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Israel deve tomar Gaza, diz irmão de vítima do Hamas – 14/10/2025 – Mônica Bergamo

No dia em que Donald Trump discursava no parlamento de Israel anunciando o fim da guerra na Faixa de Gaza, o israelense Rudy Glazer, 38, ia ao cemitério com o pai e cinco irmãos para ler salmos e orações junto ao túmulo de seu irmão, Ranani, morto aos 24 anos pelo Hamas no ataque de 7 de outubro de 2023.

Era o dia do aniversário de Ranani, que faria 26 anos na segunda (13).

Rudy diz que o irmão está “junto com a gente a todo o instante”. Afirma que, apesar do anúncio do presidente dos EUA, ainda “não foi feito [em Gaza] o suficiente para devolver àqueles que fizeram o que fizeram o que eles merecem”. E afirma que Israel deveria “tomar a terra inteira” dos palestinos.

“A população lá [em Gaza] é doutrinada para odiar a gente”, afirma. “O povo lá é Hamas. O Hamas é o povo, e esse tipo de gente não tem que viver ao nosso lado. Esse tipo de gente tem que viver longe daqui”, afirmou ele à coluna logo depois da assinatura do acordo de paz.

ACORDO DE PAZ

Como vocês receberam a notícia de que há um acordo firmado para a paz entre Israel e o Hamas?

É um turbilhão de emoções, que a gente já vive há mais de dois anos. Não é nada fácil perder um ente querido, principalmente dessa forma, no auge da vida.

Como fazemos desde então, começamos o dia [de hoje] com nossos pensamentos e orações voltados aos reféns que ainda estavam lá [em Gaza]. E que hoje, graças a Deus, foram libertados, em boa hora.

Ao mesmo tempo, exatamente hoje fizemos o memorial [em homenagem a Ranani]. Todo ano subimos até o cemitério e fazemos orações e salmos para que a alma [dele] se eleve cada vez mais lá em cima.

Fomos a família inteira [o pai e seis irmãos], todos juntos para tentar ao máximo darmos força uns para os outros para podermos continuar. Porque a gente sabe que, no fim das contas, o corpo tem validade, mas a alma não tem validade. Ela continua em outros planos e sabemos que ele está junto com a gente a todo instante, desde o dia em que partiu.

E hoje estamos muito felizes pela volta dos nossos reféns. Mas ainda com um pouco de gosto de que ainda não foi feito o suficiente por aqueles [israelenses] que se foram. Temos muito trabalho ainda para fazer na Faixa de Gaza.

Que trabalho?

Ainda não foi feito o suficiente para devolver àqueles que fizeram o que fizeram [os terroristas do Hamas] o que eles merecem.

O passo mais urgente foi dado, de os reféns estarem aqui [de volta a Israel].

A gente espera que os próximos passos também sejam tomados. Que venha a vitória e que aqueles que retiraram a vida de tantos reféns dessa forma tão brutal recebam aquilo que merecem.

E o que teria que ser feito?

Um inimigo com quem convivemos há anos, desde que o povo de Israel voltou para a sua terra, só entende uma palavra. Só uma coisa dói para ele, que é a terra. Se você não tira a terra dele, ele não sente nada.

Você pode matar 70, 80, 90, um milhão [de pessoas]. Não vai fazer diferença.

Ele só vai entender e só vai pensar duas vezes antes de fazer isso [ataque terrorista] de novo se você tirar a terra dele. É a única coisa que vale para eles.

Então eu espero que a gente consiga [isso] de uma forma ou de outra.

Acho muito difícil [que tal fato ocorra] depois de o Trump ter vindo aqui falar o que falou [que a guerra acabou]. Mas a gente espera e tem fé em Deus porque a justiça tem que ser feita.



“A população lá [em Gaza] é doutrinada para odiar a gente. Não teve uma pessoa [entre os palestinos] que veio devolver algum refém, que teve pena de algum refém, que deu comida para algum refém”

TOMAR A TERRA

Você acha que Israel deveria ficar com as terras de Gaza?

[Deveria] Tomar boa parte. Israel foi pra essa guerra com três objetivos, né? Um deles era trazer de volta os reféns.

