Caminhões de ajuda humanitária entraram na Faixa de Gaza nesta quarta-feira (15), e Israel parece ter retomado os preparativos para reabrir a passagem de Rafah, no sul do território, após uma disputa sobre a devolução de corpos de reféns mortos ameaçar o frágil cessar-fogo com o grupo terrorista Hamas.
Tel Aviv havia suspendido a reabertura da fronteira e ameaçado reduzir o envio de suprimentos, acusando o Hamas de não cumprir sua parte do acordo de trégua e protelar a entrega dos corpos dos reféns.
Após a pressão israelense, a facção criminosa devolveu mais quatro corpos nesta madrugada, mas apenas três são de reféns mortos. Um deles, segundo as Forças Armadas, é de um palestino, e os outros foram identificados como Tamir Nimrodi, 18, Uriel Baruch, 35, e Eitan Levy, 53.
A emissora pública Kan afirmou que Israel reabrirá a passagem fronteiriça de Rafah e que cerca de 600 caminhões de ajuda devem entrar no território, como previsto no acordo de cessar-fogo.
Imagens obtidas pela agência Reuters mostraram caminhões cruzando do Egito para Rafah na manhã desta quarta, carregados com combustível e suprimentos. Ainda não está claro se todo o comboio conseguiu atravessar.
Tel Aviv afirmou que a ajuda também chega por outros pontos, como a passagem de Kerem Shalom, no sul de Gaza, após inspeções de segurança. Na Cidade de Gaza, capital e maior centro urbano do território, o poder local deu início à limpeza dos escombros.
Rafah deve ser reaberta também para a saída de palestinos do território, mas pacientes que aguardam evacuação médica afirmaram à Reuters que ainda não receberam aviso da OMS (Organização Mundial da Saúde) para viajar.
O ministro da Segurança Nacional de Israel, o extremista Itamar Ben-Gvir, criticou a entrega de ajuda em um post no X e pediu: “Chega de desonra”. “O terrorismo nazista entende apenas a força”, escreveu ele, que é crítico do cessar-fogo.
O acordo também obriga Israel a devolver os corpos de 360 palestinos mortos. Na terça, Tel Aviv devolveu os restos mortais de 45 pessoas —acredita-se que uma parte seja de membros do Hamas que participaram dos ataques do 7 de Outubro, mas outros não têm origem completamente explicada.
Enquanto isso, o Hamas intensificou uma ofensiva interna na tentativa de retomar o controle do território palestino. A ação tem rendido cenas brutais, que incluem execuções públicas para reprimir clãs locais que tentaram tomar parte do território durante o conflito.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, condenou os assassinatos que foram registrados em vídeo e divulgadas pelo Hamas, classificando-as como “crime e violação flagrante dos direitos humanos”.
A entidade também afirmou nesta quarta que está “pronta para operar a passagem de Rafah”. A Autoridade Palestina, que tem apoio de países árabes da região, espera ter um papel significativo na gestão do território pós-guerra.
Embora o desarmamento do Hamas seja uma exigência da trégua —algo que a facção se nega a fazer sem a garantia da criação de um Estado palestino—, os Estados Unidos, um dos principais mediadores do acordo, parecem ter autorizado o grupo a policiar temporariamente o território.
Questionado por um jornalista na segunda sobre os relatos de que o Hamas estava agindo para derrotar rivais em Gaza, o presidente americano, Donald Trump, afirmou que o grupo agia dentro dos parâmetros do acordo.
“Eles querem acabar com os problemas e têm sido abertos sobre isso, e nós lhes demos aprovação por um período de tempo”, disse Trump. “Temos quase 2 milhões de pessoas voltando para prédios que foram demolidos, e muitas coisas ruins podem acontecer. Então, queremos que seja seguro. Acho que vai ficar tudo bem. Quem sabe com certeza?”