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A solidão dos progressistas – 16/10/2025 – Maria Hermínia Tavares

Todos quantos tenham nas redes sociais sua principal fonte de informação podem imaginar estar vivendo em um país dilacerado por irreconciliável conflito político.

Na verdade, este Brasil dominado pela polarização é habitado por apenas 10% dos cidadãos —metade à esquerda e metade na extrema direita. Ali se movem os que alimentam as bolhas de engajados no universo virtual e aqueles que saem às ruas, chova ou faça sol, pedindo anistia para Bolsonaro e golpistas do 8/1 ou para contra ela vociferar.

Eis o que emerge da pesquisa de opinião patrocinada pelo braço brasileiro da ONG More in Common intitulada “O papel dos invisíveis na divisão política do Brasil”.

A sondagem evidencia que a população pode ser enquadradada em seis segmentos com significativa consistência de opiniões políticas sobre diferentes assuntos. Numa ponta estão os 5% que os pesquisadores denominaram “progressistas militantes”; na outra, 6% formam o grupo dos “patriotas indignados”. A eles se seguem, respectivamente, os que se agrupam ou na “esquerda tradicional” ou entre os “conservadores tradicionais”. Entre uns e outros, 54% dos brasileiros são os “invisíveis”, ausentes das narrativas sobre o país polarizado.

Por não se encaixarem nas costumeiras classificações políticas, os autores os denominam “desengajados” e “cautelosos”. No entanto, conforme sua renda e escolaridade, suas opiniões estão mais próximas dos “conservadores tradicionais”.

Os “progressistas militantes” são mais ricos, mais educados, mais brancos e menos religiosos que todos os situados nos outros grupos. De forma atenuada, a “esquerda tradicional” apresenta características aparentadas. Somados, os dois grupos não chegam a 20% da população e dela se diferenciam pela renda, nível educacional e cor da pele.

Não por acaso, aquela foi aproximadamente a porcentagem de votos válidos obtidos em 2022 pelos partidos de esquerda para a Câmara dos Deputados.

A esquerda brasileira não é uma exceção. O economista francês Thomas Piketty encontrou entre seus conterrâneos a mesma relação entre alta escolaridade e votação nos socialistas, o que o levou a cunhar a expressão “esquerda brâmane” e a apontar a crescente distância entre partidos progressistas e os trabalhadores. Da mesma forma, para não poucos analistas o mesmo processo parece ameaçar o Partido Democrata, nos Estados Unidos.

No Brasil, a existência de uma liderança popular da envergadura do presidente Lula compensou de alguma forma o isolamento social e a fraqueza eleitoral das esquerdas. Muito maior do que a sua base partidária e sempre disposto a incluir a direita pragmática no seu governo de coalizão, Lula permitiu que o progressismo, embora minoria, ascendesse ao governo. Sua origem, trajetória e intuição política fizeram o milagre.

Talvez as próximas eleições venham a ser a última vez em que isso se repita. As esquerdas terão de encontrar o caminho que as leve à maioria dos eleitores ou amargarão inevitável isolamento.


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