França, Alemanha e Estados Unidos condenaram nesta quarta-feira (15) os assassinatos cometidos pelo Hamas na Faixa de Gaza nos últimos dias —desde o início do cessar-fogo, na semana passada, o grupo terrorista avança sobre as regiões desocupadas pelo Exército de Israel na tentativa de retomar o controle do território palestino.
“Os incidentes armados que ocorreram nos últimos dias são especialmente preocupantes”, afirmou afirmou o Ministério das Relações Exteriores francês. Já um porta-voz da chancelaria alemã disse que as ações constituem atos de terror contra a população.
Washington, por sua vez, instou a facção a interromper a violência. O almirante Brad Cooper, chefe do Comando Central dos EUA, pediu que o Hamas aproveitasse a “oportunidade histórica para a paz” e “aderir estritamente ao plano de paz de 20 pontos do presidente Trump e desarmar-se sem demora”.
“Transmitimos nossas preocupações aos mediadores que concordaram em trabalhar conosco para fazer cumprir a paz e proteger os civis”, acrescentou o militar.
Com a retirada de Israel de 47% de Gaza, os conflitos internos entre o Hamas e outros grupos armados que atuam no território palestino emergiram, reeditando as cenas de violência vindas da região nos últimos dois anos de guerra.
Uma das mais brutais foi divulgada pela TV do Hamas no Telegram e mostra o assassinato de sete pessoas em uma rua da Cidade de Gaza. Em uma clara demonstração do retorno do grupo, os combatentes arrastam homens acusados de colaborarem com Israel, forçam-nos a se ajoelhar e atiraram neles pelas costas.
Antes disso, no domingo (12), o Ministério do Interior de Gaza já havia afirmado que confrontos entre o Hamas e outro grupo armado haviam matado ao menos 27 pessoas, incluindo oito membros da facção que controlava o território até o início do conflito, nos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023 no sul de Israel.
As principais facções que operam no território com exceção do Hamas, atualmente enfraquecido por dois anos de combates, são Abu Shabab, Doghmosh, Al-Majayda e Rami Hellis. O líder do primeiro, Yasser Abu Shabab, é um dos mais proeminentes de Gaza.
Ele opera em uma parte do sul de Gaza ainda ocupada pelas forças israelenses e nega colaborar com Tel Aviv, como acusa o Hamas. De acordo com uma pessoa próxima a Abu Shabab que falou com a agência de notícias Reuters, o grupo recrutou centenas de combatentes oferecendo salários atrativos.
A declaração dos EUA nesta quarta parece contradizer o que o presidente americano e principal fiador do acordo de cessar-fogo, Donald Trump, havia afirmado sobre as ações da facção na terça (13). Questionado por repórteres, o republicano afirmou que o Hamas havia matado “vários membros de gangues”, o que, segundo ele, não o incomodava.
“Eles querem acabar com os problemas e têm sido abertos sobre isso, e nós lhes demos aprovação por um período de tempo”, disse Trump. “Temos quase 2 milhões de pessoas voltando para prédios que foram demolidos, e muitas coisas ruins podem acontecer. Então, queremos que seja seguro. Acho que vai ficar tudo bem. Quem sabe com certeza?”
As ações do grupo mostram a fragilidade do cessar-fogo assinado pelo presidente americano na última segunda, no Egito. O documento previa anistia para todos os membros do Hamas que entregassem suas armas e a criação de uma “governança transitória temporária de um comitê palestino tecnocrático e apolítico” para gerir o território palestino.
Os dois pontos sempre foram alguns dos principais pontos de discordância que impediram outras tréguas —o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, falou por dois anos que o objetivo da guerra era aniquilar o Hamas, que por sua vez sempre se negou a depor as armas sem a garantia de um Estado palestino.
Agora, a facção, que segue sem se comprometer publicamente a ceder o poder, gradualmente envia seus homens de volta às ruas de Gaza desde que o cessar-fogo começou, na sexta-feira (10).