O segundo era o de que o Hamas não continue sendo uma força bélica e governamental em Gaza. E a terceira é que a Faixa de Gaza não seja mais uma ameaça para os cidadãos de Israel.

Ou seja, só um deles foi conquistado até o momento. As outras [coisas] deveriam em teoria acontecer agora, com o adiantamento dos procedimentos.

O Hamas já declarou que não vai largar as armas de modo algum. Ou seja, só há duas opções: ou tira pelo bem, ou pelo mal. E é exatamente o que a gente quer que aconteça. Que o Hamas não continue mais [governando Gaza].

Não existe nenhum motivo para deixar esse grupo terrorista ainda vivo depois de terem feito o que fizeram naquele dia [7 de outubro de 2023].

Seguimos doloridos e esperando que eles recebam realmente o que precisam receber. A população lá [em Gaza] e doutrinada para odiar a gente. Não teve uma pessoa [entre os palestinos] que veio devolver algum refém, que teve pena de algum refém, que deu comida para algum refém.

O povo lá é Hamas. O Hamas é o povo, e esse tipo de gente não tem que viver ao nosso lado. Esse tipo de gente tem que viver longe daqui.

Então a gente tem que tomar a terra inteira lá [em Gaza]. E aí, sim, eles vão receber o que têm que receber. Aí, sim, vão pensar duas vezes antes de fazer um novo 7 de outubro. É nisso que a gente acredita.



“A gente tem que tomar a terra inteira lá [em Gaza]. E aí, sim, eles vão receber o que têm que receber”

A GUERRA CONTINUA

Mas o Trump fez declarações em outro sentido.

O Trump acredita que a guerra acabou, mas ele não sabe com quem que está tratando. Ele acha que o Hamas realmente vai agora devolver as armas e acabou, [haverá] paz pelo mundo inteiro. Pelo que a gente entende e escuta, o Hamas não pretende sair de lá tão cedo. E muito menos devolver as suas armas, baixar as armas, né?

Você não acredita na solução de dois estados como uma solução duradoura que leve à paz? Com o Hamas depondo armas mediante a criação do Estado da Palestina?

A única solução para que tenhamos algum tipo de paz é eles reconhecerem o nosso direito de viver aqui. E 80% dos palestinos, não apenas de Gaza, mas até dentro de Israel, nos territórios ocupados da Cisjordânia, são a favor do que aconteceu no 7 de outubro. E, com pessoas assim, a gente não tem como viver em paz.

São pessoas que querem a sua destruição dia a dia.

Você não acredita que os dois povos podem um dia se entender?

Somente se eles [palestinos] reconhecerem que o povo de Israel tem o direito de viver dentro do Estado de Israel. Mas isso contradiz a cultura deles, os princípios deles.

É a velha frase que a gente conhece, né? Se os palestinos baixarem as armas, teremos paz. Se Israel baixar as armas, a gente morre. É exatamente isso. Sempre foi e sempre será assim.

O Ranani chegou em Israel com quantos anos?

Ele é filho único do segundo casamento do meu pai, Ronen Glazer, com a Tatiana [Rudy é mais velho, filho do primeiro matrimônio].

Quando eles se separaram, o Ranani tinha dois anos e foi morar com ela em Porto Alegre.

Aos 16 anos, ele decidiu vir para Israel e ficar com a gente. Morou com meu pai, que já estava casado pela terceira vez e teve mais quatro filhos. Moraram juntos até o Renani entrar para o Exército.

Ele serviu na Brigada Golani [de infantaria], a mesma que eu servi. Ficou lá por dois anos.

Depois disso, ele foi morar em Tel Aviv. Começou a curtir a vida, a ir para festas e raves. Ele gostava muito de música e queria ser DJ —até que acabou indo para esse festival [da comunidade de Re’im, atacado pelo Hamas] e não conseguiu voltar de lá.

ATAQUE NO QATAR

O acordo que foi assinado em 13 de outubro prevê um cessar-fogo que vai poupar vidas. Você acredita que ele poderia ter sido feito antes?

