11.2 C
Nova Iorque
quinta-feira, outubro 16, 2025
No menu items!

Buy now

spot_img
No menu items!

EUA: Protestos de sábado vão ocorrer sob maior tensão – 15/10/2025 – Lúcia Guimarães

Milhões de americanos devem ir às ruas no segundo protesto “No Kings” (sem reis) marcado para sábado (18). O primeiro “No Kings”, com adesão de dezenas de países, em junho, foi talvez a maior manifestação num só dia da história dos Estados Unidos, com mais de 5 milhões de participantes.

Nos quatro meses que separam os atos públicos contra o acúmulo de poder nesta Presidência, o aumento da tensão política e a ocupação militar em cidades de maioria democrata sugerem a chance real de incidentes violentos, a despeito dos apelos à calma feitos pelos grupos de direitos civis que organizam o movimento.

Os principais porta-vozes republicanos, seja no gabinete ou no Congresso, estão fazendo sua parte para subir a temperatura, rotulando os protestos de extremistas, comunistas e simpatizantes de terrorismo.

Durante os protestos antirracistas de 2020, Donald Trump foi convencido por assessores a não invocar a Lei da Insurreição, datada de 1807, que dá ao presidente o direito de convocar tropas em situações específicas para restabelecer a ordem civil ou combater rebeliões armadas. Desta vez, é parte do entorno de Trump que alimenta seu desejo de invocar a lei e usar o protesto “No Kings” como desculpa.

O vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Stephen Miller, emerge como o mais influente defensor da pressa em esmagar a dissidência. É raro uma pessoa neste cargo acumular tanto poder no Executivo. Miller não só comanda e coordena a agenda anti-imigração como, de acordo com fontes anônimas, suplantou o poder do secretário de Estado, Marco Rubio, na campanha de ataques a barcos e assassinatos próximos à costa da Venezuela.

No início do mês, Miller escreveu no X que o “terrorismo de esquerda” está avançando no país, “bem-organizado e financiado” e com a proteção de “juízes e promotores de ultraesquerda”. Assim, disse o assessor, o Estado deve usar o “poder legítimo” de desmantelar “redes de terrorismo.” O uso da palavra “redes” não é coincidência, é sinalização.

É mais fácil encontrar uma flor de cacto crescendo num iceberg do que magistrados de ultraesquerda na Justiça federal americana. Alguns dos juízes que atraem o rancor de Stephen Miller são conservadores indicados pelo seu chefe.

A Lei da Insurreição foi invocada durante a Guerra Civil e na década de 1960 para implantar o fim da segregação racial. Foi aplicada pela última vez durante os protestos antirracismo de Los Angeles, em 1992, que deixaram um saldo de 63 mortos e milhares de feridos.

A versão repetida hoje com disciplina por aliados do presidente caracteriza cidades como Chicago e Portland como devastadas por crime e desordem, contrariando o que registram as câmeras de celulares. De novo, nenhuma coincidência.

O protesto pacífico, ao longo da história, foi mais eficaz na democratização de regimes autoritários. Sociólogos citam a chamada regra dos 3,5%, originada pela cientista política Erica Chenoweth, que estudou centenas de movimentos de resistência civil. Chenoweth concluiu que mudanças políticas podem ocorrer se pelo menos 3,5% da população de um país oferecer resistência civil não violenta.

Os últimos nove meses transformaram a vida nos EUA numa velocidade vertiginosa. É cedo para lançar mão de teses acadêmicas na previsão do realinhamento do poder político.


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Related Articles

Stay Connected

0FansLike
0FollowersFollow
0SubscribersSubscribe
- Advertisement -spot_img

Latest Articles