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Cineasta faz série sobre Collor inspirado na infância – 15/10/2025 – Poder

O convívio com sobrinhos de Fernando Collor de Mello na década de 1990 fez o cineasta carioca Charly Braun se dedicar à produção que, após uma década, chega ao Globoplay, nesta quinta-feira (16), como série documental a respeito da ascensão e queda do ex-presidente, atualmente em prisão domiciliar.

Collor marcou a história política do país ao confiscar a poupança dos brasileiros um dia após tomar posse, em março de 1990, e sofrer impeachment dois anos depois em razão de denúncia de corrupção feita por um de seus irmãos, Pedro Collor de Mello.

O racha familiar foi acompanhado por Braun, na época com cerca de 10 anos, a partir das frustrações e bullying sofridos pelos filhos de Leopoldo, irmão mais velho do ex-presidente.

O convívio com parte dos familiares ajudou o cineasta a pensar a obra, intitulada “Caçador de Marajás”, a partir de “um lugar muito específico e íntimo”, afirma Braun. A relação se deu em razão da proximidade de sua família —ele é filho do empresário Martin Braun e da arquiteta Rosa May Sampaio— com Leopoldo e a esposa, Regina.

“Fui uma testemunha meio estranha daquilo, porque era criança, mas acompanhei essa ascensão e queda tão dramática pelo olhar dessas crianças também, que eram os meus amigos”.

Segundo Braun, o impeachment respingou nas crianças, que enfrentaram ambiente de tensão e bullying na época em razão do sobrenome.

“Mesmo sendo criança, essa história ficou marcada em mim, pela relação que eu tinha com eles. Eu não vivi tudo nem conheci o Fernando Collor nessa época, mas ele era o tio dos meus colegas”.

O diretor diz ter mesclado percepções sobre esse espaço íntimo à reflexão política sobre um dos personagens mais intrigantes da história brasileira.

“Se a gente pegar desde 1990, acho que não teve, além de Lula e Bolsonaro, nenhum outro político fora o Collor que tenha apaixonado o país”.

O documentário é dividido em sete episódios com cerca de 40 minutos. Para compô-lo, foram mais de 70 entrevistas e viagens a Brasília, Alagoas —onde Collor foi governador, deputado e prefeito antes de chegar à Presidência—, Rio de Janeiro, São Paulo e Maranhão.

Foram entrevistados ex-presidentes como José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, jornalistas que cobriram a queda de Collor, como o ex-diretor de redação da revista Veja Mario Sergio Conti, Thereza Collor, então esposa de Pedro Collor, e Eriberto França, motorista que mostrou o que seriam provas do envolvimento de Fernando Collor com o esquema de corrupção de seu tesoureiro de campanha, PC Farias.

A série conta, ainda, com registro de arquivos da época vindo de jornais como a Folha e a TV Globo, além de dramatização. A obra é a primeira de não ficção de Braun, que já ganhou prêmio como diretor com “Além da Estrada”, longa-metragem de 2010.

Para o cineasta, “Caçador de Marajás” é importante ao permitir ao espectador pensar em um passado recente que revela dinâmicas ainda presentes na política nacional, como a postura de outsider adotada por personagens com experiência na política.

Esse foi o caso de Collor, que se lançou à Presidência em 1989 assumindo o discurso da antipolítica, a favor da moralidade e contra funcionários públicos com salários exorbitantes, os quais chamou de marajás.

Apesar de se vender como outsider, ele vinha de família já envolvida na política antes de sua eleição. O pai, Arnon de Mello, foi deputado federal, senador e governador de Alagoas.

Da mesma forma, o discurso de outsider foi usado por Jair Bolsonaro (PL) para se lançar à Presidência em 2018, mesmo tendo atuado por quase 30 anos no Legislativo.

Segundo Braun, a obra é um convite para que, com o distanciamento natural vindo da análise de um episódio do século passado, o espectador possa fazer paralelos mais críticos e “menos apaixonados” sobre a política, que teve no presidente Lula (PT), Bolsonaro e Collor as figuras que mais mobilizaram os brasileiros no período pós-ditadura militar, na interpretação do cineasta.

“Acho que os três representaram, para uma parcela da população, essa ideia de salvador da pátria. Acho que tem um pouco isso. Talvez eles tenham se colocado assim, cada um à sua maneira”.

Os personagens também exemplificam cenário frequente em países da América do Sul, no qual ao menos 20 ex-presidentes já foram presos neste século. Para especialistas, o quadro indica uma Justiça mais eficiente na região, mas também possível politização do Judiciário.

Enquanto Collor, que voltou ao universo político como senador depois do impeachment de 1992, foi preso por corrupção em processo derivado da Operação Lava Jato, Lula foi preso em 2018 por lavagem de dinheiro e corrupção em processo que o condenou a mais de 12 anos de prisão. Ele foi solto após um ano e sete meses detido em Curitiba, e suas sentenças posteriormente anuladas porque o STF (Supremo Tribunal Federal) considerou que Sergio Moro, juiz das ações, agiu com parcialidade e que os casos deveriam ter tramitado no Distrito Federal, não no Paraná.

Já o ex-presidente Bolsonaro está atualmente em prisão domiciliar por tentativa de obstruir a ação penal que o condenou a 27 anos e 3 meses de prisão por liderar uma trama golpista em 2022.

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