Eu estava conversando sobre isso hoje com a minha sogra, quando voltamos do memorial [em lembrança a Ranani]. Por que esse acordo não foi feito há um ano?

Eu acho que o que mudou tudo, o que fez a situação virar de cabeça para baixo, foi o ataque [de Israel] no Qatar [em setembro, quando, em ação inédita, o Exército israelense realizou um ataque direcionado contra a alta liderança do Hamas na cidade de Doha].

Os países árabes sentiram que a gente não ia acabar com essa guerra até que os reféns voltassem. Eles começaram a sentir que isso era um osso na garganta deles. Que a gente iria atrás de todo mundo, aonde quer que fosse, independentemente de onde fosse.

Não foi à toa também que Netanyahu pediu desculpas ao Quatar bem no dia em que o presidente Trump apresentou esse novo plano, esse acordo.

Eu acho que esse ataque aos líderes do Hamas poderia ter sido feito antes, um ano atrás, para que os países árabes colocassem mais pressão sobre eles e os reféns fossem liberados.

Houve pressão também sobre o Netanyahu. Diversos países, como França e Inglaterra, reconheceram o Estado Palestino.

Essa parte não influenciou para que ele [Netanyahu] tomasse a decisão de entrar nos acordo. A gente poderia continuar [a guerra], e [portanto] foi algo meio insignificante.

O que importava para a gente, o mais urgente, é que os reféns voltassem. O mundo poderia continuar reconhecendo quem quisesse. No fim das contas, se Israel não é uma parte dentro desse acordo de reconhecimento [do Estado Palestino], ele não é significativo.



“É a velha frase que a gente conhece, né? Se os palestinos baixarem as armas, teremos paz. Se Israel baixar as armas, a gente morre. É exatamente isso. Sempre foi e sempre será assim”

Israel tem uma grande dependência dos EUA. Sem esse apoio, Netanyahu não consegue manter uma guerra dessas proporções. Você não acha, portanto, que se Trump falar ‘vai ter dois estados’, Israel vai ter que aceitar?

Eu acho que o Trump nunca vai falar isso. Outro presidente [dos EUA] talvez tentasse empurrar [um Estado Palestino] garganta abaixo [de Israel]. Mas o Trump não vai fazer nada que seja contra a vontade da maioria do povo.

E o Netanyahu no fim das contas traz a voz do povo. Após o que aconteceu no 7 de outubro, o maior presente que poderia ser dado a esses terroristas é terras e um país para eles. É dar legitimidade a eles. E isso Israel não vai fazer. Não vai dar um prêmio para o terrorismo.

Eles tiveram essa chance até 7 de outubro [de 2023].

DOR E FELICIDADE

Eu queria que você, para finalizar, resumisse, em poucas palavras, o seu sentimento no dia de hoje.

É um sentimento que mistura desapontamento e felicidade pela volta dos reféns. No final das contas, temos 20 irmãos voltando do cativeiro do Hamas. Não foi algo fácil, a gente rezou todos os dias para que isso acontecesse.

É um choque muito forte, de muita tristeza, muito desamparo, muita dor, muita raiva, muita coisa junto. Mas, ao mesmo tempo, é muita felicidade. E não é só a gente: povo inteiro de Israel está sentindo a mesma coisa. Mas é aquele negócio: a gente tem que olhar para a parte cheia do copo, olhar para a frente.

O que aconteceu, aconteceu. Deus sabe. Deus dá a vida, Deus leva. O Ranani está com ele agora. Não tem uma folha que cai sem a permissão Dele. O que aconteceu era para ter acontecido.

Havia milhões de opções e alternativas de coisas que poderiam ter acontecido naquele dia, como ocorreu com outras pessoas que estavam naquela festa [que foi atacada pelo Hamas].

Milhares estavam lá, e sobreviveram. Outros não sobreviveram. Eram decisões de um segundo [que os atacados tomaram para evitar a morte]. Deus sabe o que faz. Temos que pensar que, no fim, Deus está no controle de tudo.

Ele vai dar força para a gente seguir em frente. E um dia, se Deus quiser, a gente vai se encontrar lá e cima, todo mundo junto novamente.

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