semana, em toda a cidade, duplas de voluntários foram vistos com apitos laranja, soprando os objetos ao primeiro sinal de agentes de imigração.
Morador de Chicago, Chris Molitor, posicionou-se em uma esquina na zona norte da cidade, na terça, segurando um cartaz denunciando o presidente Donald Trump e vestindo uma camiseta crítica ao ICE.
“Estamos vendo vídeos de pessoas sendo abusadas”, disse Molitor, 64, que trabalha em hotelaria, acenando na direção de um restaurante de tacos cujos proprietários foram interrogados pelo ICE. “Tem de haver algum tipo de reação.”
No mês passado, Andre Vasquez, membro do conselho que preside o Comitê de Direitos dos Imigrantes e Refugiados de Chicago, patrocinou uma “oficina de defesa comunitária” para informar os moradores sobre seus direitos e ajudá-los a se organizar politicamente.
“Chicago estava indo muito bem, e então esses caras apareceram”, disse Vasquez sobre os agentes federais de imigração. “Há grande preocupação sobre o que esses homens não identificados e mascarados estão fazendo nesta cidade sem prestar contas. Os moradores de Chicago estão apenas tentando viver suas vidas. Não vamos tolerar autoritarismo inconstitucional.”
Testemunhas postaram vídeos de prisões que parecem não ter relação com violações da lei de imigração.
Debbie Brockman, funcionária da emissora de TV WGN, foi imobilizada no chão e presa por agentes da Patrulha de Fronteira na sexta enquanto caminhava para um ponto de ônibus. Um oficial disse que ela havia atirado um objeto contra agentes. O advogado de Brockman chamou a prisão de ataque. A mulher foi liberada sem acusações.
Yarelly Jimenez, 21, moradora do bairro East Side de Chicago, disse que as prisões de imigração têm sido o assunto do bairro e entre sua família.
Jimenez e outros dois estavam gravando agentes federais em uma farmácia Walgreens na terça e saíram apressadamente da loja para se afastar deles, disse ela. Dentro do estabelecimento, os clientes gritavam com os agentes federais, mostram vídeos feitos por testemunhas. “Americanos de verdade não querem vocês aqui!”, disse um homem.
Um agente agarrou um dos companheiros de Jimenez, Warren King, 19, quando ele saía, perguntando por que ele estava correndo e imobilizando-o no chão. Não estava claro do que King era acusado, e autoridades do DHS não disseram, em um primeiro momento, o motivo da prisão.
Um vídeo feito por outra testemunha e postado nas redes sociais capturou Jimenez gritando com o agente em pânico. “Ele é cidadão!”