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São Paulo Fashion Week abre com desfile em trem – 14/10/2025 – Ilustrada

João Pimenta se deu um desafio —criar uma coleção mais leve e arejada para fugir da sua costura habitual, mais sisuda, fechada. E ele atingiu o objetivo. Seu desfile nesta segunda-feira, que abriu a São Paulo Fashion Week com uma apresentação na Biblioteca Mário de Andrade, teve muito mais cor do que a tradicional cartela de neutros que costuma levar à passarela.

Teve também pernas, peitos e barriguinhas saradas à mostra, numa coleção propositadamente mais sensual, segundo o estilista. Blusas transparentes coladas no corpo, casacos fluidos sem forro, calças amplas de alfaiataria e shorts acima do joelho apareceram combinados com sandálias e chinelos de borracha, num estilo noite de verão classuda.

Pela fluidez do caimento e pelas amarrações nas peças, parecia haver um toque japonês na construção das roupas. Mas Pimenta, referência no vestuário masculino autoral, substituiu o preto dos estilistas nipônicos por brancos, laranjas, verdes e azuis.

“Me questionei o que seria uma alfaiataria brasileira, o que ela deveria ter. Não poderia ser uma roupa quente, é uma roupa pensada para uma pessoa que mora aqui no Brasil”, diz o estilista, acrescentando que desta vez não havia uma historinha nem personagens para amarrar o desfile, e sim produtos. “Tenho feito um exercício de trazer a realidade para as minhas criações —onde a pessoa vai com essa roupa.”

Gloria Coelho também parece ter em mente quem veste seus desenhos. O desfile de comemoração dos seus 50 anos de moda trouxe looks com alguma ousadia —saias com buracos vazados que deixavam ver o corpo, longos vestidos de tule transparentes com aplicações de flores de tecido—, prontos para irem da arara para o corpo.

Coelho mostrou duas versões de seu trabalho —uma, mais leve, de peças com estampas de flores, e outra, mais urbana, de sua tradicional alfaiataria de cortes geométricos e execução afiada. Destaque para uma jaqueta preta com a frente de couro e as mangas de gabardine de viscose.

Antes de o desfile começar, havia tensão entre os convidados, porque Coelho fez de um trem em movimento a sua passarela. Isto impôs um desafio às modelos, que precisaram se equilibrar —inclusive em saltos—, vestindo modelitos sofisticados, longe dos básicos do dia a dia.

O trem da moda partiu da estação Júlio Prestes, na região central de São Paulo, com as modelos saindo de trás de cortinas instaladas num vagão transformado em camarim, ao som de Suzanne Vega cantando o clássico pop “Luka”. Elas atravessavam todos os vagões e voltavam, e os fashionistas, meio incrédulos, se perguntavam se aquela ideia maluca ia dar certo, se daria para ver as roupas, se alguma delas ia tropeçar.

Não só ninguém caiu como as roupas ganharam um ar de vida real ao serem apresentadas num vagão metropolitano, embora estejam distantes da realidade financeira de quem pega o trem para uma cidade da Grande São Paulo. “Nesta coleção quis celebrar o tempo, a transformação e o movimento. Chegar aos 50 anos não é apenas pensar no que passou, mas continuar a perguntar o que vem depois”, afirma Coelho.

Se a criadora de moda é uma mestre do minimalismo, capaz de pegar um pedaço de tecido liso e transformá-lo numa roupa com poucos cortes precisos, Ronaldo Fraga, que fechou o primeiro dia de São Paulo Fashion Week, talvez seja seu oposto. Diferentemente de Coelho, o mineiro é maximalista —suas peças estilo romaria religiosa explodem em cores, bordados, apliques, retalhos e elementos diversos.

Foi assim com seu desfile em homenagem a Milton Nascimento —que apresentou no Museu da Língua Portuguesa—, composto por peças bordadas por artesãs do projeto Casa Bordada, de Barra Longa, no interior de Minas Gerais. Azuis, verdes, tons dourados e calças com aspecto de quem tinha trabalhado no barro das minas do estado deram as caras, acompanhadas por bolsas estilo fole ou maletas tipo caixeiro-viajante. É uma estética sem paralelos na moda brasileira, mas que às vezes fica com cara de figurino.

“Desenhei esta coleção como se eu pensasse um cortejo de procissão, como se eu desenhasse para anjos no cortejo. A coleção fala de um lugar muito fino entre a tristeza e a alegria”, afirma o estilista, acrescentando que a mistura de religiões também foi uma inspiração para a temporada. É também uma seleção de peças “sem amarras, sobre o sentimento de ser mineiro”.

Fraga entende o desfile como uma performance e constrói um universo. Nas paredes foram projetados os desenhos que ele fez para as roupas, parte da trilha sonora era ao vivo e os modelos entraram todos juntos, como um exército, para só depois desfilarem individualmente. Eles tinham luzes de neon acopladas à cabeça, o que lembra vagamente as montanhas de Minas Gerais —e, sobretudo, gera boas imagens.

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